segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Todo o amor que houver nessa vida

Arruma aqui, estica ali, coloca o vestido, passa no cabeleireiro, ri da espera, posa para fotos, assina, troca aliança e... beija. Na dúvida, dá uma conferida em todos os dados da nova certidão. Pronto. Casada.
Casada? Falando sério? Sim, sim. Casada! O que muda do que já viviam? Nada. A não ser o fato de ter um adorno lindo e dourado no dedo da mão esquerda. De resto, tudo igual. E, talvez, seja mais lindo por isso.
O trabalho continua, os amigos continuam, a família continua, os problemas continuam e a dúvida sobre a eternidade também continua. Mas, o mais bonito de tudo isso, é a coragem de estar ali de livre e espontânea vontade. Cheios de sorrisos, piadas, fome... Ali, naquele cartório de pessoas naturais (e sem plásticas), no vento frio, no teclado automático de uma moça que quase ninguém viu... Ali, duas pessoas cumpriram a promessa que mal tinham certeza se fizeram. Mas sabiam que estavam certos.
Depois, mais fotos (todas na mureta da cidade mais bacana do mundo), bolo, prosecco, mais fotos, abraços amigos, comentários (muito) idiotas, papo furado, mais prosecco, bem-casados, lembrança lilás e... beijos. Muitos beijos.
Beijos que representam a felicidade do dia. Claro que brigas virão, claro que perrengues estarão em algumas das esquinas da vida, mas e daí? O bom é comprovar que Vinícius tinha razão. A vida é feita para amar; celebrar; fazer as pazes; andar de mãos dadas; fazer piada; falar besteira na tarde de domingo; reclamar da vida numa segunda-feira insuportável; tomar chuva enquanto encolhe caminhando pela praia; beber vodka e dançar como Keith Richards; abraçar a garrafa de água num dia de ressaca; ficar jogado no sofá enquanto rola a novela; andar de jetsky quebrado; não tirar as Havaianas durante todo o final de semana de sol; não sair da cama durante todo o final de semana de chuva; aguentar sua mulher falando horas com amiga (e madrinha) sofredora ao telefone; sair para jantar com as duas e ouvir todas as atrocidades femininas... e lembrar que ela (a amiga) é uma das culpadas dessa troca de alianças (ré confessa). E que tem, podem acreditar, muito orgulho disso.
Para o casal que amo tanto e para quem quero tanto a felicidade eterna (enquanto durar – e que dure para sempre), desejo: Todo o amor que houver nessa vida. Sempre.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O amor sabe escrever

Quando ouvimos do que entendemos (ou queremos entender) e de quem admiramos não dá para não se encantar. Foi assim ontem, vendo e ouvindo dois grandes nomes da literatura brasileira na Tarrafa Literária, em Santos: Zuenir Ventura e Luís Fernando Veríssimo.
Uma conversa franca, um bate papo entre amigos, e muitos voyers (como eu) na plateia. Sexo, amizade, família e trabalho. Tudo no mesmo palco, com a mesma naturalidade.
Veríssimo não sabe, mas foram muitos de seus textos que me fizeram gostar de ler (numa coleção com o mesmo nome) na infância. Suas crônicas mudaram minha forma de entender a literatura e fizeram com que eu me apaixonasse por esse estilo de texto. Claro que não havia só ele... Drummond, Rubem Braga e tantos outros também estavam lá.
Ele também não sabe que seu sotaque gaúcho é difícil para mim. História complicada. Mas, como é Colorado (e por motivos quase sociais), ficou mais fácil de sorrir com os adjetivos que tanto ouvi na vida.
Já Zuenir contou o que sempre pensei sobre ele: queria ser professor. Faz todo o sentido. Fala bem, com clareza, simpatia, faz piada e muitas citações de grandes personalidades. Uma cabeça admirável.
O ponto alto (para mim) dessa conversa foi o amor que eles têm por suas mulheres, seus filhos e seus netos. A família é a grande recompensa da vida para eles – que nem gostam de escrever (admitiram – me deixando em choque). Creio que preferem brincar com suas netas em um belo almoço de domingo.
Eu, que já era fã, decidi fazer a carteirinha. Fora ter a capacidade maravilhosa da escrita (por mais que não pensem nisso), ainda têm a capacidade maravilhosa de amar incondicionalmente suas vidas, suas mulheres, seus amigos. Confesso que meu lado romântico não conseguiu ignorar tal fato.
Outra geração, talvez. Corajosos homens que fizeram do amor seus aliados e, com isso, transformaram suas vidas em sucessos. Homens que se casaram com suas melhores amigas e souberam dividir problemas, felicidades e filhos. Dois homens que concluíram esse maravilhoso bate papo avisando que viver ainda vale a pena e que da morte (já diria Veríssimo) são contra! E nós, os voyers, não discordamos.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Estamos vivos, sabia?

