quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Olhar pra dentro

Mais um ano. Mais 365 dias se passaram (e estão passando, já que ainda temos poucos dias). Passaram arrependimentos, erros e bobagens. Passaram também muitos acertos, risadas e momentos inesquecíveis. Tenho certeza.
Todo ano é a mesma coisa: decidimos novas (ou antigas) resoluções; queremos que o impossível aconteça, que o extraordinário prevaleça, que o carinho permaneça.
Pedimos saúde, mas não nos preocupamos como deveríamos. Pedimos dinheiro, e queremos que a Mega Sena nos ampare. Pedimos amor e queremos que ele bata na nossa porta. Sucesso sem esforço. Reconhecimento sem trabalho. Paz sem perdão. Felicidade com hora marcada.
As sete ondas têm diferentes formatos (uvas, romãs, pulos, sei lá!) mas, de qualquer maneira, elas deveriam representar o que está dentro de cada um de nós. Se é pra pedir, deveríamos pensar em uma proposta concreta de mudança. Queremos trabalho – mas o que faremos para isso? Queremos um amor de verdade – como o encontraremos? Queremos sucesso, mas que venha como reconhecimento do trabalho. Se queremos a paz, é melhor começar a perdoar. Só assim poderemos reconhecer a felicidade verdadeira em cada risada, em cada encontro...
Devo dizer que saúde e dinheiro estão mais para necessidade do que para pedido. Pense bem. Sem essas duas coisas dificilmente conquistamos qualquer outra. Ou seja, elas estão implícitas em qualquer desejo. Precisamos delas. Deus sabe, Iemanjá sabe, os Santos sabem, os magos também, todas as simpatias sabem... 
Aliás, isso é uma outra coisa: o pedido (ou sua lista de propostas) pode ser dedicado a qualquer “ser maior”, mas ele deve vir de dentro. Sair do seu “eu” mais profundo. Pois é você o único capaz de fazer com que as resoluções sejam positivas. As ondas, as sementes de frutas e a lentilha são, na verdade, representações. Elas só servem como ritual.
Assim, olhar pra dentro é o melhor que devemos fazer nesse fim de 2011. Para que comecemos 2012 sem peso.
Mais do que listas e pedidos, façamos uma análise do que se quer, do que é mais válido na vida, do que realmente vale a pena cultivar e do que é melhor jogar fora. Só assim abriremos espaço em nosso armário para um ano infinitamente melhor.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Tostines

Quando eu era criança não pensei em chegar aos 33. Não que achasse que estaria morta, não é isso. Só não pensei nessa idade. Achava os 30 tão longe de mim. Sempre cheguei até os 22 anos. Só até os 22. Engraçado.
Era com 22 que eu me casaria. Com 22 teria filhos. Com 22 teria um homem para chamar de meu por toda a vida. Com 22 teria uma carreira definida.
Errei feio. Com 22 eu não sabia nada. Namorava alguém com quem tinha certeza que não me casaria. Não pensava em filhos (e morria de medo deles). Não conhecia o tal moço encantado. E a carreira só se firmou depois dos 30 – e ainda busco o mundo ideal. Claro.
A gente não sabe nada. Nunca. Mas temos a imbecil mania de acreditar que sabemos tanto... Quando vemos, nada! Seguimos na vida não sabendo. E tenho a nítida impressão de que chegaremos aos 60, 70, 80 sem saber. Claro que erraremos um pouco menos (espero), mas também, ousaremos bem menos, não? Logo, a equação é mais simples.
Par perfeito, filhos, carreira? Tudo isso faz parte do núcleo de perguntas tipo Tostines (sim, a bolacha). Quando estamos satisfeitos, acreditamos que ainda merecemos mais. Quando estamos insatisfeitos, queremos mudar tudo e nos complicamos. Quando cansados, queremos férias. Quando sem trabalho, queremos trabalhar. Quando em dúvida, terminamos. Quando certos estamos, duvidamos. Um ciclo sem fim.
A menina que fui, não sabia o que desejar. Aquela menina acreditava que o mundo era mais cor de rosa do que é. E aos 33, a menina (que não é mais menina) é mais cética do que deveria e ao mesmo tempo uma das mais românticas que conheço. Talvez por isso duvide tanto, queira tanto e pense tanto.
Sempre me lembro do escritor Richard Bach escrevendo uma carta para si mesmo aos 10 anos de idade dizendo: “Lembra do que você queria? Então, não deu certo!”. Talvez seja isso. Acertar nas escolhas da vida pode não ser fácil, mas lembrando de que não vamos entender (nunca) o que a vida quer nos mostrar... Melhor tentar e encarar, sem se arrepender.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Cedo? Para quem?

O amor é mesmo engraçado. Faz sofrer, faz chorar, faz sorrir... faz com que duvidemos da nossa própria capacidade de sentir de novo e mais uma vez. E aí... às vezes, ele aparece quando você menos espera e abre as portas para uma felicidade infinita. Transforma toda a dor do passado e mostra que pode ser ainda melhor e mais intenso. A partir desse momento, ele vale... E como vale a pena.
Assim foi com eles. Ela passou por boas e mal traçadas histórias. Caiu como muitas de nós, mas se levantou com o humor e a esperança de bem poucas.
Ele escolheu mal, sofreu o que podia, mas não deveria, na mão de uma dessas mulheres cruéis. A parte boa? Esqueceu do trauma. Amadureceu. A dor passou, como tantas coisas passam.
Se conheceram em uma noite improvável. Saíram em uma outra e ela já estava apaixonada. Três dias depois confirmaram o namoro. Cedo? Para quem? Duas pessoas apaixonadas que queriam encarar os sentimentos juntos e sem medo. Assustadoramente, sem nenhum medo.
Depois disso, o amor foi só aumentando. Amor pelos amigos, pelos amigos de quatro patas... amor pelo sentimento que crescia dentro de cada um. Bilhetes no banheiro, mensagens para dizer “eu te amo”, ligações no meio do dia... Tudo estava no pacote chamado felicidade.
Para não deixar o tempo passar mais rápido do que já passa e nem perder a passagem desse bonde (que voa), veio o pedido de casamento. Poucos meses depois. Cedo? Para quem? Afinal, esperar o quê? É “só” oficializar o que já é divino e tão poderoso.
Se o amor deixa marcas, aqui elas são de sorrisos. E quem os conhece sabe bem como sorriem. Claro que discussões virão, claro que pequenos problemas também... mas a vida é cheia disso, não é?
O importante é viver tudo e não ter medo de encarar o que está dentro do pacote. É saber que a felicidade está mesmo lá dentro, basta você tirar o laço! Aqui, eles já tiraram!

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Final feliz

Admiro a coragem no amor. Me encanta ouvir, saber e conviver com quem tem coragem de sofrer e, depois, ainda amar mais e melhor. De novo. Novamente. Cada vez mais.
Assim é a história deles. Ele tentou duas vezes, encarou papeis, assinaturas, festas e tudo o que supostamente deveria para perceber que nada daquilo fazia realmente sentido. Claro que foi por amor, claro que valeu a pena, mas no fundo ainda não era o que buscava. Estava longe de ser.
Ela, como tantas de nós, buscava. Procurava alguém diferente no meio de tantos iguais. Tentava encontrar quem reconhecesse seu valor, sua história, sua singularidade.
Um dia, dançando, os dois tiveram a chance de se ver, falar e falar. Fim da noite em um restaurante, outra noite no cinema e, como tudo o que começa, parecia perfeito. Mal sabiam eles (ainda) que realmente era.
Apesar de todos os erros anteriores, ele – ao contrário do que se previa, ou se supunha – procurava o par perfeito. Queria encontrar alguém que lhe completasse. Nunca ousou perder essa esperança. Era seu desejo mais concreto.
Ela já tinha tentado com alguns, mas nunca se sentiu assim, como naquele momento. E, contrariando o óbvio, parecia tudo tão... fácil? Estranho ser tão fácil. Mas era. Simples assim.
Quando viram, já moravam juntos. Um ano depois esperam um filho. Um pouco antes decidiram casar, mas dessa vez sem cerimônia. Festa em casa, poucas testemunhas, nada de vestido branco, ou terno. Era só a celebração do amor. E que amor!
Quem vê não duvida. Afinal, eles próprios não duvidaram. Acreditaram, se entregaram, se escolheram. Tiveram a coragem de viver, encarar e deixar o amor transbordar em pura felicidade.
Com todo esse carinho, nascerá João - o já tão amado João. Ele ainda não sabe, mas seus pais são os verdadeiros heróis de um grande conto de fadas: o real. Aqui, nada de princesas, príncipes ou sapos. Nada de castelos, cavalos ou vilões. Esse, se destaca pela coragem e determinação dos personagens principais. E, claro (como não pode deixar de ser), pelo tão esperado final feliz.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Outra forma de amar

Amar e ser amado. Uma das maiores complicações da vida. Impossível medir amores... amava mais que ontem, amarei mais amanhã. Ou se ama, ou não se ama. Mas, pode-se dizer que há diferentes formas de amar.
Ela vivia entre o estar, ficar e o permanecer. Sua principal pergunta era: será? Ou, quem sabe: por quê? Mantinha uma relação de anos (muitos) com o mesmo homem. Um homem que admirava, que a fazia parar qualquer coisa apenas para ouvi-lo mais e melhor. Um homem cujo o cérebro era sua principal (e vital) qualidade.
Mas a relação era confusa. Traições, brigas, desentendimentos. Numa tentativa de buscar a si mesma, mudou de país. Descobriu o sexo em outra língua, conheceu pessoas, trabalhou, mas não mudou. Quando voltou, era ele quem mais queria ver. E viu. Nada mudou, enfim.
Uma nova proposta de trabalho e uma mudança de cidade por tempo determinado. Lá estava ela novamente tentando. Foco na câmera, nos textos, na apresentação, e um dia... um novo olhar veio de uma lente à frente. Não desviou, alguma coisa mexeu lá dentro – ali, detrás da maquiagem, da intelectualidade, da vaidade. Alguma coisa diferente iria vivenciar. Sabia.
Conversaram. Conversaram mais. Riram e viram afinidades. Não, ele não era intelectual. Não, ele não iria entrar em conversas filosóficas sobre a vida. Mas, sim, ele podia falar de vida: a prática. A verdadeira. A real. E foi o que fez.
Ali, na cidade onde a política tem asas, ela se apaixonou por um homem de verdade. Um homem que estava disposto a terminar um relacionamento já falido e começar de novo. Com ela – se ela quisesse. Para isso, ela deveria mudar de cidade e, dessa vez, não voltar mais. Ela precisava pensar.
Voltou para a sua cidade e quando olhou para o homem que tanto amou – e por tanto tempo -, viu o que nunca tinha visto. Com ele, o amor era lido, falado... um amor de ideias, de estudo. Ela viu que precisava montar sua própria história. Precisava criar seu enredo e se tornar, enfim, a protagonista do filme da sua vida. Para isso, precisava de mais prática do que utopias espalhadas pelo lençol. Queria mais. Queria se sentir amada, tocada, vista, ouvida. Queria também tocar, ver e ouvir. Sem receios, sem ressalvas. Por isso, quando viu, chegou em uma nova cidade.
Foi recebida de braços e portas abertas. Nunca mais voltou. Hoje, mantém a filosofia nos livros e em discussões entre amigos. Já o amor transborda dentro de casa. Está entre abraços, beijos, conselhos, carinhos, conversas sobre a vida... A vida deles. Enfim, ela havia descoberto uma outra forma de amar.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Entre asas e tijolos

