sexta-feira, 31 de outubro de 2008

O melhor e o pior dos 30

Quando eu tinha 20 anos eu tinha um corpo ótimo. Verdade. Sem barriga, tudo em cima! Mas eu não tinha a cabeça que tenho hoje. Mas, eu voltaria aos 20? Duvido.
Tinham coisas bacanérrimas naquela época (toda época tem). A faculdade, os amigos (da faculdade), as bobagens (das aulas), o estágio, mais bobagens do trabalho no SESC e as maravilhas de se viver em Santos - definitivamente, a melhor parte.
Fiquei pensando no que me faria voltar... com certeza nada disso (nem mesmo o corpo sem barriga). Descobri hoje pela manhã (e não me pergunte como) o melhor e o pior de se chegar aos 30.
Explico: o melhor dos 30 é que me sinto ótima. Independente e bem resolvida (com a cabeça e com o corpo). O pior dos 30 é que me sinto ótima demais para quem tem ainda muito o que fazer; independente demais para quem tem muito a pagar e resolvida demais para quem tem muito mais o que ler, e o que melhorar com o espelho.
Os 20 anos (realmente) não me trazem saudades, somente lembranças (boas e ruins). As pessoas e as bobagens que realmente importavam daquela época continuam comigo, mesmo que em outros contextos e em outros trabalhos. Santos continua sendo o melhor do lugar do mundo, o qual voltarei a viver assim que possível.
Aquela história de que “eu queria voltar aos 20 (15, 18, 25 – qualquer idade) com a cabeça de hoje” não é bacana. Não acredito nisso. Eu gosto de ter chegado até aqui. Gosto de ter a sensação de ter vivido o que vivi e hoje me orgulhar disso. Voltar seria retroceder, avançar é o que me rejuvenesce.
Pode ser que eu mude de idéia aos 40, 50. Mas, como diria Francis, apenas os inteligentes são contraditórios (sem nenhuma modéstia).

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Quando as pessoas valem a pena

Hoje tenho 30 anos. O inferno astral (que não tive, creio) acabou. A ansiedade pré-idade também acabou. Já minha pesquisa mental sobre como cheguei até aqui, não. Acredito que em certo momento na vida essa retrospectiva é eterna. Cheguei nesse momento.
Não me canso de ver que nos meus 30 anos muitas pessoas passaram, estão e nunca vão sair da minha vida (ainda bem). Para cada uma delas eu teria um discurso diferente, mostraria sua importância hoje ou em qualquer fase que já vivi. Mas com certeza todas ficariam entediadas (eu falo demais), ou talvez emocionadas (por que não me valorizar um pouquinho? Mesmo acreditando mais na primeira hipótese).
A verdade é que as pessoas que estão na minha vida (ainda que, algumas, distantes) exemplificam tudo o que quero, o que gosto e, principalmente, como os amigos são importantes na minha vida.
Minha grande família de amigos. Pessoas que me dão carinho, me ouvem, me olham de uma maneira especial. Pessoas das quais me orgulho e encho a boca pra dizer: meu amigo! (e ai de quem falar mal! Solto os cachorros!)
Mesmo que tudo isso (as vezes) se mantenha por uma troca de emails, um telefonema (raro, confesso) ou a felicidade de um abraço de aniversário (uma vez no ano), cada uma dessas pessoas vale a pena e me faz muito feliz. Agradeço muito por isso.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Família de amigos

