sexta-feira, 28 de maio de 2010

Vida Polyana

Chega o dia que devemos celebrar a vida. Estar aqui (acreditando ou não se existe outro lugar) já é um bom motivo para comemorar, não? A gente acorda, respira, sente, fala, sorri, chora... Viver já é um belo presente.
Aniversários estão na nossa vida como datas que nos fazem pensar em tudo isso de forma concreta - com ou sem ânimo. Não é preciso a cantoria dos parabéns a você para te lembrar de que você está mesmo de parabéns. Está vivo, saudável e com planos.
Uma vez ouvi que a vida é real para aqueles que têm planos. Ela só é válida enquanto planejamos coisas, vivemos problemas, sonhamos com soluções, esperamos a mega sena. Não importa. A vida está embaixo dos nossos pés e em cima de nossas cabeças. Deve ser vivida com garra e contentamento.
Sim, é Polyana. Sim, é piegas. Mas, se todo mundo nasce para um dia morrer, não parece ser mais feliz (e sensato) viver bem o intervalo disso? Claro que é muito mais fácil falar. Sua conta bancária agoniza, seus problemas te ligam, pessoas se perdem pelo caminho. Porém, outras são encontradas, e todas te fazem (ou fizeram) feliz em algum momento.
Nada se perde. Tudo está aí de forma inquestionável. As coisas se encaixam e você nem sabe exatamente como. Quando vê, já sorriu. A leveza está em cada interior... basta vasculhar.
Os anos passam sim. Vamos ficando mais velhos e também muito mais centrados. Ficamos muito mais animados com os resultados e muito menos decepcionados com as tristezas. A vida é um antagonismo só.
Tudo isso para dizer que amanhã faz anos a pessoa mais positiva que conheço. A mais animada para qualquer coisa ou programa. Aquela que ri após o choro e que nunca desistiu de mudar, de sonhar e de buscar. Um exemplo de ser humano (daqueles que dá prazer em conhecer). Pessoa boa de verdade. A melhor amiga que posso ter. Minha mãe.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Quem espera nunca alcança

Quem espera sempre alcança tempo livre e ocioso. Sobra mais tempo para olhar o céu. Mais tempo para ouvir bobagem, mais tempo para reclamar, mais tempo para dormir, para beber, para chorar ou fugir.
Quem espera tem horas extras para caminhar triste e cabisbaixo. Tem momentos de sobra para olhar o mar com melancolia. Conhece bem a sensação de abandono (mesmo se rodeado de gente).
Esperar nunca fez ninguém conquistar nada. Ninguém alcançou coisa alguma sentado numa cadeira de balanço. Nenhum email chegou sem contato prévio; o telefone não tocou; o emprego não aconteceu; seu salário não aumentou; o cavalo branco não chegou na hora certa... Sua vida, definitivamente, não mudou.
Quando algo importante deve acontecer não adianta esperar. Vai precisar bem mais do que isso. Vai precisar de disposição para levantar as mangas, colocar as galochas e se jogar na lama. Porque a vida é lama e “é linda por isso”, já diria Xico Sá. Seja para ir atrás de um porco - ou de uma pérola – para só então chamá-lo de seu. Nenhuma outra pessoa fará isso por você. Aliás, ninguém faz isso por ninguém.
A verdade é que a gente encara qualquer perrengue quando estamos certos da decisão tomada. Quando temos dúvidas, decidimos esperar (e nunca alcançar). É mais fácil. Afinal, o risco é sempre mais assustador do que a tentativa. E é aí que tudo se complica.
Se estamos atrás de uma mudança, esperar só atrasa mais o processo. A retirada dos móveis antigos e entrega no novo endereço só acontecem quando o caminhão está aguardando na porta.
Esse caminho pode (até) ser distante e com curvas sinuosas, mas terá o ritmo que seu coração (e sua ansiedade) permitir, desde que a mudança aconteça. Sem espera.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Tempos de Hard