Sempre admirei pessoas com foco. Dessas que sabem exatamente o que querem, como, quando... sem se preocupar com o “onde” ou o “porquê”. Gente que simplesmente sabe o que busca, sem mudar de ideia pelo caminho.
Ela sempre foi assim – pelo menos quando se tratava de amor. Podia pensar em mudar de emprego, mudou até de cidade quando acreditou que daria certo. Não tinha problema, desde que o amor falasse mais alto.
Se alguém dissesse que seu príncipe lhe esperava em Paris, ela parcelaria as passagens e embarcava, cheia de coragem e esperança. Linda inocência, livre de qualquer ceticismo.
Já havia tentado a felicidade no casamento uma vez. Não era o que buscava. Definitivamente. Mudou de cidade por ele, e (ironicamente) encontrou sua casa. Mas, depois de um tempo, abandonou aquele primeiro apartamento, mudou de andar e se apaixonou por outro.
Como nem sempre acertamos na vida, ela errou novamente. Tentando se recuperar, adoeceu, emagreceu a gordura que não tinha... e se levantou do poço cheia de esperança. Mais uma vez.
Outros entraram no seu closet para experimentar a tal roupa de príncipe - há anos separada no armário. Ela duvidava, mas encarava, esperava. Por fim, o branco não caiu bem o suficiente em nenhum dos pretendentes.
Um dia, no trabalho, viu desenhos de pássaros, ouviu Miles Davis e Chico Buarque. Achou bom demais para ser verdade. E realmente era. Ele era casado. Decepcionada, viu que não seria assim tão fácil.
Decidiu se manter muda. Não contou suas conversas para quase ninguém. Manteve apenas alguns pequenos comentários distraídos e quase sem importância. Nenhum dos seus amigos sabia o que se passava ali dentro. Um coração que buscava uma estrada, com final conhecido e amarelo - e que lindo amarelo!
Um dia, assim sem mais, recebeu uma ligação. O pássaro enfim poderia voar, e queria um único ninho: o dela. Não acreditou. Voou (como assim deveria ser) para casa e abriu a porta para o moço com asas, que de lá nunca mais saiu.
Agora, eles enfim encontraram os tijolos certos para construir uma casa cheia de felicidade, cumplicidade e, claro, muito amor.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Quando é sublime

Medo. Medo de amar, medo de perder, medo de estar. Medo de empurrar com a barriga, de decidir, medo de acreditar. Medo que alguns, simplesmente, não sentem. Nunca sentiram. E aí... vivem mais e melhor.
Assim aconteceu com eles. Ela, casada. Ele, casado. Outras duas pessoas que nunca entenderam o furacão de tantas emoções.
Casamento na igreja, vestido branco, um amor antigo que olhava de longe e a certeza de estar fazendo o que a faria mais feliz. E fez. Durante o tempo que ele ainda não olhava para ela – e por pura timidez.
Ele, não tinha uma história muito diferente. Casou com a benção do Deus e passou a representar uma família que não lhe pertencia, mas amava. Viveu muito bem todos os seus pesares, antes de saber que ela olhava para ele.
Visitava o trabalho dela, apenas para falar com alguém pouco importante. Sem cumprimentar quase ninguém, ele entrava, conversava, tomava um café e quando saía não ouvia uma mulher do outro lado gritar por ele. Nunca ouviu. E ela sempre gritou. Sempre.
Daquele canto esquerdo, ela dizia que ele nunca olhou para ela. Mas, a verdade, é que ele nunca acreditou naquele olhar. Até ser convidado para uma festa de final de ano. Ela jurava que ele não ia. Mas ele foi.
Depois desse dia, o que era apenas diversão, passou a ganhar mais vida, mais cor. Aos poucos, a cada encontro, a cada beijo proibido, a cada transa escondida, em meio a mentiras deslavadas... o amor passou a tomar conta do que já não podia mais ser escondido.
O sentimento já gritava pela ausência, desafiava as probabilidades, arrumava cúmplices, criava testemunhas... para tudo ser encarado na justiça. Claro que nenhum fim seria fácil. E não foi. Nunca é. Difícil admitir uma derrota. Muito mais fácil urrar o prazer da conquista. E, isso, eles conheceram. O gosto da vitória. Não queriam ver ninguém sofrer, mas não podiam eles sofrerem também.
Então, a vitória mais sutil e adorável de todas aconteceu: o amor. E esse, sim, é sublime. E sem nenhum medo de dizer que é para sempre.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Na direção certa

É fato que a esperança é a última a morrer (ouso dizer que ela ainda dura seis meses pós a morte), mas em geral a persistência morre antes. Bem antes. E morre porque cansamos de tentar. Cansamos de esmurrar a ponta da faca, mas não desistimos de sonhar, de acreditar. Nunca.
Nós, os seres humanos (e não apenas os brasileiros) acreditamos piamente que um dia alguém lá em cima vai nos olhar e assentir. Um anjo passará e dirá amém. O trabalho dos seus sonhos vai te admitir ou... o amor da sua vida vai ressurgir, pedir para ficar. Nessa hora você passa a, novamente, persistir.
E com ela não foi diferente. Ela acreditou. Quando todas as suas amigas já tinham desistido, inclusive, de ouvir, ela não se deixou abater – simplesmente parou de falar. Em uma luta interna mantinha as dúvidas lado a lado com seus sonhos. De um lado jurava que não podia dar certo. Já o outro gritava: por que não?
Anos se passaram. Alguns outros homens passaram com eles. Tentativas frustradas de amores impossíveis. Como amar outro alguém quando seu coração tem nome? Não conseguiu. Na verdade, nem tentou trocar a placa de entrada. Achou melhor colocar indicações erradas para que ninguém chegasse perto desse coração sofrido e dominado.
Assim, xingou a maioria, gritou com quem nem merecia, sofreu sozinha no banheiro, ouviu conselhos racionais de pessoas que não a entendiam, tratava de manter o que não deveria mais ser mantido. Errou. Errou muito, exagerou em mau tratos e acabou sofrendo ainda mais.
Mas... a vida cuida. A vida trata até quando bate. Certo dia, perdeu o trabalho e encontrou o rumo. De repente, a vida fez sentido e tudo começou (magicamente e merecidamente) a dar certo. Deixou o coração bater, e decidiu que ainda não era a hora de ouvir aquelas chamadas. Assumiu as rédeas do trabalho, mudou de casa, de postura – e, de velho, só manteve os amigos. Acertou. Ganhou vida.
Com tanta felicidade, o dono da plaquinha resolveu aparecer para checar, encontrou outra pessoa. A mesma em muitas coisas boas, e a outra em tantas outras. A garota briguenta, hoje ri mesmo quando está inflamada. Seu coração, enfim, ouviu suas chamadas.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Engole o choro!

Alguns dizem que é melhor ser forte. Ser daquele tipo que não choraminga, não se faz de vítima, não conhece bico, nem usa lágrimas como justificativa. Dizem que esse tipo de “mulherzinha” é ultrapassado. Não sei.
Sabe aquela coisa de “ser mais macho que muito homem”? Se homem não chora, encaramos essa premissa, arregaçamos as mangas, levantamos a cabeça e seguimos em frente. Parece uma linda iniciativa, mas, no fundo, não passa de uma falsa e infeliz tentativa de ser uma rocha - uma verdadeira fortaleza (melhor usar um adjetivo mais bacana).
Quer saber? Pura bobagem. Quem (às vezes) não tem aquela vontade tremenda de chorar como louca? Encolher no canto como uma lagarta no sal ou ainda fugir como uma covarde? Ah... ou talvez chorar feito criança e parar três dias depois (já desidratada)... Quem nunca passou por isso?
O problema é que a vontade é grande, mas a coragem para tal é minúscula. Algumas de nós (mulheres) temos aquela bendita mania de ser meio “Maria” (a do Milton, claro). Por isso, não nos sentimos no direito de usar as belas madeixas para cobrir um rosto vermelho e inchado. Você encara, ergue o queixo, é grossa com o primeiro infeliz que te der bom dia e só depois consegue rir de si mesma.
Sabe quantas dessas mulheres eu conheço? Muitas! Muitas mesmo. Ao contrário do que se pensa, atualmente, elas são mais comuns do que as outras... (aquelas fracas). Essas musculosas mulheres cerebrais estão espalhadas por todos os lados. Isso sim é que chamo de fado para essas femininas criaturas do mundo moderno.
São elas que resolvem a casa, as contas, a vida (delas e a dos outros), os conselhos, o choro escondido sem ombro nenhum, a pena de si mesma com a mesma arrogância de quem sabe se dar valor (sim! Antagonismo puro!)...
A vida para essas mulheres (nós e muitas outras), tem um formato difícil, mas (acreditem) de alguma forma é bem feliz.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O que fizemos de nós?

Virar gente grande (mesmo que não muito) dá trabalho. Outro dia escrevendo para uma personagem simpática e adolescente, me redescobri crente. Meu ceticismo de hoje, somado a um certo cinismo (é bem verdade) não existiam na adolescência, percebi. Resolvi abrir diários, reviver, reencontrar aquela que um dia fui. É... Eu realmente acreditava. E, ouso dizer, todos nós acreditamos, um dia. De verdade.
A gente encarava problemas com a mesma seriedade de hoje, mas com a importância de ontem. Apostávamos em milhares de amigos, contávamos segredos a muitos, nos apaixonávamos por vários(as), ríamos sem ter graça, gargalhávamos com barulho e com muito mais frequência. Aí, me pergunto: o que fizemos de nós? – já diria meu querido Zuenir.
Não sei dizer. Nos tornamos adultos idiotas, sem coragem para dizer, sentir, ousar, falar, xingar, gritar e, até (pasmem), rir. Esquecemos de como era bom rir de si próprio, preferimos passar mais tempo pensando em como ganhar mais dinheiro. Não dizemos “eu te amo” pelo medo de não ouvir o mesmo de volta e, mais do que isso, não nos permitimos amar – ou, pelo menos, não com tanta facilidade.
Eu sei, eu sei... já escrevi sobre isso muitas vezes. Mas é que ainda me choco. Não há nada de nostalgia nisso, há apenas decepção. Me decepciono com o que nos tornamos. Quando adolescentes valorizávamos amigos, respeitávamos mais relações – mesmo com a rebeldia que pairava no ar. Nossos amigos eram aqueles em quem se podia confiar, amar. Nunca ferir.
Por isso, lamento por aqueles que pararam de acreditar nos adolescentes que já foram. Lamento por quem esqueceu como é bom sentar e rir de bobagens da vida e transformou tudo em seriedade, em poder (que poder?). Lamento quem perde a ética para magoar. Lamento por quem trai um amigo, por quem esquece de chorar em uma cena emocionante, quem não gosta mais de namorar no pôr do sol, quem não tem mais vontade de andar na praia de mãos dadas, quem não compartilha tristezas e alegrias com aqueles que amamos, com quem se esquece de dizer que o outro é importante ou ainda quem já se esqueceu como é bom receber um abraço. Lamento.
Para você que não se importa com nada disso, entrego o meu mais sincero “obrigada”. Obrigada por se mostrar. Faça isso e poderemos te reconhecer mancando pela vida.

“Amemos quem nos ama. Aqueles que não amam, que Deus amoleça seus corações. Se ainda assim não nos amarem, que torça seus tornozelos para que possamos reconhecê-los quando passarem”. (ou alguma coisa assim)

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Só hoje (ou não)

Noites. Existem noites que fazem tanto sentido. Noites em que tudo faz sentido. Noites em que você pode olhar para dentro. Noites em que a lua está cheia. Noites em que o copo não fica vazio. Noites em que o vazio faz companhia e preenche a escuridão.
Noites... noites em que as plantas pedem água e companhia. Mas... só elas. Noites em que a música toca alto e comprova que pode dominar seus ouvidos, sua alma, seu lar. Noites em que nada faz sentido, e (de novo) faz tanto sentido.
Noites em que o escuro não dá medo e a única luz da sala excita. Noites em que a mente perdoa, cala e grita. Sem angústia, sem discórdia, nem ausência. Que os amigos não se fazem presentes, mas são lembrados. Que a família não está, mas está (sempre). Que o grande amor ainda pede para ser encontrado, mas pode esperar. Noites assim... apenas noites.
Noites em que o brilho reluz na taça, no copo, no vaso, na estante, nos livros, nas cadeiras, no computador, na mesa, nos presentes novos, nos velhos, nos quadros, na vida que está por vir, nos trabalhos que ainda pretendem surgir.
Noites sem estrelas. Noites de luar. Noites de trilha sonora, burburinho, pijama, Rubem Fonseca, cola, papéis, presentes duvidosos, dicionários, cadernos (muitos), contas pagas, contas por pagar, violetas, rede, cama, sofá, cerveja, celular, fones de ouvido, fotos, cartas, cartões, textos. Noites.
Noites de permissão. Noites de pensamentos. Noites de divertimento. Noites em que um só basta (e já é muito). Noites em que se comprova, se sonha, se pede, se espera.
Noites em que se sabe. Noites em que nunca se sabe. Noites em que se entende. Noites que nunca ninguém entenderá. Noites em que só quem já viveu consegue perceber a beleza de se bastar...
Mesmo que seja por uma noite apenas (ou muito mais).