Já falei bastante dela aqui. Mas a minha mãe é o que há! O que há de mais animado que eu conheço (e um pouco - muito - do que sou) vem dela.
Se eu disser: “Acho que vou passar uns dias olhando a poluição de Cubatão, quer ir?” Ela responde: “Vou me arrumar”. Animação total! Minha mãe não envelhece (aliás, continua linda) e está sempre pronta para sair, passear, andar, comprar, falar.
Sempre foi batalhadora. Nunca a vi ficar sem fazer nada. Está sempre em busca do novo, do melhor, do que a deixa mais feliz e do que é certo. Mesmo se não está trabalhando, está sempre ocupada, atrapalhada e brigando por alguma coisa. Seja por um mau atendimento em uma loja qualquer ou no condomínio do prédio. Uma justiceira sem armas (me identifico completamente).
Sua justiça chega ao ponto de nos levar para comprar pão pagando com chiclete - já que o dono da padaria nos dava (diariamente) troco de gomas! Éramos pequenos e, revoltada, nos fez reclamar (e de nada adiantou) e depois juntar por uma semana todos os 'trocados'. Fomos lá, munidos de um saquinho cheio. Os três mosqueteiros (ela, eu e meu irmão) armados de argumentos brigamos pelo abuso. Enfim, o pão era nosso e nunca mais recebemos chiclete (confesso que tenho muito orgulho dessa história).
Lembro dela chegando do trabalho, batendo papo com a gente e sentando para tomar uma cerveja com a minha avó (que também era uma garota animada). As duas eram amigas de verdade. Falavam sobre tudo e todos sem nenhum pudor.
Hoje, quando vou para o bar com a minha mãe, passeio no shopping ou ando na praia, percebo a mesma cumplicidade que ela tinha com a mãe dela. E isso nunca foi imposto. Simplesmente aconteceu.
Meu pai sempre fala que a amizade vale mais que família, porque a gente pode escolher. Ele tem razão. Afinal, amigo é a família que a gente escolhe, certo?
Tenho uma família ‘escolhida’ da qual me orgulho muito e valorizo demais. Mas... tive mais sorte. Meus maiores (e melhores) amigos têm o mesmo sangue que eu: meu pai, minha mãe e meu irmão. São eles que me fizeram ser o que e quem sou. Definitivamente.

Tico e Teco

Aos quase 30 percebo que minha vida teve fundamentos demais. Sou uma pessoa que pensa demais, fala demais, discute demais, ri demais e teima demais. Características que vieram de uma casa cheia demais.
Cresci dentro de uma casa enorme – ao menos era para mim, quando pequena. Hoje, nem lembro dela tão grande assim, mas havia um quintal para brincadeiras de bicicleta, corrida, bonecas... o que viesse!
Se chovesse tínhamos ainda a parte de dentro. Uma verdadeira delícia. Eu e meu irmão (sempre grudados) descobríamos o que hoje é o melhor dos fundamentos: ter amigos é essencial. E éramos, somos e seremos. Minha primeira grande amizade começou dentro de casa, estimulada pela minha avó (querida), que nos chamava de “Tico e Teco”, por causa das bagunças, quebradeiras e risadinhas.
Dentro de casa descobri que tinha o que precisava: um grande amigo e uma grande família. Foi ali dentro, daquela casa sempre cheia de gente, que descobri o quanto gosto de pessoas. Ou melhor, o quanto gosto de estar rodeada de pessoas que fazem a diferença na minha vida.
A fórmula era: Família grande + vó festeira = festas semanais. Churrascos, almoços para mais de 50, cantorias, desfiles (sim, desfilávamos para a família – modelos dos anos 80), brigas (muitas) e gargalhadas (demais).
Olho, novamente, para trás e vejo que a cidade de onde vim não faz muita diferença (por mais que a ame), mas a família que cresci fez muita. Mesmo quando sofríamos (e sofremos), tirávamos o que vinha de bom e de ruim.
A infância e os desfiles se foram. Mas a boemia, a cantoria, as risadas, danças e a animação das festas ficaram e trazem lembranças e saudades.
Meu melhor amigo se mantém o mesmo. Hoje, o engenheiro meio metódico e até metidinho, ainda é a melhor recompensa do meu passado, presente e futuro.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Help

