sábado, 27 de março de 2010

Socorro

Arnaldo Antunes escreveu, mas foi a Cássia quem eternizou. Socorro... um suplício por um sentimento. Uma vontade louca de mudar a forma de sentir, de viver... É o vazio em música. Apesar de triste, é linda (ao menos pra mim, claro).

Socorro
Não estou sentindo nada
Nem medo, nem calor, nem fogo
Não vai dar mais pra chorar
Nem pra rir...

Socorro
Alguma alma mesmo que penada
Me empreste suas penas
Já não sinto amor, nem dor
Já não sinto nada...

Socorro
Alguém me dê um coração
Que esse já não bate nem apanha
Por favor
Uma emoção pequena, qualquer coisa
Qualquer coisa que se sinta...
Tem tantos sentimentos
Deve ter algum que sirva

Socorro
Alguma rua que me dê sentido
Em qualquer cruzamento
Acostamento, encruzilhada
Socorro, eu já não sinto nada...

sexta-feira, 26 de março de 2010

Liberte-se

O trabalho completa. Mesmo quando ele não é tão bacana, nem tão brilhante quanto deveria (e você gostaria), ele completa. Preenche um espaço vazio criado, muitas vezes, por você mesmo.
Se por um lado isso pode fazer bem, por outro não é a melhor opção. Quando a gente se entrega às teclas, ao cliente, aos cálculos financeiros ou qualquer outra atividade, está deixando de lado outro espaço importante da vida chamado de... vida!
Deixamos o que é delicioso entrar pela porta do vizinho. Achamos que é melhor deixar pra lá. No início pode ser uma boa fuga, depois vira vício. Você chega em casa, come qualquer coisa da geladeira, assiste qualquer coisa na TV e capota em qualquer lugar.
Mas, uma vez dormindo, os sonhos vêm. E esses a gente não controla. Neles, a nossa cabeça consegue trabalhar livre de prazos ou entregas (mesmo que volta e meia eles também apareçam nos sonhos). Na cama, o cérebro está livre para voar. Viaja para o passado e o abraça com saudade – por uma noite inteira. Depois, te projeta para festas, encontros surreais, risadas estimulantes.
A verdade (ao menos a minha) é que sonhar é delicioso quando estamos fazendo planos. Quando é nosso desejo. Assim como trabalhar demais é incrível, desde que a vida pessoal não fique dentro da gaveta.
A gente se esconde (e como!). Precisamos disso (creio), mas devemos saber o momento de parar. Afinal, olhar para frente pode não ser tão assustador assim. E, se a gente tentar, corre o sério risco do sonho ser ainda mais gostoso, pois dessa vez estaremos de olhos bem abertos. Basta se libertar.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Balaio de gente

Como definir um momento sem definição? Um balaio de ideias ouvidas, queixas batidas, pessoas sofridas, tempos complicados.
Nada no dicionário, nada no diário, nada no travesseiro ou no chuveiro. O rumo é outro, mas nada é muito novo. Os planos são muitos, os sonhos nunca escaparam, mas falta a crença de um bom argumento.
Momento de decisão e nenhum telefonema previsto. Momento que revela a hipocrisia de muitos e a falsidade de outros. Decepções declaradas em carros trancados e portas fechadas. Pessoas que traem e, como abutres famintos por um olhar de suplício, um movimento condenado, ficam ao seu lado. Outras menos presentes abrem seu coração com a palavra em espera.
Um engano te faz amante em uma vida lado B e vê que você quase foi aquilo que nunca quis. A vida as vezes cansa. O trabalho faz os dedos seguirem com rapidez para lugar nenhum. O cérebro se espanta com assuntos que nunca ousou. Conclui que tudo pode (mesmo que ao mesmo tempo).
Momento sem sentimento. Peito vazio e sem saudade, mesmo em noite de lua, com música e vinho. Mesmo sabendo que a saudade não te deixa caminhar sozinho... e talvez seja melhor assim.
A solidão acena do meio da multidão. Olha o filho que não tem e tenta rever a sabedoria de Gibran. Avista sua flecha pousada ao seu lado. Percebe que ela ainda está para ser lançada, que nunca saiu do lugar. Declara (embriagada) que ele (O Profeta) errou.
A vida segue e ninguém sabe exatamente como e quando o tempo passa. O que resta está ao alcance dos olhos, dos braços e do coração. É isso que importa. Mas... e o vazio, de onde vem?