Depois de tanta tristeza, vem o frio como uma forma de... castigo? Aí, a gripe te ataca (sem nenhum porco envolvido). Tudo junto e de uma só vez.
Antes de você decidir gritar como Hard (em ‘ó vida, ó céus’), começa a pensar em possibilidades menos cruéis de sair por aí reclamando do clima, da vida, do momento, da grana, do trabalho... e de se perguntar onde estão guardadas as gillettes.
Em um pensamento prático e bem idiota, imaginei um serviço de aluguel de pessoas. Veja a simplicidade da coisa: você precisa de alguém para te ouvir, para te abraçar, para dormir, para chorar ou para rir. Faz um telefonema e pronto. Direto para sua casa.
Não, não há nada de promiscuidade nisso. O sexo não está em questão e sim o calor humano. Nem estou falando (só) de carência, mas de companhia mesmo. O frio deixa tudo um pouco mais triste. As pessoas se vestem melhor, é verdade. Mas elas também estão frias, com um ar de mal amadas, mal vividas, mal exploradas, mal comportadas.
Alguém para te levar um chá na cama; ficar debaixo do cobertor assistindo um filme; uma sopa quentinha; um chocolate bem quente e cremoso; conhaque; vinho; lareira... e depois, um adeus sincero. Sem culpa ou ressentimento. Só o pagamento, claro.
Sim, eu sei. Pouco romantismo e muita lamentação. Mas funcionaria apenas pela praticidade e duraria somente dois ou três meses, servindo para muitas coisas.
Importante lembrar que o aluguel desse “calor humano” independe do sexo da pessoa indicada (mulher ou homem), ou mesmo opção sexual do acompanhante, assim como a idade é um dos últimos itens desse contrato de aluguel. O que importa mesmo é a relação intelectual.
Até poderia ser um amigo, mas ele não teria nenhuma obrigação de te deixar feliz ou te dizer que tudo dará certo. Por isso, o aluguel valeria a pena. Alguém a parte da sua vida. Não te deve nada porque vai receber, e se beneficia porque estará em boa companhia (afinal, você é mesmo o máximo).
Uma carência mútua num tempo frio. Acho justo. Honesto até. Só não vale amar, pois pode ser mais trabalhoso e é muito menos prático.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Garoto Bom

Quando criança ele foi meu ídolo. “Era o bom” da música. O homem que me chamava de Juquinha (ou Juca) e apelidou o frango de padaria de “pipi”. Adulta, muita coisa mudou. Ele envelheceu. E, como todos os nossos ídolos, foi perdendo o charme. Seus defeitos passaram a ser conhecidos demais pra mim. Chata que sou, reclamei de todos eles. Também louvei seu eterno bom humor e sua capacidade de superar as tristezas da vida. Ele esquecia. Não falava a respeito. E eu nunca aprendi a fazer o mesmo.
Como tola, briguei, discuti... e me diverti. A cena da cantoria de Francisco Alves (acabo de descobrir) será para sempre inesquecível. E ele (o cantor) ficaria possesso se o visse cantarolando uma letra completamente diferente da sua, em “Adios muchachos”. A música sempre terminava com a frase “há muito tempo que cheguei e estou aqui...”
Trabalhando, passeando com a gente de lancha (ele odiava e a gente amava), falando do bife da minha avó, fazendo café, comendo feijão para (só assim) chamar de refeição, comentando a novela, fazendo palavras-cruzadas (vício), sonhando com a loteria. Tantas coisas...
Difícil vai ser controlar a saudade (inclusive das brigas). Mas, na vida, essa certeza é única, mesmo quando tão inesperada.
A minha homenagem é escrever aqui a letra de uma música que ele escreveu: Garota Bonita.

Garota bonita que anda na rua
A procura da felicidade
Não vá te fiando na tua beleza
E na tua vaidade

A vida é uma mentira
O amor é uma ilusão
Garota bonita
Muito cuidado com seu coração

Fuja sempre do amor
Não te deixes prender
Ele é um fruto de dor
Que faz a gente sofrer