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

De olhos abertos

Quando somos crianças não temos medo de cair. Não temos vergonha. Não temos receio de dizer que não sabemos. Gritamos que sim e berramos ouvindo não. Não pensamos no futuro, não lembramos do passado. Nossa vida passa no presente. Só o agora importa. Sem queda. Pura inocência.
Andamos de bicicleta na ladeira e não nos preocupamos com os buracos; pulamos de alturas injustificáveis só por diversão; damos “estrela” (de forma estrelada); corremos para o mar sem o menor receio da maré; pulamos na cama até cansar; saímos correndo pela rua só para constar; damos cambalhotas em chãos ridiculamente duros; dançamos desorganizadamente e sem muito ritmo; gritamos pelos corredores da escola para chamar atenção; jogamos futebol com os meninos e adoramos errar; jogamos vôlei com as meninas só para provar; brincamos de Barbie, Susan, Ken, Bob como membros de uma grande família; namoramos muitos meninos ao mesmo tempo (sem que eles saibam); odiamos as meninas (sem que elas saibam); amamos chocolate sem o menor problema de engordar; encaramos os problemas matemáticos como os maiores do mundo; dançamos no bailinho para que ele veja ou para que ela saiba; dançamos com a vassoura para poder trocar; sonhamos com casamento e filhos para continuar; amamos poucas pessoas, mas com uma intensidade insana; dependemos de um par e não temos o menor problema com isso; choramos com facilidade; sorrimos com ainda maior facilidade; adoramos todas as bobeiras que nos contam; fazemos caretas para assustar; queremos presentes enormes (mesmo que em boa parte da vida, gostemos mais das caixas); abraçamos muito mais e beijamos ainda mais... nos entregamos. Nos jogamos sem o menor pudor - de olhos bem fechados e muito confiantes.
Já fomos sábios. Sabíamos que a maior virtude que tínhamos era acreditar. Com os anos nos tornamos céticos e (com o perdão da rima) também patéticos. Corremos dos sentimentos, não acreditamos nas pessoas, nos decepcionamos com muitos, porque também (de certa forma) decepcionamos muitos.
Crescer vira quase um fardo. Uma luta contra nós mesmos. Uma eterna busca por uma sabedoria inexistente. Nos tornamos frágeis criaturas inteligentes. Bobas criaturas vazias, que ainda correm atrás do pote de ouro, sem conseguir perceber a beleza do arco-íris.
Talvez esteja na hora de reviver um pouco essa sensação. Não, sinto dizer, a inocência não volta mais. Tampouco teremos sabedoria. Continuaremos com o medo da queda, olhar para baixo será sempre uma tortura. Mas... que tal observar a visão linda que temos aqui de cima? Enxergar o passado com beleza, o presente com orgulho e o futuro com esperança? E assim (e quem sabe?) conseguir pular... mas, dessa vez, de olhos bem abertos (só pra garantir).

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Às mulheres cruéis

Queridas,

Essa é uma declaração e um pedido daquelas outras mulheres – que, mesmo sendo do mesmo sexo que vocês, ainda não compreendem como vocês agem.
A verdade é que muitas das outras não pensam da mesma forma que vocês (por mais que a maioria dos homens não acredite nisso). Muitas são tão diferentes que parecem não se encaixar nessa ninhada de loiras, morenas, ruivas e castanhas.
E é essa diferença faz com que essa carta exista. Essa carta está dedicada a vocês que fizeram muitos marmanjos sofrerem. Vocês que traíram, mentiram, sacanearam, enganaram e sambaram em cima do coração dos homens com boas intenções.
Esta carta é para quem julgou aquele que um dia esteve ao seu lado, acusando-o (mesmo que inconscientemente) de ser igual aos outros (o que em geral é verdade - mas nem sempre), e aí, decidiu pela vingança descarada, e acabou criando uma nova raça de homens: os traumatizados.
Meninas, talvez tenha sido por autopreservação, talvez vocês tenham feito aquilo que já fizeram com vocês antes. Mas, mesmo que pareça justo, vocês estragaram homens que poderiam deixar muitas das outras mulheres felizes.
O fato é que vocês (queridas) acabam prejudicando as próximas mulheres desses coitados, não eles (exatamente). São as mulheres bacanas, amigas, honestas, inteligentes, descoladas e leais que acabam sofrendo com o gosto da vingança de vocês, mulheres cruéis. Pensem bem! Acaba não valendo de muita coisa. Eles, os homens maltratados, não sofrem por isso. Sofrem uma vez (claro) e depois declaram que nunca mais viverão tal coisa e aí... não dão chance conhecer as outras.
Vocês sabem, não é? A crueldade está naquele momento em que uma de vocês foi embora de casa e se casou com seu amante, tendo um filho dele. Ou quando teve um caso com o melhor amigo do namorado. Ou sua amiga cruel gay que resolveu largar da mulher para ficar com um cara. Ou quando você reclamou do futebol; dos amigos dele; do jeito que ele se veste; falou mal dele para suas amigas; fez cara de choro quando ele discordou de você; disse que ia em um evento importante para ele, mas no dia sentiu uma dor de cabeça terrível; deixou de fazer sexo com o moço só porque ele não entendeu o que você queria dizer... E por aí vai...
Meninas, uma dica: índole independe do sexo. Ou se tem ou não se tem. O fato é que quando nos machucamos achamos que pode ser justo maltratar, enganar e tapear o outro – afinal, ele pode estar fazendo o mesmo que você, certo? Errado. Ninguém é igual a ninguém. Nenhum relacionamento é igual ao outro. Nenhum amor se compara com o que já se foi vivido. Encarem os fatos: ou vocês enxergam o amor de verdade, nu e cru, e se entregam; ou melhor não saírem para o recreio.
Se vocês apenas pretendem usar a vida e a estrutura emocional de um novo homem, lembrem-se que estão fazendo uma cadeia inteira sofrer. E aí, fora a injustiça do gesto, vocês ainda vão fazer com que o ciclo nunca termine. A vingança também estragará os próximos homens de suas vidas. Creiam.
Pensem. Ponderem. Ainda confiamos em vocês!

Atenciosamente,

As outras mulheres

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Vazio

A inspiração, às vezes, falha. Dias rasos e, infelizmente (ultimamente), nada raros. Dias de trabalho incessante. Dias sem sentir.
O sentimento se perdeu. Não encontrou frestas, desistiu de tentar. O vazio se instalou e quer ficar. A sensação está perdida sobre a água, quase sem encostar. Não tem onda, nem marola. Não tem emoção. É só água. É só corpo. É só matéria. Não é nada.
O material entrou. A ganância estabeleceu conceitos. A ambição alcançou patamares nunca antes vistos. A glória observa de longe e espera a deixa certa para se apresentar. Talvez falte muito. Talvez pouco.
O espírito está perdido entre o aqui e o ali. Busca uma eternidade que não reconhece. Espera por um respiro de alma, um tipo de meditação mal feita, alguma concentração perdida entre o estar e o não estar. Ou, quem sabe, um sono tranquilo que promova um relaxamento qualquer.
A arte perdeu o olhar. Nada choca, nada atrai, nada emociona. As lágrimas estão secas. O sorriso congelado. O choro inexistente. A gargalhada esquecida. Pequenos momentos sem nenhuma valorização. Grandes instantes sem nenhum reconhecimento.
O mundo está vazio. Tão vazio que agora o que se ouve é apenas eco. Eco. Eco.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Déjà vu

Algumas coisas nunca mudam. Por mais que a ânsia da mudança esteja sempre nos nossos mais profundos desejos, temos sempre aquela sensação de que aquilo já foi visto, sentido, sofrido, falado, discutido e argumentado. Já conhecemos aquele sorriso, a brincadeira, o tom da voz, aquele mesmo jeito de sempre.
Porém, com o passar dos anos conseguimos ver alterações, erros e defeitos que não víamos. Coisas que o amor apagava, a amizade deixava pra lá e a tolerância consentia. Ao mesmo tempo vemos que sim, algumas mudanças aconteceram, mas não exatamente como você esperava. E você percebe seu maior erro: esperar uma mudança que não venha de você.
Se fez isso, errou. E se errou assim, precisa mudar também. Uma mudança só é válida quando parte de dentro. Quando vem da cabeça e do coração daquele que precisa mudar. Você (um outro ser) nada tem a ver com isso. Nada.
Mesmo assim, aquele que precisa da tal mudança nem sempre o faz para melhor. Pode mostrar, simplesmente, que nada aprendeu. Que o tempo passou, que te viu sofrer, que sofreu, mas não entendeu. Achou que, mesmo anos depois, sairia vitorioso de uma guerra sem sangue e sacramentada pela bandeira branca.
A vitória, na verdade, está na mudança instalada na nossa própria consciência. Olhar no espelho e enxergar um rosto conhecido, mas com muito mais discernimento de verdades, mentiras, interesses. Um rosto que ainda pode errar, mas que não pretende cometer os mesmos erros do passado. Um rosto capaz de lutar até o fim por uma felicidade consciente, porém insana; escandalosa e recatada; encantada, mas com os pés no chão. Uma felicidade novinha em folha e bem longe de um déjà vu de sentimentos que rolaram barrancos com pedras muito conhecidas e já desgastadas.
A mudança está no sentimento desconhecido, no novo olhar, na entrega que nunca ocorreu, na coragem de uma declaração sentida e envolvida por verbo que você nunca mais ouviu. E isso será sempre (sempre) novo – mesmo que nossos ouvidos conheçam cada palavra.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Sra. Felicidade

Tenho uma amiga que diz que a felicidade chega nas horas de descuido. Não rejeito a ideia. Acho mesmo que é assim. Mas, ela também exige um certo esforço nosso, não?
Eu, por exemplo, preciso suar a camisa (e às vezes literalmente) para que ela resolva bater na minha porta. Talvez porque ela goste de chegar mais plena do que sorrateira. Quem me conhece sabe que sou direta demais para que minha felicidade fosse implícita em algum discurso. Precisava mesmo de uma declaração feita, lida e declarada.
Com isso, por ser assim, ela também chega em prestação – ou me mataria de susto. Ela elege as áreas certas para atingir, nos momentos que acredita serem os ideais. Conhece todos os meus pontos fortes e também os fracos. Quando tem dúvida, pede orientação para minhas paredes, plantas, cores e fotos – quando não estou, obviamente.
Claro que ela nem sempre se faz completamente presente. Certa vez, decidiu ir embora e me foi muito explícita, como assim eu deveria esperar. Doeu. Sofri demais – mais do que deveria, já que sabia que um dia ela voltaria. Talvez não da mesma forma, mas certamente voltaria.
E ela sempre volta. Escolhe o momento certo e, às vezes, o errado, para se mostrar. Mas, certamente, nunca foi mal chegada. É sempre uma festa. Se não tenho nada em casa, corro logo para o bar mais perto e peço a bebida, as “tapas” e os amigos. Sempre vale o brinde.
O problema é que esperamos demais dessa velha senhora. Depositamos nela toda a nossa esperança, nossos votos, preces e curas. Apontamos o dedo para a felicidade alheia (como forma horrível de inveja) e nos perguntamos por que estivemos tanto tempo fora de casa. Talvez ela tivesse batido.
Mas não é isso. Ela realmente só chega na hora que quer. E quando está decidida a entrar, toca a campainha, o interfone e, quem sabe, até arrombe a porta. Não se preocupe. Até quando não estamos em casa, essa senhora sorridente se esparrama no sofá e espera pacientemente.
Mas não se engane, nem sempre ela entra com o pacote que você esperava. Mas... nunca (nunca) será mal recebido. Jamais. Por isso, é bom avisá-la (de alguma forma) que você está pronto para seu pacote. Seja ele de qualquer formato, tema, sonho, prazer, sorriso... desde que venha acompanhado dessa senhorinha simpática e muito sábia, chamada de Felicidade.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Inocência