quinta-feira, 18 de março de 2010

Ceticismo

E se...
Você sonhar com algo que tem saudade ou que adoraria se acontecesse, como encarar? Tristeza, amor ou um tal sinal? Será que o destino existe? Aquela coisa de estar escrito nas estrelas, do tinha de acontecer... é real?
Dizem alguns filósofos que “o acaso não existe”. Será mesmo? E se tudo e todos estiverem errados? Se tudo que a gente acreditou até agora for uma verdadeira besteira?
Não, não estou falando apenas de crenças religiosas ou espirituais. Estou falando de existência. Em um momento muito triste da vida, alguém querido garantiu que era melhor assim; que você seria infinitamente mais feliz depois; que só acontece o que deve acontecer (e na hora certa)... São frases feitas, afinal ninguém pode aliviar realmente sua dor. Mas o que me pergunto é: se nada disso fizer realmente sentido? Se o que estava por vir (segundo essas pessoas) nunca aparecer?
Se não houver nenhuma explicação para as coisas: a falta de grana, de amor, de amigos... sei lá! Se tudo o que vivemos não passar de uma experiência idiota e odiosa que ninguém vai realmente analisar se fizemos bem ou mal? Se o purgatório for apenas uma ilha de pulgas descrita por um linguista que tinha a língua travada?
Já pensou se aquele lance de que Deus escreve certo por linhas tortas foi apenas um jeito de um apóstolo justificar sua labirintite? Ou ainda se aquele provérbio de que uma janela fecha e a porta abre (ou vice versa) foi criado por um marceneiro marketeiro?
Se o destino é uma balela sem nenhum nexo e os indianos são seres de um planeta paralelo, o que fazer com a própria vida? Se o sofrimento que passamos hoje não passar amanhã, anos depois ou nunca mais? Devemos sucumbir, lutar ou fingir que está tudo bem até morrer?
E se aquele amor – que era eterno e pouco durou – foi o único que você vai ter na vida? Se aquela foi a última vez que você disse ou ouviu alguém dizer que te amava? Se nenhum sinal se manifestar e você nunca lutar pelo o que sempre quis? Ou pelo o que perdeu? Se você não aceitou a viagem, o emprego, a gravidez ou qualquer coisa que nunca mais venham a acontecer? Se nada do que vivemos aqui houver uma explicação, um estatuto, um fundamento, um sentido – o que faremos? Qual será a importância do nosso epitáfio se ninguém se importar?
É... a vida de um cético não deve ser nada fácil. Melhor mesmo é crer e depois... Bom, depois... só Deus sabe (ou não).

quarta-feira, 10 de março de 2010

Das Utopias

Aí, ironicamente, (re)descubro na prateleira Mário Quintana. Tão perto e, sem nenhum motivo, tão longe de mim.
Frases curtas. Linhas definidas. Palavras coloquiais. Sentimentos reais.
Com ele, admito (enfim) que existem gaúchos memoráveis.

Seguem dois de seus poemas/pensamentos.


Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!


____________________


Quiseste expor teu coração a nu.
E assim, ouvi-lhe todo o amor alheio.
Ah, pobre amigo, nunca saibas tu
Como é ridículo o amor... alheio!

segunda-feira, 8 de março de 2010

Bilhete com endereço

Mário Quintana

Mas onde já se ouviu falar
Num amor à distância,
Num tele-amor?!
Num amor de longe...
Eu sonho é um amor pertinho
Um amor juntinho...
E, depois,
Esse calor humano é uma coisa
Que todos - até os executivos - têm.
É algo que acaba se perdendo no ar,
No vento
No frio que agora faz...
Escuta!
O que eu quero,
O que eu amo,
O que eu desejo em ti

É o teu calor animal!...

