segunda-feira, 8 de agosto de 2011

De olhos abertos

Quando somos crianças não temos medo de cair. Não temos vergonha. Não temos receio de dizer que não sabemos. Gritamos que sim e berramos ouvindo não. Não pensamos no futuro, não lembramos do passado. Nossa vida passa no presente. Só o agora importa. Sem queda. Pura inocência.
Andamos de bicicleta na ladeira e não nos preocupamos com os buracos; pulamos de alturas injustificáveis só por diversão; damos “estrela” (de forma estrelada); corremos para o mar sem o menor receio da maré; pulamos na cama até cansar; saímos correndo pela rua só para constar; damos cambalhotas em chãos ridiculamente duros; dançamos desorganizadamente e sem muito ritmo; gritamos pelos corredores da escola para chamar atenção; jogamos futebol com os meninos e adoramos errar; jogamos vôlei com as meninas só para provar; brincamos de Barbie, Susan, Ken, Bob como membros de uma grande família; namoramos muitos meninos ao mesmo tempo (sem que eles saibam); odiamos as meninas (sem que elas saibam); amamos chocolate sem o menor problema de engordar; encaramos os problemas matemáticos como os maiores do mundo; dançamos no bailinho para que ele veja ou para que ela saiba; dançamos com a vassoura para poder trocar; sonhamos com casamento e filhos para continuar; amamos poucas pessoas, mas com uma intensidade insana; dependemos de um par e não temos o menor problema com isso; choramos com facilidade; sorrimos com ainda maior facilidade; adoramos todas as bobeiras que nos contam; fazemos caretas para assustar; queremos presentes enormes (mesmo que em boa parte da vida, gostemos mais das caixas); abraçamos muito mais e beijamos ainda mais... nos entregamos. Nos jogamos sem o menor pudor - de olhos bem fechados e muito confiantes.
Já fomos sábios. Sabíamos que a maior virtude que tínhamos era acreditar. Com os anos nos tornamos céticos e (com o perdão da rima) também patéticos. Corremos dos sentimentos, não acreditamos nas pessoas, nos decepcionamos com muitos, porque também (de certa forma) decepcionamos muitos.
Crescer vira quase um fardo. Uma luta contra nós mesmos. Uma eterna busca por uma sabedoria inexistente. Nos tornamos frágeis criaturas inteligentes. Bobas criaturas vazias, que ainda correm atrás do pote de ouro, sem conseguir perceber a beleza do arco-íris.
Talvez esteja na hora de reviver um pouco essa sensação. Não, sinto dizer, a inocência não volta mais. Tampouco teremos sabedoria. Continuaremos com o medo da queda, olhar para baixo será sempre uma tortura. Mas... que tal observar a visão linda que temos aqui de cima? Enxergar o passado com beleza, o presente com orgulho e o futuro com esperança? E assim (e quem sabe?) conseguir pular... mas, dessa vez, de olhos bem abertos (só pra garantir).

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