Ela só tinha 4 anos. O que sabemos quando temos 4 anos? Talvez tudo, mas ainda não temos noção disso. Por isso, ela ia para escola brincar. Não havia muito mais o que fazer. Uma letra aqui, um número ali... não mais que isso. Tinha certeza que estava na escola para fazer amigos, conhecer outras pessoas, brincar. Então, aproveitava.
Levava a sério o conceito de novas amizades. Ria muito e batia em alguns garotos para defender seus amigos. Levava uma boneca especial para a classe. Ela ia na mochila. Era com ela que ficava na hora da soneca. Não gostava de dormir sozinha. Era gostoso abraçar alguém... e, se demorava a dormir, podia fazer carinho no cabelo da boneca, cantar baixinho só pra ela ouvir...
Mas, um dia as coisas mudaram. Ela estava jogando bola com uma amiguinha e um menino veio dizer que aquilo era coisa de garoto! Ela ficou uma fera! Disse que era menina e que podia fazer o que quisesse, inclusive, jogar bola. E ele ficou rindo e dizendo que ela era um menino! Apontava o dedo e gritava: “Você quer ser menino, você quer ser menino!”
Ela ficou muito brava e começou a chorar. Na raiva, não teve dúvida, foi para cima do mini-idiota que ria dela! Afinal, ela não queria ser menino, só queria jogar futebol! Levantou o braço e sentou a mão no chato. O soco foi tão forte que ele começou a chorar e chamou a “tia”.
Depois, os dois levaram a maior bronca e tiveram de ficar sentados sozinhos para “conversar” enquanto todo mundo brincava no pátio. Era a regra da classe: quem briga tem de fazer as pazes conversando. Então, ele sentou de um lado e ela do outro. Ela estava na bronca. Nem olhada para a cara do garoto irritante. Ficou ali, alisando o cabelo da sua boneca e pensando: “quanto tempo será que ainda temos aqui?”
Ele ficou brincando com o próprio pé. Balançava e olhava para o tênis como se estivesse vendo um ET. Em algum momento, ela olhou para ele e viu que ele olhava para ela. Ela baixou a cabeça. Em seguida, olhou de novo e ele, ainda olhando, perguntou: “Você quer jogar bola?” E ela, esquecendo tudo o que aconteceu, disse: “Aqui?” Ele: “É”. Ela: Mas “a professora vai brigar”. Ele: “Mas ela não está aqui”. Ela: “Tá bom!” E começaram a chutar uma bolinha de borracha que acharam na classe.
No dia seguinte, a menina já chegou na escola e perguntou ao novo amigo: "Joga comigo hoje?” Ele: “Claro, até trouxe a minha bola!“ E jogaram. E todos os dias passaram a ter a mesma companhia, a mesma bola. Às vezes, brigavam, mas era só porque ela nunca queria jogar no gol, nessa hora dizia que era menina... Ao contrário do que poderia acontecer, ele entendia.
No aniversário dele, ela pediu para sua mãe comprar uma bola, sabia que ele gostaria. E assim continuavam a jogar e brincar. Um dia, sua mãe perguntou porque ela gostava tanto do João, e ela disse: “Ele é meu namorado, mãe! Claro que gosto dele!”
Nesse dia, ela foi falar com o João, precisava esclarecer essa história. Falou: “João, o que você acha de trocar de colher comigo?” Ele: “Trocar?" Ela: “É! A partir de hoje você come com a minha colher e eu como com a sua”. Ele: “Por quê?” Ela: “Porque assim a gente namora”. Ele, dando de ombros: “Tá bom!”
A partir de então, a união estava selada e sacramentada.

sábado, 4 de junho de 2011

Carta de Beatriz

Querido,

Como você está?
Gostaria que você soubesse que estou bem. Estou feliz e vivendo a vida que escolhi. Não trouxe nenhuma tristeza comigo, apenas as alegrias – inclusive aquelas que me fazem sentir saudade. Todas as suas declarações, seu amor, suas poesias, cartas... tudo está comigo e aqui ficará.
Preciso dessa distância. Preciso da sua ausência, da sua mudez. Não quero falar, não preciso mais ouvir o que não existe explicação, o que não deve ser justificado. Não mais.
No entanto, devo dizer que nunca menti, nunca te enganei como você me acusou injustamente. Ao contrário do que você pensa, o único papel que decorei foi te amar e acreditar nesse amor. Me dediquei como louca para que isso nunca fosse quebrado. Nunca atuei com você, querido... nunca!
Choro sozinha quando penso onde poderíamos ter chegado. Tudo aquilo que não conseguimos viver. Tudo o que sinto saudades, sem nunca ter feito. Mas não pude deixar você entrar na minha vida... é mais forte do que eu. Preciso ser livre. Preciso...
Não posso conviver com você. Não posso conviver com ninguém. Quero os delírios de uma vida sem rumo, uma estrada sem destino, um abismo de sentimentos, de dores e de amores. Não serei feliz se não for assim...
Quero viver! Quero uma vida intensa, quero ver as estrelas próximas de mim, quero entorpecentes de felicidade, quero verdades e quero mentiras... Quero a divindade! Quero alcançar o céu (sim!) e ser aplaudida por Deus!
Não. Você não pode entrar na minha vida. Não, você não pode me dar a liberdade. Mas, sim. Você vai comigo onde eu for. Dentro da minha cabeça, dentro do meu coração. Pra sempre.

Com muito amor,

Beatriz

terça-feira, 24 de maio de 2011

Amante ou cinema?

Depois de anos e anos de casamento podia dizer que o conhecia com ninguém. Sabia o quanto já foi amada e tinha certeza de que o destino não tinha errado. Quando se lembrava do ano em que decidiram se unir e todas as dúvidas que tiveram de encarar... Hoje, tudo não passa de bobagem.
Depois de tanto tempo muito daquele amor foi pelo ralo, é verdade. Muito desamor acabou entrando pela porta, pelas janelas... Mas nunca perderam o respeito, o carinho, a conversa. Eram fases. Algumas mais difíceis e longas, outras mais simples e rápidas. Entre idas e vindas do amor, sabiam que não encontrariam melhores pessoas para conviver. Assim, mantinham aquela amizade tranquila, com algum (agora pouco) flash de tesão, mas uma admiração mútua.
Ela não poderia dizer que foi feliz o tempo todo, mas tampouco diria que foi triste. Teve seus momentos. E, fazendo as contas, a maioria deles foi bem alegre. Porém, sabia que nas crises ele não ia mais para o bar. Ele buscava outras camas, outras mulheres, outras amantes. A primeira vez que descobriu foi difícil, mas nada falou. Calada, queria ver até onde ia. Não foi longe. Descobriu que seu marido precisava daquilo para fazer com que o casamento deles voltasse a ter brilho (ao menos algum). E ao término de relação fora da nossa curva, tudo realmente brilhava mais. Ela decidiu, então, que poderia conviver com isso.
Um dia, um homem do trabalho a descobriu. Telefonemas escondidos, mensagens no celular, emails calientes e... só. Tudo isso, já foi o suficiente para levantar seu ego do jeito que precisava. Não queria mais do que aquilo. Não apenas porque ainda amava o seu infiel marido, mas porque daria muito trabalho. Ter amante dá trabalho. Encontros escondidos, horários estranhos, mentiras, motéis... Não. Era melhor ser apenas virtual. Até porque, para ser amante de alguém, se firma um compromisso, ganha-se um status, um novo relacionamento, exige-se empenho.. é uma quase-profissão. Não estava disposta a isso.
Assim, nos horários em que seu marido beijava a nova saia, ela se lembrava da frase da escritora Isabel Allende e também preferia o cinema aos amantes. Passava suas horas de solidão no teatro, na mesa do bar com os amigos, caminhando na praia, no parque, lendo livros... Era melhor selar outro tipo de compromisso, a ter de perder o melhor do seu tempo tentando agradar alguém - que não fosse ela própria.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Incógnita

Quem te falou para sair?
Quem mandou você levantar e ir embora?
Quem?
Quem te deu a ordem para não atender mais meus telefonemas?
Quem te deixou ficar com outra mulher?
Quem disse que você não precisava mais responder meus emails?
Quem te fez parar de me escrever?
Quem disse que você poderia levar esses livros?
Quem te mandou deixar esse CD que nunca mais pretendo ouvir?
Quem disse que ainda penso em você quando ouço aquela música?
Quem te deixou entrar aqui de novo?
Quem te deixou sair de novo?
Quem avisou que eu dormi fora?
Quem me viu no cinema?
Quem te falou pra voltar?
Quem te disse que poderia ficar?
Quem levou sua camisa daqui?
Quem deixou você se divertir?
Quem você levou para dançar?
Quem te fez parar de chorar?
Quem me fez parar de chorar?
Eu parei de chorar?
Eu?
Quem?

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Vibrador pessoal

Ela sabia que precisava terminar com aquilo. Era uma coisa autodestrutiva. Uma relação sem nenhum futuro, nenhuma perspectiva e raros prazeres. A carência a fazia continuar. Triste carência.
Reclamando da vida e de suas constantes necessidades de colo, um amigo lhe disse: “Não se preocupe. Todos somos carentes em menor ou maior grau”. Ele tinha razão. A carência nos consome as vezes, e faz com que tenhamos pouquíssima vontade de resolver pequenos problemas. Ok, um dia resolverei, pensou.
Naquela mesma noite tinha combinado um cinema com ele. O homem com quem namorava há uns meses. O mesmo que não a deixava tão feliz, mas a ouvia, andava de mãos dadas e tinha conversas exageradamente francas. Tão francas que ela já chegou a sair do restaurante algumas vezes, depois de jogar o vinho na cara do cretino. Cena clássica e bem clichê, mas tremendamente revigorante após uma discussão sobre verdades da vida (ele sempre contra as dela, claro).
Além disso, ele tinha uma mania irritante de tentar interpretar tudo o que ela falava. Se contava uma nova ideia, ele dizia que aquilo deveria vir da sua infância. Se escrevia um novo texto, ele queria discutir sobre o psicológico de cada personagem, relacionando com a vida dela. Era muito chato.
O sexo também não era nada daquilo. Sempre a mesma coisa. Nenhuma novidade. No início ela achava que havia um certo esforço da parte dele, então seguiu acreditando que um dia melhoraria. Mas não. Do esforço ao mesmo. Do mesmo, ao egoísmo. Do egoísmo, à carência (dela, claro). Enfim, depois do cinema, uma mesa de bar e a sinceridade de sempre. Ela com a cabeça na cena mais picante do filme e ele com as interpretações sobre o papel da atriz ser raso demais, sem nuances intelectuais, sem nenhuma dramaticidade. Verdadeiramente cansada daquele blablablá sem fim, ela disse: “Não quero mais ficar com você”. Ele (chocado): “Por quê? Você gostou tanto assim da atriz?” Ela: “Não, mas eu não gozo na vida e tudo o que penso é que eu queria ter algumas daquelas cenas ‘rasas‘ para me encher de mais emoção”. Ele: “Você não pode estar falando sério”. Ela: “Estou. Quero alguém que se preocupe em me fazer gozar disso tudo. Alguém que me ame, goste das minhas ideias e das minhas verdades”. Ele (levantando): “Cada um com seus problemas. Tudo o que eu gostaria era um pouco mais de intelectualidade e um pouco menos de carência”.
Sozinha em casa, finalmente não se sentiu carente. Sentada na sua sala, com uma taça de vinho, percebeu que carência não é estar só, mas aguentar alguém só para não enfrentar o óbvio: a vida. Naquele dia dormiu sorrindo depois de gozar (sim!) por algumas horas de sua própria companhia.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

A vida como ela não é

Com todo respeito ao Nelson Rodrigues, não quero ver a vida como ela é. Dura demais, injusta demais, com contas demais, amores de menos, tsunamis violentos, terremotos terríveis, acidentes, mortes, perigos, roubos... não. Não quero.
Prefiro criar uma vida diferente. Não defendo a alienação (claro que não), mas também não quero conviver com tanto sofrimento. Já temos o suficiente, não? Quero ver o que começa dentro de casa, no meu jardim... cuidar dele como Quintana tão bem indicou, e fingir que minhas flores florescem também no Japão, na China, nos Estados Unidos...
Prefiro criar histórias mais felizes e românticas em um blog qualquer, na minha cabeça ou na mesa do bar. Acreditar que o casal mudo ao meu lado está apenas tentando esquecer uma briga recente, por isso, vão beber e voltar pra casa para se amar.
Olhar uma criança de rua e ter a imensa vontade de levá-la para minha casa e ensinar todo o nada que sei, mas por saber que é impossível, tentar imaginar que ela é amada onde quer que more. Que tem carinho e atenção, mesmo que falte a educação.
Prefiro acreditar em Deus e pensar que as coisas acontecem quando devem acontecer, que estamos sujeitos às agruras, mas que felicidade hora dessas vai pegar o elevador (ou não) e bater na nossa porta.
Sim, eu sei. Não somos mesmo perfeitos. Sim, eu sei, somos ciumentos, violentos, infantis, mal educados. Esquecemos de agradecer, de responder um email, de dar bom dia, boa noite e, principalmente, esquecemos (ou falamos tão pouco) de dizer "eu te amo". Temos a infeliz mania de perceber que era bom depois que perdemos, de não ver as pessoas como elas realmente são, de se iludir com tanta bobagem... nunca vamos aprender, creio.
Por isso, se a vida como ela é não é tão incrível assim... Por que não criar uma melhor, diferente e envolvente? E tentar viver como Gullar indicou, sendo feliz, sem tentar ter nenhuma razão para isso.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Por que mulher gosta de Playboy?