quinta-feira, 4 de março de 2010

De uma hora pra outra

Em alguns momentos da vida a gente se embriaga de informações, se embebeda de música, vomita palavras, explode de amor, se anima com bobagens e chora com louvor.
Nesses momentos nosso corpo sente tudo o que a cabeça ignora por completo. Dançamos uma dança surda, gesticulamos como loucos no nada e abraçamos ninguém. Percebemos que é possível ser só e feliz, sem esquecer o quanto é radiante ter alguma plateia nos percebendo – sem nem precisar aplaudir.
Em outros momentos há o vazio. Mas dessa vez ele está cheio de coisas dentro. Um vazio cultural e nada boçal. Você vai retendo relatos, desejos e informações do mundo, sem se sentir dentro dele. Ele te preenche, mas você não o completa de coisa alguma. Uma situação, no mínimo, interessante.
Você conhece seu potencial. Sabe até onde pode (e quer) ir. Conhece bem seus defeitos e todas suas qualidades. O espelho não te julga mais, pelo contrário: ele te olha e avisa que está tudo bem por ali – sem grandes conceitos, mas nenhuma reclamação. Sabe que sua cabeça pode te matar, mas não sabe o que é parar de pensar.
A verdade é que esse vazio é também um momento calmo. Tão calmo que bahianos se entediariam. Não há tristeza, não há amor, nem mesmo paixão. E você sabe que aí está o problema: falta emoção. Aquele lado inflamado capaz de fazer chorar qualquer homem grande, ou abater a tiros um malfeitor.
Não existe carga, nem sequer falta energia. O que não há é o encantamento. O envolvimento com a vida e todas as relações. De repente elas (as relações) se tornam superficiais - com exceção das que já vivem no seu coração. O resto, passa batido e sem nenhuma decepção. Não há mágoa, nem raiva... fica quase bobo. Afinal, a competição não tem nenhum valor quando só há um competidor.
Nesse momento vazio a gente reflete e consegue olhar a vida de fora. O ângulo é neutro e não se vê nenhum júri. Você sabe que um dia a felicidade (ou qualquer outra sensação) vai tocar a campainha, mas sabe também que a espera será sem ansiedade - simplesmente porque aprendeu que quando tudo está vazio, as coisas se preenchem sem esforço algum.
E, assim, será como sempre foi: de uma hora pra outra.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Bom motivo para voar

Não gosto de voar. Não sei quantas vezes já falei sobre isso – aqui ou em alguma mesa por aí. Também não gosto de dizer que é medo. Me recuso a adiar uma viagem só pela covardia.
Um encaixe nas palavras (as cruzadas), uma revista feminina bem imbecil e um livro divertido (aliados ao ipod, claro) resolvem qualquer turbulência (ou ajudam um pouquinho).
Infelizmente, o tele-transporte não chegou as nossas vidas e não há outra maneira de chegar rapidamente em lugares nada próximos. Então... a gente arregaça o cartão de crédito, acende uma velinha (pra garantir), coloca uma imagem de Iemanjá no peito e aperta o cinto.
Foi assim que cheguei para comemorar o aniversário de um dos melhores (e mais antigos) amigos que, por sorte, tenho. São quase 20 anos de amizade (e isso acusa a idade, mas nem ligo). Anos ouvindo o que o outro tem a dizer, bebendo os sorrisos e os problemas de cada um, além de dançar nos elevadores da vida... (mesmo que seja em pensamento).
Foi ele que me ouviu chorar pelo primeiro amor (criatura essa que, inclusive, fez com que virássemos amigos). Foi ele também quem me apresentou o segundo (e, no sarro, adoro culpá-lo por isso). Tantas histórias divididas, amigos que passaram e, hoje, estão nas nossas lembranças, enquanto a gente permanece.
Há mais de 10 anos de sua mudança para a cidade mágica, a gente não se perdeu pelo caminho. Coisa rara. As vezes ficamos tempos sem falar. Não nos vemos como gostaríamos. Mas, quando acontece, é como se o último encontro tivesse acontecido na semana anterior. A mesma intimidade está ali, a mesma facilidade de conversa, a mesma franqueza (e bobeiras) da adolescência - e é uma delícia por isso.
Em algum momento, ele casou. Um dos meus maiores arrependimentos foi o de não ter estado lá. Coisas da vida, eu sei, mas lamento. A beleza disso é que sua mulher consegue ser tão especial quanto ele. Me recebeu (e recebe) de braços abertos e entendeu a nossa amizade como poucas do sexo feminino fariam. Mulher e tanto essa. E ele é merecedor disso. Sem dúvida.
Enfim... não segurei na mão de ninguém pra chegar na Bahia. Não tive apoio nas áreas de instabilidade. Mas sentir aquele axé ao lado do meu grande (literalmente) amigo, não tem preço e nem cartão de crédito que compre. É especial e pronto. Sempre vai valer a pena.