Visitando minhas lembranças, lembrei de algo que explica um pouco do que sou.
Quando eu era menina de tudo saía com meu pai pelo menos uma vez na semana (as vezes mais – coisas de pais separados). Nesse dia marcado, eu e meu irmão esperávamos ansiosos pela janela da casa da minha avó.
Ficávamos prontos e cheirosos (nem sempre), olhando por entre as plantas do jardim os carros que passavam. Nossa brincadeira era identificar os carros ou apostar (com valor de coisa alguma) quantos carros passariam até que o papai chegasse. E ele chegava. Pontual como sempre – mas confesso ter aprendido muito pouco em como acertar o relógio com compromissos, estou sempre atrasada.
Enfim, quando chegava era aquela felicidade. Saíamos para jantar em lugares bacanas, mas o que gostávamos mesmo era do macarrão com salsicha enlatada feito no seu quarto e sala, enquanto desenhávamos capas de discos.
Isso sim era aula! A gente passava horas desenhando o que nos viesse à cabeça para dar uma nova capa aos Beatles (gritando, literalmente, Help).
Ele nos contava (e ainda conta) verdadeiras histórias musicais, além de histórias literárias... aula de diversão e cultura. Além disso, ainda tinha sessão de karaoquê fajuto para cantar “Dia Branco” no tom, ou frevos rapidíssimos sem enrolar a língua.
Nos meus quase 30 anos, posso dizer que graças ao meu pai faço o que faço, falo (muito) como falo, conto e ouço histórias, ouço boa música desde o momento que levanto da cama e, claro, faço um macarrão com salsicha como ninguém! É bom lembrar que ele me ensinou muitas outras coisas, mas essas merecem destaque.
Olhando para trás (e pendendo apenas para um lado, por enquanto) sei de onde vim e porque sou assim. A parte boa é que nem preciso gritar “Help” (ufa).
Obrigada pai! Te amo! Te beijo!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Quase 30

Quando eu tinha uns 10 anos, eu queria ser ocupada. Sim, isso mesmo. Ocupada. Pra mim, só uma pessoa ocupada escrevia em papéis (até hoje gosto deles) e falava no telefone (confesso que hoje não é mais minha ação predileta). Eu consegui ser ocupada... e estou até um pouco cansada.
Aos 15 anos, me vi tendo certeza de que me casaria aos 22 (vinte e dois!), teria filhos (com “s”, vejam) aos 25 e tudo seria como uma linda fantasia americana (ui). Aos 18 já comecei a desencanar da idéia e percebi que queria mesmo ser jornalista, ouvir pessoas, escrever sobre elas e criar histórias – mesmo que isso adiasse os outros planos.
Deu certo (ou errado?). Não estou fazendo balanço da vida, mas já que Balzac escreveu sobre as mulheres de 30, por que eu não poderia fazer meu próprio purgatório (apesar de estar – e pretender continuar - bem viva).
A verdade é que chego aos 30 em quatro dias, e não tenho certeza de ter conseguido tudo o que almejava, mas tenho certeza que ainda quero bem mais. Aliás, como eu quero.
Uma amiga me disse hoje para eu não me preocupar, porque os 30 passam! E passam mesmo... mas a verdade é que não estou preocupada. Só que nos próximos dias estarei olhando para trás. Olhando para em busca do que foi o meu passado, minha infância, meus desejos, anseios e bobagens (muitas bobagens, aliás). Mas nada de nostalgia, apenas a visão de alguém cada vez mais distante.
Até sábado pretendo começar a traçar (mentalmente, claro) o que foi a minha trajetória até os 30 (ou quase). Uma retrospectiva de quem quer olhar os “inta”, lembrando dos caminhos que escolheu para chegar até aqui - e que, possivelmente, nem percebeu ter passado.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Ser artista

Homenagem ao Chico Buarque:

O meu Pai era paulista, e eu só queria ser um tipo de compositor capaz de ver quanta maldade nessa moça (e que aqui, ninguém nos ouça). Mas fui à Lapa e perdi a viagem. Fui caminhando na ponta dos pés para ser um dos artistas que entoam baladas para suas amadas, feito oração na catedral.
Aliás, se você crê em Deus, erga as mãos para o céu e agradeça. Rouba os seus sentidos. Viola meus ouvidos como quem chega do nada...
Porque eu vou na estrada há muitos anos e sou um artista brasileiro.