A visão masculina pode ser, às vezes, interessante (sem menosprezar os meninos, claro). Em uma crônica bem humorada (e cheia de estereótipos femininos), Gustavo, descreveu o que nunca pensaríamos. Será? Bom, na dúvida, vale a leitura!

Por Gustavo Panzetti

Cada vez mais eu acho curiosa e incompreensível a cabeça feminina. Quantas vezes você ouviu dizer que mulher não compra revista de homem pelado, e que o público da revista G são os homossexuais?
E parece que é verdade. Mas mulher, que não compra a G Magazine, adora ver a Playboy. Claro que para ver essa revista, elas têm de esperar os maridos e namorados comprarem na banca. Imagina só se ela vai no jornaleiro, e junto com a Nova e com a Caras, ela pega a concorrida capa da Juju Panicat ?! Claro que não... Elas ficam esperando os seu homens trazerem para casa.
Mas é óbvio que toda vez que seu macho entra em casa com a esperada revista embaixo do braço, elas têm de dar aquele sutil (às vezes, nem tanto) olhar de reprovação. Sempre!
Como se quisessem dizer: "vocês – trogloditas! - precisam dessas coisas. Nós, não. Nosso prazer é criado no fundo da mente. Vocês, homens, precisam de estímulo visual (o termo “estímulo visual sempre me pareceu tão estranho quanto o 'penteado' da Claudia Ohana)... Nós, mulheres, somos sensíveis ao imaginário. Criamos nossas próprias fantasias e nos satisfazemos com elas. Quando muito, um estímulo 'olfativo' para enfeitar o ambiente (e aí, acendem uma porra de um incenso fedorento)".
Sem falar que o alvo preferido das mulheres para liberar espaço nos armários fica naquele pequeno canto onde está nossa sagrada coleção de Playboy da adolescência. Essa é sempre a primeira caixa ameaçada de ir para o lixo, para que elas possam guardar outros novos sapatos... É a nossa arca de tesouros, onde descansam solitárias as musas Luciana Vendramini, Sheila Melo e a rainha Maitê, entre outras.
Mas essa profana publicação parece tornar-se um Alcorão quando o seu lar (no caso sua Meca) fica vazia. Ou, melhor do que vazia, quando ficam apenas com as amigas.
Fico pensando o que uma mulher “vê” ao ler a playboy? Qual a graça para elas? Um homem gasta no máximo 15 minutos com uma playboy (30, se a entrevista for com algum jogador de futebol). Mas uma mulher pode passar horas com esse objeto...
Mas fazendo o quê? Capturando todos os detalhes para criticar as esforçadas jovens que estão ganhando seu suado dinheiro para poder propiciar um futuro melhor para suas humildes famílias? Ou seria como inspiração para apimentar os seus mornos casamentos, buscando assim a solução para a preservação da abalada instituição “casamento”? Talvez seja simplesmente para leitura dos textos publicados, pois toda mulher tem um instinto econômico. Se seu marido torrou o difícil dinheiro familiar para ver meia dúzia de fotos, ela pelo menos faz valer o dinheiro gasto e garante o uso de cada redação feita para maximizar o investimento?
Nada disso... Na minha opinião mulher tem tesão vendo a Playboy. Assim como mulher gosta de ir no banheiro com as amigas. Da mesma forma que elas não têm nenhum pudor, desconforto ou vergonha de ficarem de lingerie uma na frente da outra quando vão juntas na costureira...
Por isso que, agora na minha casa só compro o Lance e a Placar.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Fazendo Pose

Freud passou anos tentando entender a cabeça das mulheres. Somos complicadas. Fato. Ok, admitimos. Nem nós mesmas conseguimos atingir tal estado de compreensão. Na verdade, ouso dizer, que nunca pensamos nisso como uma possibilidade lógica ou (até) possível. Afinal, pra quê? Se já é difícil sem entender, imagine entendendo? Melhor não.
Aí, um fato me vem a mente. Por que Freud não pensou na cabeça dos homens? Simplesmente porque ele (o psicanalista) era do sexo masculino? Ou será, que era pelo simples fato de ser (e desculpem a repetição) simples demais?
Não. Calma. Não quero (nem estou) menosprezando a mente masculina. Não faria isso. Até porque homens inteligentes são o melhor atrativo para qualquer mulher (ou as mais sábias delas, digamos). Eles existem, claro. Mas quando se trata de mulher, os homens são... limitados. Devemos admitir. Nada contra. É só um fato.
Fato cantado em música, prosa, poesia e... revistas masculinas! Basta olhar, passar na banca, encarar a moça com o corpo insuportavelmente perfeito estampado na capa. Está ali para qualquer um ver. Para ódio feminino (e por pura inveja, sejamos honestas) e deleite masculino. Como negar? É limitado sim, mas funciona, atrai e resolve.
Homem gosta de um rabo de saia. Quando mais balançar, mais ele vai olhar. Se for loira, ganha mais ponto. Ruiva pode destruir corações. As morenas precisam ser fatais. É um mundo vasto de cores, raças, cortes de “cabelo”, poses, preto e branco, cachoeiras, ruas, camas, gilletes, banheiras, matos, jardins... um mundo de fotógrafos incríveis, lentes poderosas e photoshops certeiros. Pouco importa. A mente masculina não precisa de muito mais do que 15 fotos de uma gostosa casualmente inclinada sobre sua máquina de escrever (??) – vale lembrar que as únicas a perceberem o tal objeto de relíquia somos nós, mulheres. As curiosas de plantão. Faz parte da nossa natureza, creio.
É louvável a capacidade masculina precisar de tão pouco para o “momento” (acompanhado ou a sós). Nós, pobres e pensantes mulheres, precisamos de tão mais que somente a necessidade de olhar para fotos posadas não nos bastaria – por isso revistas femininas do gênero não são vendidas para mulheres. Não faz parte do nosso “negócio”. Precisamos de mais! Muito mais. A gente quer conversa, encantamento, bate papo, inteligência, interesse, bom humor, charme, atenção, ligação telefônica... uma lista infinita!
Talvez por tanta diferença é que criamos essa nossa vontade de ver, crer, analisar cada milímetro da anatomia de loiras siliconadas, morenas vamps e ruivas sardentas. Precisamos olhar a foto pensando no porquê da pose sensual, tentando se enxergar fazendo o mesmo para agradar alguém, treinar aquele olhar meio de esguelha, o sorriso sacana e todo o resto que apenas uma revista sabe mostrar...
A gente não quer criticar nada. Quer ver, elogiar, odiar, aprender... depois olhar para o espelho e encarar a nossa própria realidade! É a vida! A crítica de algumas mulheres é por ciúme, fazendo com que nos vejam como idiotas, já que nada daquilo é mesmo real. A Playboy da coleção do seu homem é um fetiche tão tolerável quanto a sua calcinha mais sexy, ou aquela blusa que destaca os peitos, ou a saia curta para mostrar as pernas, ou o vestido que comprove o seu balanço...
Tudo isso faz parte da coleção de “Playboy” feminina, e é por essa coleção que ele (o seu homem, marido, namorado, amante) vai prezar quando estiver de mãos dadas na rua com você, certo? Afinal, com quem ele vai se deitar depois? Com você ou com a Galisteu? Você ou a Cleo Pires? A Vendramini? A Monique Evans, a Luiza Brunet, a Vera Fisher, a Luma de Oliveira, a Maitê Proença... Não, não. Vai ser só você. Então, melhor preparar a pose, não acha?

sábado, 23 de abril de 2011

Sonhar não custa nada

A gente sonha. Imagina uma porção de coisas que nunca acontecem – mas como um bom sonho: quem sabe um dia se realiza? Aí, a gente cria ilusões cruéis e indecifráveis na nossa cabeça. Criamos encontros, diálogos, telefonemas, frases inteiras. Imaginamos rostos, festas, ideais de vida que nunca aconteceram (e sem nenhum derrotismo). A gente sonha. Simplesmente sonha.
Uma vez ouvi que, enquanto sonhamos, vivemos. Enquanto nossa mente trabalha a favor de algo, na esperança de algo, nossa vida está garantida. Faz sentido. Sonhar faz parte da vida. Se nos tiram essa capacidade, pra que viver?
A Megas Sena, um carro, um emprego, um aumento, um apartamento, um grande amor, um filho, um casamento, uma vida em comum, o pra sempre, um jardim cheio de flores, uma viagem... qualquer coisa vale, desde que se chame... sonho.
Com o tempo (e como ele é cruel) a gente vai ficando mais cético, e os sonhos acompanham o tal ceticismo. Se antes queríamos milhões, hoje um só já resolve muito. O carro não precisa mais ter um super motor. O aumento pode vir como dízimos ridículos. O apartamento em míseras prestações. O grande amor, o filho, o casamento, a vida em comum e o tal pra sempre, nem precisam estar no mesmo pacote. O jardim, basta ser um vaso. A viagem pode ser para o nordeste, ou o litoral mesmo... Tudo bem! O que vale é a sensação.
A gente minimiza. A gente esquece que merece. A gente despreza o que poderia acontecer. A gente erra. E erra muito. Se sonho tem esse nome é para que alcancemos os mais altos graus (e quase impossíveis) de insanidade. É aquilo que a gente deseja no âmago. Sem medo de pedir, sem receio de não ser atendido.
Os sonhos são como os ídolos de outrora. Podemos justifica-los como algo acima do bem e do mal. Podemos apenas ter o livre e maravilhoso desejo de ter, de encontrar, de conquistar. Podemos. Podemos tanto e nos esquecemos disso. Passamos a querer menos do que merecemos. Muito menos do que deveríamos. Esquecemos.
Se sonhar é o que nos mantém vivos, por que diminuir? Por que esquecer de que é possível querer e conseguir? Talvez nunca tenha acontecido, é verdade, mas... quem sabe? Talvez seja agora. Talvez, essa seja sua hora...
Não desperdice. Não deixe de sonhar.

terça-feira, 19 de abril de 2011

O dito pelo não dito

Hoje minhas plantas falaram. Estava deitada e ouvi alguém chamando, gritando meu nome. Uma voz muito fina, muito animada. Levantei preocupada. Corri pela (pequena) casa e nada vi.
Abri as cortinas e lá estavam elas. Olhando para mim naquele verde novinho em folha que só Vinícius saberia descrever. Mas aqui, com folhas, galhos e flores.
Amanhecia e ali estavam elas - guiadas por uma mente insana e totalmente desprovida de psicotrópicos. Elas se balançavam com o vento e me diziam coisas que Freud ficaria chocado.
Decifraram meus pensamentos e angústias, cantaram as músicas que eu precisava ouvir, descreveram aquilo com que eu sonhava, meus desejos mais profundos.
Elas sabiam tudo. Tudo que nunca verbalizei. Tudo que sempre pensei em dizer. Todo o pessimismo que não ouso publicar, todo o otimismo que nenhuma Pollyana poderia alcançar. Falaram de assuntos proibidos, apontaram as minhas vergonhas, me acusaram de atitudes que não tive, elogiaram aquelas que ousei e me arrisquei sem pensar (“tentar é válido”, gritou a mais inflamada).
Me fizeram chorar, me fizeram rir. Me encantaram. Me desencantaram. Passaram a falar sobre o trabalho, os erros, os acertos. Depois falaram de amor, com todas as minhas escolhas mal feitas, as coisas não ditas e aquelas "mal ditas". Apontaram atrasos, mostraram belos e corajosos passos. Provaram (ou tentaram) que ainda há tempo para tudo.
Minhas plantas falaram hoje. Elas sabem o que penso, mas não têm a menor ideia do que é pensar. Sabem apontar enganos, mas não sabem como é viver. Conhecem os meus medos, mas não sabem como é tê-los. Sabem como é o sorriso, mas não conseguem sorrir. Vêem as lágrimas, mas são incapazes de chorar.
Minhas plantas falam, mas não sabem como é difícil dizer.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Dia do Beijo

Beijar é íntimo. É pessoal.
Beijar é bom...
No rosto, com gosto.
Na boca, com tesão.
Beijar é quente...
Abraçar com o beijo é carinho declarado.
Chorar com o beijo é amor (ou desamor).
Rir enquanto beija é humor.
Beijar dançando dá calor.
Dormindo, é cena de cinema.
No banho, molha.
Na cama, devasta...
Beijo... ato tão simples e tão complexo.
Uma das melhores coisas da vida.
Beijamos quem queremos.
Beijamos quem gostamos.