Quanto tempo faz? Há quanto tempo você se considera vivo? Suas contas começam desde a data de seu nascimento? Estava mesmo vivo quando nasceu? Por quê? Só por que chorava, tinha fome e frio? Não... não é vida.
“A vida começa quando descobrimos que estamos vivos”, já disse o pintor e escritor finlandês Henrik Tikkanen. Agora... pense numa nova data. Pode ser (até) uma data futura.
As vezes temos de ler o óbvio para perceber a vida. Reclamamos demais, sofremos demais e rimos muito pouco para tudo isso. A balança deveria ser reta. Com pesos e medidas proporcionais. Nada de altos e baixos. Você chora e ri com a mesma freqüência. Resolvido.
Virgínia Wolf dizia que todo dia acontece alguma coisa interessante na nossa vida. Faz sentido. Mesmo quando está tudo de cabeça para baixo, há um momento de uma gargalhada inesperada. Quando as lágrimas não te deixam ver um futuro possível, o presente se mostra uma opção interessante. Mas tudo isso nem sempre é fácil de se ver. Aí... sofremos mais e vivemos menos.
A escritora Martha Medeiros diz que morremos lentamente quando não nos contradizemos, quando não ouvimos música, quando passamos tempo demais com a televisão, não trocamos de discurso, nem de marca, evitamos uma paixão, uma emoção, um sorriso... tudo para conter os soluços. Tem (também) morte lenta quem só se queixa, quem desiste, quem não aposta no desconhecido por puro medo de errar... Triste pensar em quanto já perdemos de vida.
Talvez esteja na hora de descobrir que estamos mesmo vivos. Que vivemos o agora, e que o amanhã é a maior incógnita do planeta. Se a gente se sentir vivo (de verdade), nossas fichas estarão voltadas a uma só aposta: a felicidade. E aí, não há como errar (e mesmo que tudo dê errado, algo de bom sempre acontecerá).

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Em obras

Em alguns momentos ficamos alheios do mundo. De repente o impossível se mostra óbvio e conquistamos um olhar diferenciado, distante. O calor lá de fora é seco. E aqui dentro, molha. Na chuva, confundimos as lágrimas de tristeza com as de alegria e nada faz muito sentido: nem estar triste, tampouco estar feliz. Seguimos.
Olhar o mar não causa tanto efeito como antes, mas acalma, alenta. Caminhar era um destino preciso, mas vira rotina diária. Cansa. Os planos são os mesmos de antes, mas as estruturas estão abaladas. Precisam de reforma.
As obras começam e você se vê sem lugar fixo. Sem um norte para continuar. Sem destino, sem sentimento. A distância seria crucial, mas como?
Precisa acompanhar a retirada de cada prego, rever o desmoronar de cada parede. Precisa construir junto, erguendo com tijolos, pintando, decorando... Deve optar por novas cores, novos móveis, novas molduras.
Encarar não combina com o momento atual. Melhor fechar os olhos, olhar meio de lado... sentir sem ver de frente. Melhor sentir... mas o quê? O que se sente quando não vemos nada?
A obra continua, mesmo sem planta, sem arquiteto. As paredes de antes já não existem mais. Hoje, só pedras. Areia. Quem sabe um martelo prega algo novo? Quem sabe um cimento mais resistente, uma vida mais competente, uma escolha mais acertada?
No plantão da construção vê-se a claridade e a escuridão do dia. Entre uma e outra, a vida se encaixa em sorrisos, possibilidades e esperança. E aí, a obra dará sentido a um novo sentimento que virá (seja ele qual for).