Ouça a voz da razão
Do amigo que diz
Feche o teu coração
Se quiser ser feliz

terça-feira, 11 de maio de 2010

Caminho de lembranças

De repente a gente esquece. Esquece que foi infeliz. Esquece que não foi bom, que não gostou, que chorou, que doeu, que sentiu. A gente esquece também do que fez bem, do que era bom, da química, da conversa mole, da séria, da risada, do som, da voz.
O tempo passa e a gente simplesmente vê que a vida também passou. Você fez outro aniversário, ficou mais velho e, ironicamente, seu rosto no espelho continua o mesmo. Nenhuma ruga a mais, nenhum sinal de alteração que já não existisse (ou será novo?).
As vezes você tem a impressão de que as pessoas se lembram mais do seu passado do que você próprio, definitivamente. Sabem com quem você estava, qual roupa usava, sobre o que falava. E você se pergunta se esteve mesmo ali e quando, exatamente, foi que aconteceu.
Por outro lado, sabe que, se decidir sentar de frente ao mar, vai lembrar. Em detalhes, tudo virá na sua direção como se tivesse ocorrido no dia anterior. Coisas que só você saberia (mas não ousaria) contar. Um ano, dois, oito, vinte... todas as lembranças espaçadas. Estão lá. Das melhores até as mais doloridas. Por isso, de frente às ondas, você nunca pára. Apenas caminha (por pura segurança).
Toda a ternura, o carinho, as palavras mal e bem ditas. O sofrimento da perda, a sensação do início, a esperança de um recomeço. Algo novo. Sem histórias tristes, sem conversas furadas, sem blábláblá.
A honestidade do princípio é sempre duvidosa. Tudo é lindo, para depois ganhar um ar sombrio. Tão complicado de confiar. Sabe que a entrega é fatal. Te mata e te faz renascer (tudo ao mesmo tempo). O que era um sonho, se transforma em realidade e se mostra. Cruel. Feliz. Arrogante. Terno. Quente. Burro. Eterno (quem sabe?).
A razão te traz de volta. Notícias ruins e conversas desejadas te apontam (novamente) histórias esquecidas. O fim não parece ter o mesmo significado, e nem é mais tão real.
Sem explicação, você decide, finalmente, olhar para o mar. Encara, pondera, lembra... e surpreende-se ao perceber que foi (até) mais simples do que imaginava.

sábado, 8 de maio de 2010

Um carioca santista

O mundo que a gente vê perdeu uma grande figura. O mundo que a gente não vê ganhou um homem e tanto. Carioca marrento (como todos) e santista fanático (como nenhum outro). No Rio, jurava ser Botafogo, mas seu coração sempre teve o único peixe alvinegro.
Quando o filho quase virou flamenguista, correu para a igreja com o menino. Não rezou. Resolveu contar a “famosa” (e inédita) história do pessoal rubro-negro. Foram eles que levaram Jesus para a cruz, sabia? “Não dá pra confiar”, dizia.
A batida de amendoim do boteco fuleiro era o combustível para o bom de papo. Um homem sério. Militar, esteve em muitos lugares, mas era em Santos que se sentia em casa, mesmo sem escola de samba. Mangueira de coração, só abandonava a paixão quando falava de Parintins. Lá, era Caprichoso (ou seria Garantido?).
Era um homem de torcida. De bebida. De cigarro. Um militar que duvidava da eficiência da tortura (“muita gente não aprendeu nada”, dizia entre outras coisas), duvidava das pessoas (até que as conhecesse bem) e de que mulheres sabiam o que estavam fazendo (coisa rara).
Fazia cena. Fazia pose. Tirava casquinha do melhor amigo espanhol - só para mostrar o quanto o amava. Era durão, mas não era de briga – só se pedissem. Era um grande cara.
Ele se foi. De repente. Sem aviso ou despedida. Faz sentido. Não era homem de lágrimas ou de adeus. Tinha seu jeito. Seu amor vinha de outra maneira.
Partiu e nos garantiu uma das piores sextas-feiras do ano. Foi tão sorrateiro que, mesmo sem estar mais presente, promoveu conversas impensadas, com respostas tardias. O carioca mais santista que existiu, abandonou a cena e foi pedir amendoim em outro balcão. Deixou o carnaval passar, abandonou a cerveja no copo e o grito de campeão entalado no peito, para assistir o jogo de outro ângulo.
A gente não vê mais. Mas, no fundo, torceremos em silêncio para que a câmera da TV o encontre meio da torcida, gritando pelo Santos - só para matar nossa saudade.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Quase Geni