Mas, sempre, beijamos... porque amamos.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Sem controle

Tentamos controlar tantas coisas sem nenhum sentido, sem nenhuma importância. Nossa cabeça controla nosso corpo, mas nunca consegue controlar os tais homenzinhos soltos lá dentro (como bem descreveu Freud). Eles parecem trabalhar involuntariamente – a favor ou contra você.
Não controlamos sentimentos, sensações, gostos ou jeitos. Usamos a tal máscara diária para exercer aquilo que esperam da gente. Nos acostumamos tanto com isso que dificilmente conseguimos larga-la. Nosso controle mental nos impede de tirá-la até quando estamos sozinhos em casa. Passamos a encenar para nós mesmos.
Então, nos aproximamos de alguns, nos deixamos levar pela incrível sensação de bem estar. Depois, passamos a nos transformar em medrosos em potencial. Seres receosos demais que precisam controlar o sentimento para não sofrer. Culpamos a idade por isso, mas a culpa pertence aos homenzinhos.
Nos acomodamos em empregos que odiamos. Controlamos a raiva diária de trabalhar em alguma coisa que não dá nenhum prazer (e nem mesmo dinheiro o suficiente). Seguimos assim. Nada a mudar, tudo a sofrer. Pagamos as contas mensais e esperamos por um milagre vindo por email. Um convite ou uma oportunidade que (ironicamente) nunca procuramos.
O tal controle (descontrolado) da mente faz com que notícias lindas e felizes, se transformem em julgamento pessoal e mental. Alguém apontando seu atraso, sua falta de sorte, seu dedo podre.
Controle... uma tentativa inútil. Não controlamos os terremotos incansáveis do outro lado do mundo, nem o ditador que se recusa a sair, nem um louco revoltado que decide matar crianças, nem um amigo que te trai, nem uma ligação que não acontece, nem a escolha de uma paixão, nem a decepção de uma ilusão... não controlamos nada.
Mesmo assim, podemos tentar fazer com que os tais homenzinhos trabalhem a nosso favor. Buscando pensamentos positivos, otimismo e disposição. Se der certo, talvez alguma coisa faça mais sentido.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Aí...

Aí... você conhece. Aí... você se apaixona. Aí... o mundo passa a ter uma cor mais brilhante. Aí... você tem certeza de que a vida está completa. Aí... você sabe que nunca poderá acabar. Aí... você tem certeza de que não saberia viver sem. Aí... você decide que não pode mais viver sem. Aí... você passa a dar boa noite e bom dia. Aí... o carinho parece infindo. Aí... você tem café na cama. Aí, você também janta na cama. Aí... você já não quer mais sair da cama. Aí... trabalhar é um horror.
Aí... você já está. Aí... o amor é reticente. Aí... o mundo volta a ter a mesma cor que sempre teve. Aí... a vida não está completamente do jeito certo. Aí... você pensa que até poderia acabar. Aí... você até viveria sem. Aí... a noite é chata e o dia branco. Aí... o carinho sumiu. Aí... o café acabou. Aí... não tem janta. Aí... você nem lembra por que deita. Aí... trabalhar é ótimo.
Aí... você não está. Aí... não tem amor. Aí... o mundo é preto e branco. Aí... a vida é injusta. Aí... acabou. Aí... você não tem. Aí... que horas são? Aí... você inveja o beijo da novela. Aí... você não acorda. Aí... você não come. Aí... você não dorme. Aí... trabalhar é o fim.
Aí... você sorri. Aí... você acredita. Aí... o mundo, enfim, volta a ter cor. Aí... a vida é pra ser vivida. Aí... recomeça. Aí... você se valoriza. Aí... a noite é criança e o dia acaba de começar. Aí... o carinho ressurge. Aí... o café revigora. Aí... o jantar é encontro. Aí... a sobremesa é a melhor refeição do dia. Aí... você quer deitar acompanhado. Aí... trabalhar é diversão.

O ciclo do amor é permanente. Mesmo que não seja claro ou definido. Um dia a escolha é certa. Acreditar é a chave.
Aí... quem sabe o pra sempre não exista (finalmente)?

segunda-feira, 28 de março de 2011

Mágica tentativa

“A morte faz parte da vida”, já diria a mãe do Forrest Gump. Num outro contexto, um personagem do livro “Comer, Rezar e Amar”, avisa que “até onde sabemos, somos a única espécie do planeta a quem foi dado o presente – ou talvez a maldição – de ter a consciência da nossa própria mortalidade”.
Não esse não é texto depressivo, é apenas uma constatação de fatos. Somos o agora, mas um dia não estaremos mais. A vantagem disso tudo (e a única, ao que parece) é que não sabemos quando pode acontecer. Por isso, não vivemos esperando para que aconteça. Melhor assim.
O fato é que mesmo sabendo que precisamos agradecer, lutar, correr, querer, amar e ajudar para viver, nem sempre pensamos assim. Se estamos ficando velhos, pensamos mais na morte e esquecemos que sempre é possível mudar tudo – considerando que ninguém sabe quando ela vai bater na porta.
Se você não faz ideia se vai durar mais 1 dia ou mais 10, 30, 50 anos como pode desistir sem antes tentar? Somos seres pensantes (alguns mais que outros, é verdade). Podemos sempre lutar, sem desistir. Se a vida não acabou, ainda há tempo.
Aqueles que desistem podem passar o resto da vida (seja quanto tempo isso durar) reclamando do que não tiveram, do que perderam, do que gostariam de ter. Triste. A gente sempre pode trocar tudo, porque somos seres mutáveis. Mudamos todos os dias um pouco mais. O que gostávamos há 10 anos, não é exatamente o que queremos hoje, nem o que desejamos para amanhã. Então, por quê nos esquecemos disso?
Saramago (e já escrevi aqui) começou a escrever aos 60 anos, conheceu a mulher da sua vida aos 63 e ainda teve tempo de um Nobel da Literatura. A vida permite que sejamos aquilo que lutamos para acontecer. Essa é a magia da história.
Se a gente acreditar e tentar, tudo é possível (e não é apenas meu lado Pollyana falando). Só não vale esperar pelo cortejo na porta de casa, como fez o Coronel Aureliano em “Cem Anos de Solidão” – é poético no livro, mas desistente demais na vida. Se respiramos é porque temos o dever, a glória ou o azar de viver. Então, nos resta tentar.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Final Feliz

Estamos acostumados ao “happy ending”, mesmo sem vive-los (exatamente). É inato ao ser humano. Não conseguimos (nem queremos) nos conformar com um final sem sentido, em aberto, uma coisa meio de lado, meio filme do David Lynch. A gente simplesmente não sabe conviver com isso. Aí, buscamos o final certo, mesmo que mais trágico (mas sempre mais feliz, revelador, surpreendente).
No cinema, nos livros, a gente até aceita um fim sem explicação. Julgamos esse tipo de arte pela capacidade de nos encantar, de nos apaixonar pela personagem, pela vida cruel, pelo sentido triste de uma rotina sem muito valor. Mas, na nossa vida, na vida real, queremos o água com açúcar. Quanto mais cor-de-rosa melhor, claro.
Por isso, esperamos o que não se deve esperar. Uma ligação, um contato, uma história sem sofrimento, mais amor, mais carinho, atenção, presentes, jantares, passeios, festas, conversa fiada, sorrisos, abraços, lágrimas de felicidade e por aí vai... Quando o fim se aproxima, achamos injusto, e passamos a culpar o outro, dizemos que é karma e sobra até para Deus (o coitado, sempre leva a culpa). Afinal, fiz tudo tão certinho, por que não deu certo?
Custamos a aceitar (e custamos mesmo) que nem tudo é para dar certo. Tem coisas que simplesmente não devem dar certo. Que não eram para acontecer, que não deveriam nem ter começado, que todos os sinais apontavam para um fim, mas você não viu (porque não quis). Aí, só vai perceber que aquilo era o melhor quando o tempo passar. Quando aquela sensação de uma vida injusta ficar distante e você reparar que era tão claro... Como não percebeu? O fim estava ali, na sua cara, desde o início.
Vida injusta. Ingrata. Faz a gente aprender da pior maneira. A gente sofre e passa meses (ou anos) em busca de uma razão, uma explicação para tal sofrimento. E só depois de tudo isso é que vemos que não há razão. É apenas nosso desejo pelo final feliz. Aquela sensação que até quem não gosta tem em filmes bobos, conhece e quer viver. Aquela coisa de contos de fadas. Aquela ilusão do “felizes para sempre” – mesmo que (no fundo) a gente saiba que o pra sempre, às vezes, acaba.

terça-feira, 22 de março de 2011

Desabafo santista

Empresto meu blog, hoje, para meu irmão. Um homem indignado com as mudanças de caráter de um menino (sim, menino) do seu (do nosso) time.
Levanto a questão para dizer que é difícil ser homem (desses com H maiúsculo) com tão pouca idade e maturidade, e com já tanto dinheiro em caixa. Difícil saber o que fazer quando você mal entende o que vai escrito num contrato. Sem ler, sem escrever, sem entender palavras complicadas, esses meninos crescem milionários e sem o menor critério do que é certo ou errado. Eles acabam (quase todos) caminhando para quem dá mais.
Aí... caímos para a mesma ladainha de sempre: quem prepara essa molecada para ser gente grande? Para ser rico? Para ser atleta e não um idiota em busca de dinheiro? Ninguém. Todos os que estão ao redor deles querem a mesma coisa que eles. Fato. Triste e curto fim de quem mal teve um grande começo.
Não, não é apenas pela saída do garoto do Santos, mas é uma problemática generalizada sofrida em qualquer time de futebol brasileiro. Infelizmente, esses meninos passam de ídolos, e viram grandes piadas (dessas prontas mesmo).
Sem mais. Segue o texto de Bruno Julião.

