quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Segredos

Hoje acordei assim... Sem nenhuma razão, sem nenhuma ideia do que virá, sem nenhuma noção de um futuro próximo (espero). Na voz deliciosa de Frejat, descubro que meus desejos já foram muito bem descritos, definidos e (até) cantados. Quem não procura algo assim, é porque já encontrou. Aí, melhor ouvir "Na rua, na chuva, na fazenda" e agradecer.

Eu procuro um amor
Que ainda não encontrei
Diferente de todos que amei...

Nos seus olhos quero descobrir
Uma razão para viver
E as feridas dessa vida
Eu quero esquecer...

Pode ser que eu a encontre
Numa fila de cinema
Numa esquina
Ou numa mesa de bar...

Procuro um amor
Que seja bom prá mim
Vou procurar
Eu vou até o fim...

E eu vou tratá-la bem
Prá que ela não tenha medo
Quando começar a conhecer
Os meus segredos...

Eu procuro um amor
Uma razão para viver
E as feridas dessa vida
Eu quero esquecer...

Pode ser que eu gagueje
Sem saber o que falar
Mas eu disfarço
E não saio sem ela de lá...

Procuro um amor
Que seja bom prá mim
Vou procurar
Eu vou até o fim...

E eu vou tratá-la bem
Prá que ela não tenha medo
Quando começar a conhecer
Os meus segredos...

Procuro um amor
Que seja bom prá mim
Vou procurar
Eu vou até o fim...

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Aqui e ali

Se eu pudesse escolher um poder, leria pensamentos. Ouviria tudo aquilo que é dito internamente. Ajudaria quem deseja escondido, quem ama calado, quem é maltratado.
Se eu pudesse escreveria sobre os melhores deles. Os mais picantes, os sujos, os apaixonados, os gritos surdos (e mudos), os arrependidos, os safados. Colocaria tudo no mesmo texto, como um alerta àqueles que não dizem o que pensam.
Se pudesse convenceria um desses, desses que não conseguem expressar, que essa é a melhor forma de amar, de se entregar, de brigar, de se liberar.
Diria que esse peso da não-fala é o que pesa nos ombros, dói, adoece. Calar é também uma forma de se render. Se entregar a dor do não dizer, do não gritar, do não chorar e do não declarar é como deitar e aguardar o que não vai chegar.
Ler pensamentos seria uma forma mais fácil de entender. Um jeito simples de não precisar dizer. Um outro lado de ver, de encarar... de pensar.
Por todo o poder que não compete a mim, nem a ninguém, é que temos na vida esse aprendizado. Um ensinamento por dia, uma bobagem a cada hora, um mal entendido aqui, outro telefonema ali. O que poderia acontecer em horas, pode demorar anos. O que demoraria meses, acontece em dias. E a gente vai tentando se encaixar uma hora aqui e outra ali (com ou sem os quadris).

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Gente de Coragem

Tem casal que fica junto 30, 40, 50 anos. Duas pessoas unidas até que a morte os separe. Para sempre. Será que isso é coisa de outra geração? Será que apenas nossos avós conseguiam tal proeza (ou nem isso)?
Lendo o poeta Mario Benedetti descobri que não só existe esse tipo de gente, como eles também amam por todo esse tempo. Aquela história de que, com o tempo, vira outro tipo de amor, pode ser pura balela criada por pessoas que nunca tiveram a coragem de tentar.
Sim, porque não há dúvida de que é preciso ter coragem. Enfrentar todas as mudanças de humor, de hormônios, de cabelo, de barriga... é preciso valorizar as pequenas coisas, todos os pequenos gestos, para só então perceber que vale a pena não ficar só.
Será romantismo demais querer viver o “para sempre”? Fomos criados em uma geração em que o “para sempre, sempre acaba” – e ninguém duvida disso. Inclusive, estamos em uma idade em que o “para sempre” já acabou algumas vezes. Mas existem casais que se encontram nessa vida, e ninguém duvida disso. Eles representam as exceções? Todo o resto representa a regra?
Vivemos num momento da vida em que as pessoas se cansam umas das outras. Elas se trocam. Desistem por vários motivos. As vezes por não suprimirem desejos insignificantes ou por fazerem opções erradas. Percebem que não gostam de dividir, nem mesmo de somar. Estão tão acostumadas com a própria solidão, que não percebem o quanto ela é inexpressiva nesse mundo livre e independente. Pessoas que acreditam que casamentos que duram muito não são reais. Será mesmo?
Basta olhar por aí. Basta ouvir por aí. Outro dia um senhor de 80 anos me contou em uma festa que só poderia dançar com sua mulher, já que ela morria de ciúmes dele, mesmo depois de 40 anos. Lembrei dos meus avós se trancando no quarto, como adolescentes, duas ou três vezes na semana, sem que ninguém pudesse bater na porta (mais de 30 anos de casados). Mais recente, um jovem casal que tem sintonia jamais vista, combinando amizade, cumplicidade, tesão e amor. Almas gêmeas?
Não. Gente de coragem. Gente que não teme amar. Gente que prefere tentar viver tudo, mesmo sabendo de todos os problemas que (com certeza) virão... Gente que enfrenta tudo, simplesmente porque ama. E aí... depois de 30 anos, pode ter o prazer de dizer que deu certo.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Lembra?

