sábado, 26 de julho de 2008

Odeio baratas

Quando o extremo nos apavora, o jeito é se manter frio. As coisas ficam extremas quando você exagera em reações, em diálogos mal construídos, em brincadeiras mal feitas ou mal entendidas. Aí, podemos chegar ao ponto crucial de um relacionamento (seja homem-mulher, amizade, profissional ou familiar).
Já tive muitas situações extremas que me apavoram só no lembrar. Situações das quais não tive cuidado, simplesmente porque não saberia o que fazer (mesmo hoje, anos depois). Relembrando me vejo novamente encostada na parede. Acuada como uma barata prestes a enfrentar uma vassoura. Ataquei. Assim como os insetos nojentos.
O problema é que atacar nem sempre (quase nunca, na verdade) resolve. Mas quando você vê, pronto. Lá se foi sua sanidade. A loucura de situações extremas é cega, surda e (no meu caso) nada muda.
Mas o que qualifica um momento extremo? A palavra “extremo” tem o seguinte significado, no Houaiss: “que se manifesta em alto grau de intensidade; que atingiu o ponto máximo; anormal, muito grave” – fora ser também um “ponto afastado, remoto”, que não é o caso aqui.
A verdade é que em uma situação nervosa e grave (mesmo que somente nós achemos), chegamos ao extremo. E aí? Explodimos, metemos os pés pelas mãos, suamos, falamos de mais (novamente meu caso) ou de menos... Agimos como baratas prestes a morrer. A parte ruim é que odeio baratas.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Pisavas os astros, distraída

De repente um barracão, no meio do morro, me parece um lindo cenário. O teto de zinco fazia o "chão de estrelas", que “tu pisavas os astros, distraída”. Assim disse Orestes Barbosa.
Essa é uma imagem e tanto. Noite de lua, céu de estrelas e a luz invadindo o chão. Fico encantada quando uma música (nem sempre com pretensão) consegue fazer com que você veja a cena. Um roteiro de imagens, criado pela melodia e letra de alguém (ou ‘alguéns’).
Não. Nada de comparação com os livros. Livros são feitos para isso. A música não. Para gostar de uma música não é preciso imaginar nada. Prova disso foi a Era Beatles, em que brasileiros (ou, pelo menos, a maioria deles) cantaram (em coro) “Is bina rar days naite”. Aqui, a melodia venceu a letra (e a língua) e foi um sucesso.
Assim é também com a música clássica ou - com o perdão da comparação - o axé (que tem em comum, só a falta de letra). Ou seja, nem sempre é preciso uma linda canção para o reconhecimento.
Mas eu preciso de uma boa letra para usar a imaginação. Sem interferência de clipes. Trato como um roteiro sonoro, melodioso e cheio de interpretações.
Se pudesse, viveria a trilha desses roteiros. Meus amigos, discos e livros estariam em uma 'casa no campo'. Um 'dia branco' de SP viraria minha melhor declaração de amor. O meu carnaval se resumiria a um 'pano de confetes' (que tem complexa interpretação). Uma briga seria representada pela 'porta entreaberta'. E, claro, minha casa teria astros pelo chão, que eu pisaria sem notar. Simples assim. Distraidamente.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Se minhas plantas falassem

Converso com as plantas como se fossem gente. Aviso que não podem ficar doentes, que precisam resistir as pragas, que estão demorando para florir. Mas também elogio quando estão cheirosas, coloridas e com aparência saudável.
Em casa, alguns têm cachorros, gatos, amigos, maridos, mulheres... Eu tenho plantas e flores. Elas me acompanham. Observam minha vida, minha casa. Cuidam daquilo que é meu (de certo modo e de forma bem remota, claro).
Me preocupo em cuidar, regar, falar, viajar e saber se ficarão bem. Também me empenho para não falar nada de ruim – afinal, não posso ofender... senão, terei retaliação: nada de flor (imagino que diriam)!
Mas, e se falassem? Será que me dariam bronca quando não arrumo a casa ou quando não as visito (em noites frias)? Gritariam meu nome quando saísse, namorasse ou recebesse amigos? Reclamariam quando não fossem regadas no horário? Fofocariam (entre elas) sobre minhas manias a ponto de criticá-las? Falariam sem parar sobre a poluição, a camada de ozônio e a falta de consciência ambiental (minha, no caso)?
Plantas. Melhor que sejam mudas. Se alguém nessa relação deve falar, que seja somente eu! Afinal, sou eu que as mantenho verdes e saudáveis! O que espero delas é o comprometimento de não dizer uma palavra sequer! Senão, não rego mais e pronto!

Entre nós: espero que nenhuma delas saiba ler!

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Eternidade discutida

Lembrei de uma legenda (lida sabe-se Deus onde): “Na eternidade e a cada instante”. Se a eternidade está garantida, os instantes não estão embutidos no discurso? Quem eterniza? O que é a tal eternidade? Quando você morre não está com eternidade encerrada? Ou será ali o início dela? Não faço idéia realmente.
Acho que existe uma coisa que eterniza alguém: literatura. Quando você escreve um livro ele fica ali... parado na estante (de alguém ou da livraria) por anos. Seu marco fica também na história e independe de Academias...
Outra coisa: cinema. Ouvi isso do Selton Mello e ele tem razão. Cinema é mesmo uma forma de eternidade.
Mas e quem não escreve, atua, dirige... sei lá! Quem não está nos créditos de nada disso? Não é eterno? Bobagem. Somos eternos para muita gente (creio). Ou de repente a tal “eternidade” é a palavra que gostamos de usar para mostrar que nos importamos com alguém ou alguma coisa.
Por exemplo: no amor, adoramos dizer que é eterno... Mas, óbvio, ninguém sabe. No fundo, a eternidade é mesmo tola... Afinal, ela não importa muito se não estivermos mais vivos (e não estaremos um dia). Então, nos resta viver bem. Fazer o bem e não olhar a quem (diria meu avô). A nossa eternidade vai chegar... só não precisamos ter pressa. Pra quê?

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Lado B

Sentada de frente para minha TV, com o corpo dolorido da gripe e constatando o quanto a TV brasileira é pobre na programação vespertina, pensei em coisas que fazemos sem que ninguém veja. Conclui que todos nós temos um Lado B.
Lembrei de algumas reuniões de trabalho (chatas, como todas) das quais fiquei olhando para as pessoas, pensando o que poderia estar fazendo (com o gerúndio permitido) se não estivesse ali... coisas que jamais nenhum deles saberia.
Ninguém sabe se você dança em casa de cueca, canta no banheiro, cutuca o nariz na frente do computador... Ou mesmo se é um grande jogador de xadrez, “o” craque da pelada entre amigos, guitarrista de primeira qualidade e exímio cozinheiro. Em geral, ninguém sabe. E não é incrível?
Enquanto eu balançava meu pé de meia, assistindo a Serena Willians e pensando em como gostaria de jogar metade do que ela joga, analisei também que mesmo dividindo sua casa, sua vida, seu cotidiano com alguém existem coisas que só nós sabemos, simplesmente porque é assim que deve ser.
Nosso Lado B é também nosso currículo interno. Daqueles que apenas você e seu espelho compartilham. Funciona mais ou menos como o outro lado (também B) dos antigos LPs: está ali, mas nem todo mundo ouve, vê, sente ou sabe quais as músicas. Esse é nosso mistério eterno. Ainda bem.