Desabafo Santista

Chegou ao Santos em 2005, foi campeão paulista sub-17 em 2007 e 2008 com mais 21 ao lado, virou banco do profissional em 2009 e foi promovido em 2010, de novo com mais alguns outros tantos.
Juntamente com mais 21 jogadores, venceu os títulos Paulista e Copa do Brasil em 2010, jogando (até as fases de oitavas de final) de forma convincente. Nas fases de quartas, semis e finais passou sufoco.
Não foi convocado, apesar do clamor público.
Rompeu os ligamentos do joelho e sete meses parado, mas recebendo seus 130mil mensais.
Voltou aos gramados no início de março, jogou 3 jogos e nada fez, e agora pediu pra sair do Santos, que "não o valoriza" segundo suas própria palavras.
Agora pergunto: quem é esse tal de Ganso? o que, de fato, ele - e apenas ele - fez ao Santos? desde quando o sucesso de um time de futebol depende apenas de um jogador?
Nem quando o Pelé jogava era só ele. Coutinho, Pepe, Edu, Zito e Cia possuem grandes porcentagens de mérito nas conquistas do melhor time da história do futebol.
Ganso é uma amostra grátis (paradoxalmente cara demais) de um grande jogador. Nada mais.
E hoje avisa que quer sair do Santos, pois o clube não o valoriza?
Apenas para que ele saiba, um dia ele não mais jogará bola. E um dia não mais caminhará pelas ruas, como qualquer mortal que somos.
O Santos vai.
E outra coisa me vem a mente: 130mil x 7 meses parados dá 910mil, sem contar outros certos benefícios.
Realmente o Santos não valoriza seu herói. Este herói de Hans Christian Andersen. O Patinho Feio.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Vida egoísta

Nossos problemas ainda são maiores do que os dos outros. Não há como evitar. Sua vida amorosa, financeira, familiar, profissional está acima de qualquer catástrofe que não te envolve. Difícil ignorar.
O Robinho está processando a Nike porque não recebeu uma ou duas parcelas de um contrato de sei lá quanto tempo. As parcelas devem ter valor altíssimo, imagino. Como santista e fã do menino da Vila (ainda, mesmo que de longe), acredito que ele mereça a grana.
Porém, ao lado da mesma manchete se vê os destroços e riscos de apagão dos japoneses. Usinas que não param de explodir, corpos que não param de aparecer... Tudo tão triste que a única coisa que pude pensar é: essa grana é o que? Robinho quem? Nike? Desculpa, título falido. Matéria boba.
Continuando a ler meu jornal online não pude evitar de pensar que perto da vivência horrorosa vivida pelos japoneses, qualquer coisa realmente é boba (principalmente quando não vai matar ninguém de fome – como o caso do jogador). Não dá pra comparar.
Lembrei de uma pessoa que um dia me disse o quanto o trabalho voluntário pode fazer bem para a gente perceber que nossos problemas são menores do que de muita gente. Realmente são, mas são nossos. Isso já os torna maiores e muito mais problemáticos. A gente consegue ver de fora, diminuir sua intensidade, mas não dá para esquecer. É impossível evitar.
A tragédia do Japão é uma das coisas mais cinematográficas que estamos presenciando. Hollywood nunca pensou algo assim. Ainda bem. Porque estamos observando, mesmo que de muito longe, uma das coisas mais tristes que pode acontecer em um país. Tão devastador quanto uma guerra – e aqui contra a natureza (guerra que já começa vencida e com perdedor anunciado). E, ao mesmo tempo, um povo educado e resignado. Que passa fome, mas não saqueia supermercado, que chora calado e luta pela própria sobrevivência.
O Robinho deve me desculpar, mas ele e a Nike não são notícia. A prisão domiciliar do empresário X também não. Mas, os meus problemas continuam batendo na minha porta... todos os dias e o tempo todo. E aí, peço perdão aos japoneses.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Loucas sim

Ontem foi o dia internacional da mulher. Sempre fui contra. Sempre achei uma bobagem infinda. Um ato quase machista de dizer: ei, sexo frágil, você precisa mesmo de um dia especial pra lembrar que é menor do que a gente.
Bobagem (a minha, nesse caso). A gente precisa e merece sim um dia especial. Não que isso mude alguma coisa na vida de cada mulher no mundo. Continuamos trabalhando muito, ganhando menos (as vezes mais); lutando para crescer (intelectualmente, fisicamente ou psicologicamente); fofocando mais do que deveríamos; usando burcas (em alguns lugares); sendo apedrejadas em outros; amando homens errados (e tendo certeza de que era o certo); querendo mais (sempre mais); achando que podemos mudar o mundo (ou, pelo menos, o que nos cerca); sentindo a dor do parto; educando e criando novos seres; falando mais do que deveríamos; torcendo pelo time certo (e as vezes por motivos totalmente errados); querendo conhecer (ou votar a) Paris; precisando ganhar mais para comprar mais; olhando o armário cheio e não encontrando nenhuma roupa apropriada; fazendo manha só pra ganhar algo extra; gritando como louca só pra provar que pode; sentindo ciúmes de coisas ridículas; querendo ter a barriga da revista; comendo folha e achando que um brigadeiro pode compensar o sacrifício; comprando sutiã que aumenta; usando calcinha que prende a barriga, a bunda, a perna; lutando contra a celulite; olhando as rugas novas no espelho cruel; pensando na idade biológica como principal inimiga da vida; fingindo não ver a balança ao lado; sorrindo quando alguém lhe dá passagem no trânsito e nunca deixando ninguém passar; sorrindo novamente, mas dessa vez com vontade de chorar e chorando com vontade de rir; sendo mãe; amante; filha; psicóloga; amiga; carente e profissional.
Tudo isso em um único dia e fazendo as horas renderem ao máximo. Sim, precisamos de um dia para chamar de nosso. As nada frágeis mulheres são as únicas que conseguem pensar em muitas coisas ao mesmo tempo, errar tudo mesmo que tentando acertar, na esperança de contradizer a única coisa que realmente somos, mas detestamos admitir: loucas! Sim. Mas, e daí?

quinta-feira, 3 de março de 2011

Agradecer sem culpa

Por que será que temos tanto problema em aceitar as coisas boas? Sempre encontramos uma forma de pensar em coisas que desfazem (ou desmerecem) aquilo que aconteceu de bom com a gente. Mas... por quê? Não merecemos que a vida nos entregue algo bom vez ou outra?
Claro que merecemos, só não estamos acostumados a “apenas” agradecer. A gente precisa pedir. Está na oração da fé. É quase uma lei. Um dogma.
Para não se sentir mal, a gente emenda com pedidos genéricos e óbvios como saúde, proteção e por aí vai. Precisamos pedir alguma coisa ou Deus estranha. Então, pedimos!
Mas por que mantemos a mania de pensar que se um lado da sua vida está bom o outro está (ou ficará) mal. É a tal lei da compensação. Quem disse isso? Os dois lados (ou três, quatro) não podem caminhar juntos? Não sabem andar de mãos dadas?
Aí, alguém diz que é uma questão de prioridade. Se você dá mais atenção para um lado da vida, logo ele funcionará melhor que o outro. Realmente faz bastante sentido. Porém, como mulher, não concordo. Nós (seres femininos) conseguimos dar atenção a tanta coisa ao mesmo tempo, que não há porque se dedicar a apenas um lado da vida. Temos a total capacidade de concentração em todos os lados (assim como podemos esquecer todos eles ao mesmo tempo, claro).
Mas, em geral, a gente esquece que pode, que deve, que tem direito. Esquecemos que nós (os bonzinhos da nossa própria história) merecemos a vida plena. Queremos todos os sete desejos pulados nas ondas do reveillón. Aquela lista imensa de resoluções (e pedidos) de início de ano. A vela acesa para o santo. E queremos (um dia) não precisar pedir e não se sentir culpado por isso. Afinal, estamos agradecendo. Isso é muito melhor que pedir, certo?

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O trabalho de estar vivo

O mundo entrou num colapso e não há nada que nós possamos fazer. De repente votar na estrela, no tucano ou no verde ficou tão pequeno perto do resto. Ficamos insignificantes perto de problemas muito mais sérios. Problemas que não sabemos (ou podemos) resolver.
A história começa aqui mesmo. As chuvas são incontroláveis e os desastres também. Se está no morro, na encosta, creia: quem vence é a natureza. Não duvide. Se duvidar, ela faz questão de provar. As árvores caem, o trânsito alcança quilômetros nunca antes vistos. As cidades ficam debaixo (literalmente) d`água.
Aí, começamos a rodar o planeta e vemos nevascas, terremotos com escalas altíssimas, gente soterrada, gente sem poder sair de casa, gente sem família... Não tem chuva, mas é tudo natural. Vem da natureza e destrói. A natureza vence novamente.
E quando a natureza é humana? Guerra civil. Homens e mulheres revoltados vão para as ruas derrubar ditadores. Usam a internet como arma. Muitos mortos e feridos depois... vencem. Mas a qual preço?
Seguindo a mesma onda, outro país começa o mesmo tipo de guerra, dessa vez, civil e militar. Governantes fogem, mas garantem com armas, força e aviões que ainda estão no poder. Fato que mistura religião, governo e população, numa miscelânea fadada ao fracasso.
Enquanto isso, em outra parte, a crise e os ataques sempre continuam em busca da terra santa, prometida, sabe-se lá.
Apesar de tudo isso, ainda tem gente que garante que o fim do mundo virá em 2012, quando os maias (povo extinto, diga-se) cansaram de fazer a conta. Realmente o mundo acabou pra eles, assim como está acabando para muitas pessoas com fenômenos, revoltas, governos e crenças.
O mundo não vai acabar, ele já está acabando. Todos os dias e cada vez mais. Se vão restar pessoas; se poderemos fazer alguma coisa para ajudar; se vamos todos nos juntar para salvar alguém ou todo mundo, eu não sei. Mas sei que, se vamos ficar por aqui (ao menos por enquanto), teremos muito trabalho pela frente.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Amor, de tarde

Em um de seus lindos momentos de amor, quando descreveu que olhar no relógio é triste, simplesmente porque está só... Ah, se o grande amor estivesse! Ah! Quanta coisa faria, quanta risada daria, quanta vida teria! Ah! o amor...

Amor, de tarde
Mario Benedetti

Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el reloj y son las cuatro
y acabo la planilla y pienso diez minutos
y estiro las piernas como todas las tardes
y hago así con los hombros para aflojar la espalda
y me doblo los dedos y les saco mentiras.

Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el rejoj y son las cinco
y soy una manija que calcula intereses
o dos manos que saltan sobre cuarenta teclas
o un oído que escucha cómo ladra el teléfono
o un tipo que hace números y les saca verdades.

Es una lástima que nos estés conmigo
cuando miro el reloj y son las seis
podrías acercarte de sorpresa
y decirme "¿que tal?" y quedaríamos
yo con la mancha roja de tus labios
tú con el tizne azul de mi carbónico.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O estar e não estar de Saramago

Com 60 anos ele decidiu escrever. Deu certo. Com 63 ele conheceu a mulher da sua vida. Deu certo. Aos 86 estava cansado, mas continuou produzindo. Sua cabeça não morreu, seus livros eternizaram sua inteligência e seu amor o fez morrer jovem. Muito jovem.
Se a morte para ele era o estado de “estar e já não estar”, enquanto “estava” aproveitou. Viveu, escreveu, brincou e amou muito. Amou uma mulher forte, uma espanhola que organizava sua vida e que tardou em chegar (como ele mesmo escreveu). Uma mulher e tanto. Um pilar na vida do escritor. Pilar, Pilar...
Com frases cheias de humor e o coração cheio de amor, Saramago viajou o mundo autografando, falando e fingindo ser inteligente (segundo ele próprio, numa humildade desnecessária). Sua fé (que nunca existiu), se coloca um pouco em dúvida já no fim da vida (talvez por medo, talvez por esperança) e avisa o óbvio: “o que tiver de ser, será” e “quem quiser, crê. Acabou-se”.
A velhice nunca chegou até ele, mas alcançou seu corpo. Descrevia que ser velho é “sentir a perda irreparável que é o acabar de cada dia”. Assim como garantia que o universo nunca se dará conta de que nós existimos, pois “nunca conseguimos fazer da vida mais do que o pouco que ela é”.
Assistir ao filme José e Pilar me fez louvar não somente o brilhantismo de Saramago, mas ver também o quanto o amor é mesmo poderoso. Tão significativo que não precisa da fé. Simplesmente porque a fé já está dentro dele. Vem junto no pacote completo do amor.
Se José esteve e já não está, seu amor continua por Pilar e nos faz querer viver alguma coisa parecida. Sem pensar em idade... só em felicidade.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Vida mais clichê

A história é clássica. Quase um clichê dentre todas as histórias que já vimos e ouvimos em um relacionamento. Anos juntos, amor incondicional, paixão, blábláblás sem fim cheios de promessas e planos. Até que o fim vai ficando mais claro a cada dia.
Brigas, discussões... tudo que antes era lindo, passa a ser meio chato. O jeito dele ser independente demais, encantava no início, até que você passa a perceber que esse mesmo jeitinho está te deixando cada vez mais sozinha.
Naquela noite fria de inverno (a mais fria do ano) você estava só porque ele precisava pensar na vida. A festa do seu melhor amigo aconteceu bem no dia em que o trabalho o deixou sem humor nenhum. Happy hour dia de semana? Só se for em voo solo, porque acompanhado no way! Dia de semana é dia de trabalho, cervejas na frente da TV, ou academia e... sono profundo. E aí... você vai vendo que está, na verdade, sozinha há muito tempo (talvez desde o início). Só custou a perceber.
Então, logo está tudo terminado e não há mais o que fazer. Na verdade, você sempre soube que não teria futuro (porque não é isso o que você espera da vida) e tudo acaba num vale de lágrimas. Sim, porque somos mulheres e sofremos – mesmo quando sabemos que esse é o melhor a ser feito.
Aí, o tempo passa. Você sofre um bocado e começa a se recuperar. Começa a lembrar que a vida de solteira não era tão mal assim. Aos poucos vai se habituando, dedica-se mais ao trabalho, investindo na carreira, participando ativamente de happy hours e festas. Os meses passam e você, sem querer, descobre o que não esperava: Seu ex-namorado (aquele individualista, independente e solitário) se casou! Ele casou!
Bom, o que vem depois disso só vai aumentando ainda mais o clichê dessa história, não fosse por um pequeno detalhe: isso não é mais história clássica heterossexual. O mesmo também acontece no mundo gay (mesmo que com muito menos drama e menos lágrimas, no geral). Ou seja, nem do clássico podemos nos gabar. Acabou, minha gente. O mundo é mesmo gay e, nós, viramos clichês das nossas próprias histórias.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Atraso