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Quando o sol bater...

É assim... as vezes a letra vem e fica. Lembramos que o caminho é um só, desde que tenhamos força e coragem para seguir andando. Para encarar. Para viver. Afinal, o "camino se hace al andar"... mas isso é outra história!

Quando o sol bater
Na janela do teu quarto,
Lembra e vê
Que o caminho é um só,

Porque esperar
Se podemos começar
Tudo de novo?
Agora mesmo,

A humanidade é desumana
Mas ainda temos chance,
O sol nasce pra todos,
Só não sabe quem não quer,

Quando o sol bater
Na janela do teu quarto,
Lembra e vê
Que o caminho é um só,

Até bem pouco tempo atrás,
Poderíamos mudar o mundo,
Quem roubou nossa coragem?
Tudo é dor,
E toda dor vem do desejo,
De não sentimos dor,

Quando o sol bater
Na janela do teu quarto,
Lembra e vê
Que o caminho é um só.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Pro que der e vier

Já escrevi isso aqui (acho). Mas me perguntaram o que é uma boa declaração de amor. Na minha opinião, a melhor delas já foi escrita e cantada.
Geraldo Azevedo fez Dia Branco e colocou em letra e música tudo aquilo que queremos (e esperamos) ouvir. Tudo o que lutamos para acreditar. Tudo o que esperamos ser verdadeiro.
Todo amor descrito em versos como "pro que der e vier" e "até onde a gente chegar".
Se isso não é amor. Não sei o que é.

Se você vier
Pro que der e vier
Comigo...

Eu lhe prometo o sol
Se hoje o sol sair
Ou a chuva...
Se a chuva cair

Se você vier
Até onde a gente chegar
Numa praça
Na beira do mar
Num pedaço de qualquer lugar...

Nesse dia branco
Se branco ele for
Esse tanto
Esse canto de amor

Esse tão grande amor
Grande amor...

Se você quiser e vier
Pro que der e vier
Comigo

Comigo, comigo.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Desejos de uma quinta

Desejar faz parte da vida, e a gente deseja tanta coisa ao longo dela... Em cada fase, os desejos vão mudando. Mudam de foco, de perspectiva. Mudam de lado, até.
Quando crianças, desejamos chocolates, brinquedos, bicicletas, bolas de futebol, barbies... Aí, adolescentes vamos desejando pessoas diferentes, o campeonato favorável para seu time, a passagem de ano, a ligação do carinha que senta ao seu lado na classe, uma festa bacana para ir.
Mas, quando nos tornamos adultos, tudo fica diferente. Nada é prático, simples ou pragmático. Não existe lista, porque o desejo de hoje, pode não ser o mesmo de amanhã. Adultos são complicados. De repente entendemos porque é melhor desejar saúde e felicidade em dias de aniversário. Simplesmente porque resume tudo: precisamos da saúde para conquistar nossas pequenas felicidades.
Lembramos também que é preciso ter muito cuidado com o que se deseja. Afinal, você pode conseguir. Aí, escolhemos tanto que confunde a cabeça, o coração, o corpo.
Se o tal gênio aparecer para qualquer adulto, ele vai precisar de um tempinho para pensar em três desejos. Talvez pergunte, na maior cara de pau: mas só três? Não posso, pelo menos, quatro?
Ser adulto não é simples. Ser adulto que pensa, menos ainda. Por isso nossos desejos não seriam diferentes. São complexos. Bem complexos. Muitas vezes eles nem dependem só da gente. Aí, piora a situação. Passamos a desejar também por outros. Em geral, desejamos por nós mesmos e por quem amamos.
Uma ligação, um convite, uma mensagem de saudade. Um custo altíssimo, um sorriso delicioso, a tranquilidade de que tudo dará certo. Dinheiro alto, felicidade dobrada, whisky a vontade - regado à risada. Casa nova, vida nova, momento novo. Coragem, bom humor, amor. Abraço apertado, beijo intenso, carinho eterno. Um bom dia, um boa noite, um eu te amo. E a vontade de poder resolver tudo (a minha e a sua vida) num só dia.