Ela tem mais de 50 anos. É sozinha no mundo, na vida. Não fosse por sua companheira Susie (a cachorrinha), estaria só e mal acompanhada. Talvez fosse mesmo louca – como muitos do bairro falavam entre dentes – mas não era surda, só não ligava. Vivia do seu jeito.
Ria, falava alto e conversava com pessoas variadas. Se habituou a reclamar da saúde, das pessoas. Não era uma mulher feia. Longe disso. Estava sempre muito bem vestida com seu shortinho curtíssimo (independente do clima) e seu top decotado. Podia até ser motivo de risadas pelo bairro, portarias e mesas de bar, mas nenhum homem diria que não tinha um corpo bonito.
Sabia que todos os olhares mesclavam pena e sarcasmo. Menos um. Sentado na mesa do bar (onde nunca fora chamado) todos os finais de semana, um homem, na casa dos 70 anos, fumava, bebia steinheger e caipirinha (ao mesmo tempo). Era casado, sujo, porco, pai de família e dono de um pássaro que tratava como se fosse cachorro.
Ela passava pelo bar todos os dias. Era seu caminho. Conhecia muitos dos que sentavam ali, mas nunca se sentou. Ficava de pé, na calçada, conversando com as pessoas que lhe davam atenção.
Naquele dia, contava sobre a dor que sentia no ombro e o tratamento que fazia. Ele, o porco, olhava e (literalmente) se lambia enquanto ouvia. Nunca falava nada, nem comentava. Mas, inspirado, dessa vez quase gritou: “Eu queria ser sua tendinite”.
A mesa ficou em choque. O bar parou. Todos esperavam a reação dela, que apesar de louca, não era burra. Se fez de desentendida e, quando começaram a rir da situação, bateu em retirada.
Em casa, pensou na situação e sorriu. Foi amante de tantos homens, viveu tanta coisa... Mas, definitivamente, nunca deitou com nenhum que não quisesse, e essa era uma das coisas de que mais se orgulhava. Podia ser louca, mas tinha pudores, desejos, anseios e afeições. Preferia morrer de tendinite crônica a ficar com homem tão nojento.

sábado, 1 de maio de 2010

Entre a cabeça e o coração

Ela domina, destrói, constrói, cria, inventa, aumenta, diminui, decepciona, emociona, encanta, crê, duvida, acredita... e dói. Essa é nossa cabeça. Tudo o que queremos ou não queremos tiramos dela. É ela que dá a vida ao nosso pior temor e ao nosso maior desejo.
Desejo. Palavrinha complicada essa. Nos envolve em momentos diferentes e com ligações desconectas entre o raso e o profundo. Um sentimento (ou seria uma sensação?) que te leva para profundezas ou superfície em segundos, mas nada diz de concreto.
Voltando à cabeça: ninguém consegue ao certo decifrar a nossa cabeça. Nosso cérebro está aqui (no topo) como algo adjacente, à parte do resto (ao que parece, claro). Como pequenos homenzinhos trabalhando, sem que entendamos no que (exatamente) trabalham.
Nossa cabeça é um ser humano diferente da gente. Ela acaba com você em segundos, ao mesmo tempo em que depois te joga para cima. Cabeças são estranhas paralelas nesse mundo nada mágico. Te persegue, te entrega, se arrepende e... pensa. Como pensa.
O sorriso burro e paranóico não é 100% válido. Ajudaria, mas não em tempo integral. A paixão, o medo e o amor são sentimentos que independem de intelectualidade. Simplesmente porque sofrem sérias influências do coração. E esse moço, bate no peito sem nenhuma restrição ou timidez. Pode parar por instantes, para então voltar a bater ainda mais rápido. Mas nunca, nunca entendeu uma única palavra dita pela tal cabeça. É um bobo emocional incapaz de captar um só sinal. Não conhece entrelinhas, mas um olhar é capaz de fazê-lo saltar pela boca. Tudo isso porque apenas demonstra aquilo que a parte de cima, se nega a acreditar (ou assumir). Um completo imbecil, nada racional.
O equilíbrio entre os dois? Não existe. No momento certo, a opção (e decisão) vai ser sempre a sua - e isso (nesse caso) não quer dizer nada. Acredite.