Você lembra da época em que paquerar no trânsito não era somente divertido, como também era possível? E quando passar um trote inocente ou mesmo ligar para aquela pessoa que ficou de entrar em contato, sem que ela nunca soubesse que era você ligando? Lembra?
Bons tempos. A gente percebe que está envelhecendo quando começa a ter saudosismo de coisas que nunca mais voltarão a acontecer. Triste.
“Sou a geração da transição”, gritei na noite de ontem, como se a frase justificasse e desse crédito. Não dá. Definitivamente, nem o ego infla.
Sim, eu sei que saber da emoção de carregar LPs e uma vitrolinha faz a diferença. Ter usado máquina de escrever, trabalhar sem internet, usar molden ouvindo aquele barulhinho irritante da rede discada, ter visto o aparecimento do CD e DVD, e o desaparecimento do VHS. Isso tudo é relevante. Um dia poderei contar a alguém e... só! Não muda nada.
Continuamos imigrantes da nossa própria geração. Não nos assustamos com facebooks, twitters ou que mais vier. E também não estamos nem aí para a tal geração “Y” - na verdade, achamos que são (inclusive) meio bobos, apesar de terem a tal esperteza criativo-tecnológica.
O meu lamento é o fim do romantismo, minha gente. É frustrante demais. A paquera inocente no trânsito, que nos deixava com aquele sorriso bobo durante todo o dia, foi assassinada pelo insufilm nosso de todo dia. Acessório obrigatório aos carros de boa vontade (e com medo de assalto). A ligação displicente no meio do dia só para ouvir “aquela” voz; saber se o cara não ligou porque morreu ou porque não valia nada; ou mesmo só para gritar uma declaração de amor; colocar uma música para tocar e a ainda pessoa ficar na dúvida de quem está fazendo isso. Tudo... atropelado pela bina.
Não, não pense que esse é um texto nostálgico. Adoro a evolução e toda a comunicação que ela nos trouxe (e traz). Mas... confesso que sinto falta do olhar, do sorriso, da surpresa e de todas as besteiras que isso nos oferecia. E, se isso não volta mais, o jeito é encontrar outra forma de romantismo. Afinal, antes ou agora, o que vale (ainda) é a intenção, certo?

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Resumo

Mario Benedetti
(um uruguaio que sabia das coisas)

Resumindo
digamos que oscilamos
entre alegria e tristeza
quase como dizer
entre o céu e a terra
ainda que o céu de agora e o de sempre
se ausente sem aviso
as ideias vão se tornando sólidas
sensações primárias
palavras ainda em rascunho
corações que batem como máquinas
serão nossos ou de outros?
este choro de inverno não é igual
ao suor do verão
a dor é um preço / não sabemos
o custo inalcançável da sabedoria
pensamos e pensamos duramente
e uma paixão estranha nos invade
cada vez mais tenaz
mas mais triste
resumindo
não somos o que fomos
nem menos do que fomos
temos uma desordem na alma
mas vale a pena sustentá-la
com as mãos / os olhos / a memória
tentemos pelo menos nos enganar
como se o bom amor
fosse a vida

domingo, 8 de agosto de 2010

Caminante

Nos encontros da vida a gente vai conhecendo e se reconhecendo. Hoje não somos mais quem éramos ontem. E amanhã não será diferente. O tempo vai passando e a gente vai vendo o quanto se pode mudar.
Sim, é verdade que ninguém muda ninguém, mas não é verdade que a gente não muda. Nos tornamos mais tolerantes, pacientes. Mas também somos mais exigentes. Passamos a ter um jeitinho mais “nosso”. Unicamente nosso.
A vida vai encontrando seu caminho. Nos tornamos caminantes sin camino – como a poesia espanhola. Nosso caminho está ao andar, diz o poeta. Está nas nossas escolhas em cada passo. No sofrimento e nas alegrias de cada dia.
Vamos vivendo entre encontros e desencontros. Vamos sonhando com destinos certos, rezando com o que há de ser certo, com o que está escrito em algum lugar (estrelas, talvez?). E aí, crescemos, caímos, levantamos e nos tornamos melhores – mesmo que com cicatrizes eternas e até profundas. Seguimos caminhando.
Quando olhamos para trás, a poesia garante que veremos as marcas de algo que nunca mais voltará a acontecer, simplesmente porque você já não é o mesmo. Nada é igual. Pode ser pior, pode ser melhor, mas igual, nunca. Nunca.
Difícil manter a doçura. Mais difícil ainda manter a esperança de que o novo será muito melhor. Mas assim é a vida: ou se vive ou se morre. Enquanto aqui estamos, melhor escolher a forma em que os desencontros e as tristezas não dominem o cenário.
Por mais complicado que seja, o ideal é fazer do seu protagonista um caminante de respeito. Cheio de coragem, amor e fé – porque o caminho pode até ser desconhecido, mas muitos dos personagens de apoio estarão, como sempre, ali para ajudar.