Meu relógio acaba de despertar. Olho para a cabeceira da cama e vejo números trocados. O relógio marca 26h86. Que hora é essa? Coloco os óculos, tento apertar o snooze, mas a música não para e vai ficando mais alta a cada segundo que passa.
Levanto e está escuro. Mais escuro que o normal. Arranco o relógio da tomada e ele não apaga. Ainda marca uma hora louca. A música está ensurdecedora. Procuro pelo celular, mas tem pouca luz. É estranho porque não durmo com todas as luzes apagadas. Sempre há alguma... mas agora, nada. Só breu.
Me desespero. Corro para a janela, abro e nada. Tudo escuro. A cidade não existe. Está vazia, sem lua, sem estrela, sem nada. As ruas parecem antigas vielas de terra, mas estão como um mar de piche. Nada se vê. Um blecaute desesperador. E a música não para. É frenética e quase intolerável.
O mundo acabou e eu sobrevivi? Busco o celular tateando pela mesa da sala. Encontro. Ainda há luz nele – iluminando o ambiente. Mas o relógio do satélite da operadora também está louco: marca agora 26h96. Que droga é essa?
Olho a minha casa através da luz do celular. Tudo estranhamente igual. Nada funciona. Nenhum interruptor acende. Busco as velas e começo a acender tudo. Vou para a janela e nada. Ninguém. Não se ouve nenhum ruído da noite. Nenhum cachorro late, nenhuma música toca ao fundo (além da minha), não tem burburinho, nada... que horas são agora?
Tento telefonar, mas não tem linha. Tento no celular, mas a ligação falha. Estou sozinha, no escuro, rodeada por velas e querendo ver o amanhecer. Espero, espero... torço, torço... rezo, rezo... e ele não vem. Agora o relógio (que não está ligado na parede) marca 28h38. Nada aconteceu. Ninguém se levantou. Nem o sol, nem o ruído, nem o calor, nem o frio (o tempo está de um jeito especialmente morno). Nada.
De repente penso que tudo isso por ser sonho. Pesadelo, nesse caso. Volto pra cama, fecho o olho e tento voltar pro sono. Tento voltar para a vida e encontrar a razão de tudo isso. Enquanto penso, me perco, me embaralho e, enfim, durmo.
O relógio desperta. Olho para ele e vejo o óbvio: estou atrasada. Muito atrasada.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

(im) Perfeitos

Em mais uma conversa franca (e meio bêbada, é verdade) de bar, alguém declara: “os homens perfeitos são os viúvos”. No mesmo momento, me perguntei: a que ponto nós, mulheres solteiras com mais de 30, chegamos?
Vamos analisar a frase: viúvos são os solteiros sem ex-mulher. Ou melhor, com uma ex-viva (com o perdão da piada). Não é pior? Será que não seria melhor lidar uma loira/gostosa viva do que um fantasma no retrato do criado-mudo?
Ou as mulheres enlouqueceram ou eu tenho medo demais de fantasma (o que também é uma grande verdade). Mas, veja bem, um homem com um passado triste, traz mais carga do que qualquer outro trauma (que, nesse caso, passam a ser imbecis) como traição, casamento falido, ex-mulheres ciumentas, loucas por dinheiro e quebradoras de coisas. Sei lá!
O sofrimento não melhora ninguém. Piora. Essa coisa de que quando a gente passa por uma coisa muito triste, melhoramos e passamos a ver a vida de outra maneira só vale quando se trata de morte. É verdade. Mas, ainda assim, vale apenas pelos meses (ou anos) do luto. Depois, passamos a esquecer da nossa óbvia mortalidade e voltamos a ser os idiotas de sempre.
Isso tudo é bobagem demais para mulheres inteligentes. No fim do bar, tudo não passou de uma piada infeliz, claro. Mas se pensarmos que alguém somente pode ser sensível se já tiver sofrido, comprovaremos que as traumatizadas e problemáticas somos nós (mulheres). E que eles (homens) são os pobres coitados que, em geral, desistiram de encontrar uma pessoa sem neuras, sem loucuras e sem mau humor. E isso... é bem injusto.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A favor da maré

O mundo está indo contra a corrente óbvia do desenvolvimento. Não, não é um texto político. Tampouco vou dizer que não tivemos avanços (até porque, isso, mostraria que não leio, nem vivi os últimos 15 anos, pelo menos). Mas para algumas coisas, estamos atrasados. Mesmo.
Não vou discutir a terra santa de ninguém, nem vou falar que o amor por Deus não pode matar tanta gente, nem criar homens-bomba. É contraditório demais. É retrógrado demais.
Também prometo não comentar sobre o (não) uso da camisinha pela igreja católica ou o (não) sexo antes do casamento em outras igrejas, ou ainda tudo que envolve as duas coisas. Dogmas e regras sem sentido num mundo evoluído?
Não quero comentar o absurdo do comunismo. Uma tentativa falida de ser fazer alguma coisa certa. Pior ainda o socialismo comunista em que as pessoas são presas em seus próprios países, sem nenhuma chance de fuga sem risco. Tudo lindo no papel, mas na prática não funciona.
O texto era apenas para dizer que o casamento gay será um fato. Um dia, tudo isso será uma tremenda bobagem sem tamanho – assim como as mulheres (antes) não podiam trabalhar ou votar. Os franceses estão contra a maré dos fatos. O Brasil também está. Quantas e quantas paradas gays deverão existir para que as pessoas deixem de hipocrisia? Quantos e quantos amigos você ouvir dizendo que está apaixonado por alguém do mesmo sexo para não se chocar?
Enfim, não sou judia, não tenho sangue árabe, nem sou católica ou evangélica. Não sou comunista e adorei Cuba (e não há contraponto nenhum nisso). Não sou gay (e ainda acredito nos príncipes/sapos da vida). Mas... acho que já sou desenvolvida - seja lá o que isso queira dizer.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Chove lá fora e aqui...

Aí, você decide que vai ter uma vida mais alienada. Decide que não quer mais saber o número de mortos nas enchentes e deslizamentos, nem a quantidade de gente soterrada por toda a lama. Você decide que é melhor ignorar e viver sua vidinha medíocre, em cima de seu prédio bem construído, no alto da maior cidade do Brasil.
Quando a chuva começa, lá em cima, na sua varanda, você olha e faz uma breve prece para que Deus não desista daquelas pessoas. Você desistiu por ser covarde demais e impotente demais para resolver qualquer situação. Mas Deus não. Ele pode. Então, você pede toda a atenção dele e volta ao trabalho como se o barulho da chuva (ou temporal) o ajudasse na concentração.
Aí, como de hábito, você abre o jornal da manhã (pela internet) e a primeira foto é o que a chuva do dia anterior causou. Quantas crianças estão precisando de novos pais, nova vida, nova perspectiva. Lê sobre um cachorro que se foi levado pela água e pensa: a natureza vai mesmo vencer, quando as pessoas vão descobrir isso?
Todas as crianças podiam estar aqui, comigo. De verdade, eu adotaria cada uma. Não sei como sobreviveria, como a gente comeria, mas daríamos um jeito, tenho certeza. O amor faz brotar... até comida e dinheiro brotam. Mas na realidade sabemos que nada disso vai acontecer até que você faça. Reaja. Aja. E como é difícil... Você separa sacolas para doação, se preocupa, envia e... o que mais?
Avatares de uma vida contrária. Eles invadiram um espaço destinado ao verde, aos morros, a uma outra vida. Eles entraram e a natureza os tirou. Nesse momento discutimos a atuação política, o crescimento de um país que, mesmo sem nenhuma estrutura, vai sediar a copa do Mundo, as Olimpíadas (outro papo, mesmo problema). Que não chova muito até lá!
O país chora lá fora... Chove lá fora... e eu continuo aqui dentro, completamente chocada, com calor e sem a menor atitude. Triste.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O acaso sem sorte

Esperar o que não se espera. Louvar o que não se vê. Contar com a sorte. Mas como?
Estamos acostumados a conviver com o inesperado. Ele faz parte das nossas vidas, está ali – mesmo sem a gente ter ideia do que é, do que virá. O inesperado não irrita, não angustia, não deprime – simplesmente porque não fazemos a menor ideia do que pode acontecer. Não contamos com ele, não sabemos dele, não esperamos. Mesmo se a notícia é ruim, não há previsão ou aviso. O inesperado não manda email, telegrama, nem escreve carta de amor (eles podem até chegar, mas só saberemos quando acontece).
Assim como louvamos tanta coisa que não vemos e não conhecemos que nem vale muito uma explicação (na verdade, nada disso vale, mas o texto é meu, então...). A começar com Deus, o pecado, os santos e santas... a fé é a maior explicação do louvor ao que não se vê. Assim como o conhecimento, a sabedoria, a inteligência. A gente quer tudo isso, admira quem tem mais do que a gente. Nós buscamos isso na vida, mas é uma busca eterna e infinita. Ninguém nunca saberá tudo, nem viverá tudo, nem dará os melhores conselhos. Por ser tão intocado e invisível, louvamos.
Aí, vem a sorte. O que é contar com a sorte? O que é a tal sorte? Se nada acontece por acaso, a sorte não existe, certo? Aconteceu porque tinha de acontecer – o que inclui ganhar na loteria. Sorte é para os ignorantes. Sorte é para aqueles que não confiam na vida, no poder do inesperado, para quem não tem fé ou inteligência o suficiente para aproveitar o lugar certo, na hora certa. A sorte não existe, mas (ainda assim) contamos com ela.
Esse texto meio sem sentido só me leva a crer que devemos criar menos expectativa na vida para ser mais surpreendido. Que devemos ter mais fé e estudar mais para reconhecer o momento ideal e perfeito das coisas boas acontecerem. E que o acaso pode mesmo fazer milagres... assim, por pura sorte!

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Santos é Santos

Santos é diferente. Assim como Nova York é para Carrie Bradshaw, confesso que Santos é pra mim. Com a sutil diferença de que aqui sinto falta de alguns (muitos), sinto falta das minhas flores, da minha casa e sinto meu trabalho incompleto. Mas (e mesmo assim) é aqui que me sinto completa. Difícil relação.
Já escrevi sobre a cidade em tantos textos que nem sei (até acho bom que poucos me leiam, para que apenas eles saibam o quanto posso ser repetitiva sobre o tema). Santos é especial. Fato. Ir embora é sempre uma situação complicada para mim. Me enfraquece um pouco, não sei explicar.
Mas tudo isso não é apenas pelo fato de que, mesmo debaixo de chuva, a cidade é linda, andar na praia é uma delícia, as luzes dos navios no horizonte fazem total diferença ou mesmo por ter o maior jardim à beira mar do mundo. Nada disso faz muita diferença se não houvesse pessoas tão especiais aqui.
Aqui estão as duas melhores pessoas do mundo. A outra está em São Paulo, mas é em Santos que formamos o maior dos quartetos (mesmo que, em geral, somemos apenas três nos encontros). Essas pessoas são a minha diferença, fazem a minha existência e estão no topo da lista de prioridades.
O ano vira e nada disso muda. Pode mudar trabalho, vida financeira, problemas... podem vir decepções, alegrias ou tristezas... podem surgir novidades, novos textos, bobagens... Mas são elas que me indicam a felicidade. São elas que me dizem para parar ou me jogar. São elas que me dão gana de ganhar.
Por elas tudo, sempre. E é aqui, em Santos, que isso tem peso. É aqui que as pedras do whisky dão o som, que os papos sobre a vida e o amor têm mais valor, que a música tem violão e que a risada tem novo tom. Por isso, Santos não é igual a nenhuma outra cidade. Santos é Santos e ponto.