quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Lista

Faça uma lista de grandes amigos, de grandes passagens, grandes momentos, brindes, mesas de bar, trabalhos confusos (porém finalizados), nascimentos especiais, mortes saudosas... faça uma lista e agradeça 2009. Ele acaba hoje e tem uma sensação (confesso) de que vai tarde.
Hoje é dia de 7 ondas. Desejos puros, crentes e até inocentes. Desejos pedidos a quem? Deus? Iemanjá? Vida? Céu ou mar? Quem realmente se importa? Cada um tem sua fé e é indiscutível.
A verdade, é que nossos pedidos fazem parte da simbologia que isso representa: um ritual de passagem anual – que não pode (e nem deve) ser quebrado. Por isso, preparei minha pequena lista. Aqui vai:

1)Saúde e proteção. Esse vale para mim e todos aqueles que amo, pois sem eles não tenho nem saúde, nem proteção alguma.
2)Amor. Sentimento merecedor de um pedido, desde que venha acompanhado de sinceridade, lealdade, leveza e companheirismo.
3)Dinheiro e trabalho. Se vier da mega-sena eu agradeço mais (claro). Mas, senão, fico feliz com projetos no ar, dinheiro no bolso e muito trabalho na cabeça.
4)Leveza e felicidade. Quero a promoção de risadas. Quero a leveza do reveillon durante o ano inteiro. Quero dançar a música de uma boa gargalhada, sabendo que isso (sim) é felicidade.
5)Encontros. Em 2010 pretendo valorizar cada encontro que tiver. Promover mesas com grandes amigos, conversas furadas em bares em que nunca tomamos o último gole, sempre mais um.
6)Oportunidades. Fazer cursos daqueles que nunca me inscrevi por falta de dinheiro ou outra besteira qualquer. Viajar com cada centavo recebido, na companhia de quem me faz bem. Criar oportunidades de muito mais momentos felizes.
7)Conseguir fazer tudo isso e não ficar triste caso nem tudo dê certo.

A partir de meia noite de hoje temos 365 para correr atrás daquilo que ainda não conseguimos. Depois, se Deus quiser, teremos mais 365, mais 365, mais 365... e assim vai. A passagem de ano nada mais é do que a possibilidade de novas possibilidades (e é linda por isso).
É só mais uma virada de mês, com a relevância (nesse ano) de viver os últimos dias do final da década. Se é realmente importante? Não sei... mas creio que se a gente quiser, pode se tornar!

Chega de 2009!
Que venha 2010 (muito melhor e infinitamente mais feliz)!

sábado, 26 de dezembro de 2009

Saldo

Poderia medir o saldo do ano sem apontar se foi negativo ou positivo – afinal, na vida isso não funciona (como nas finanças). A vida é mais complexa do que planilhas de Excel (apesar de eu nunca ter entendido as planilhas, confesso). Em 2009 perdi coisas, pessoas e sentimentos. Matei todos eles (não de forma literal, claro) em diferentes tacadas. Assim como eles me bateram também. Machuquei e fui machucada. Sofri em momentos bem específicos, cresci um pouco em cada queda (por mais antagônico que isso possa soar).
Muitas pessoas me decepcionaram, mas foi com elas que reaprendi que a gente é o que é – por mais que as vezes tentemos mentir a respeito. Uma hora a máscara cai e somos pegos pelo susto. Mas, como tudo, passa.
Foi nesse ano que passei a duvidar de grandes eventos de comemoração. Eles, nem sempre, representam os reais sentimentos de cada um. Não são tão verdadeiros como deveriam. Emocionam aos olhos do leigo, mas não necessariamente querem dizer alguma coisa. Com isso, aprendi que festas são incríveis, mas não precisamos delas para ter felicidade – porque, para isso, é preciso mais do que vestidos ou jantares. É preciso sentir (e, por isso, é tão mais complicado).
Sem conselhos, consegui negociar. Resolvi que poderia ser mais e melhor, sem ouvir quem nunca quis, realmente, dizer. Errei, extrapolei e consegui. Passei a confiar mais em mim mesma e menos nos outros.
Conheci gente nova. Gente que nunca mais verei e outros que levarei para sempre comigo. Confirmei que sem família e sem amigos não somos nada. Que se um dia viraremos pó, precisamos deles para nos manter vivos e sorrindo em qualquer lugar. São eles que nos recebem, abraçam, oferecem o ombro e mostram que até chorando é possível também sorrir.
Junto com as crianças, filhos que não são meus, vi que a vida deve ter o mesmo sentido infantil: a gente cai e levanta, chora e sorri, erra e aprende, sem nunca crescer completamente – só deixamos mesmo de fazer xixi na cama (ou, pelo menos, a maioria de nós).
2009 teve seu valor. Mas daqui uns dias vai começar um ano novinho em folha. Como numa tela em branco podemos escolher o fundo (depois trocar), o desenho principal (depois trocar), todas as perspectivas (depois trocar), as cores (depois trocar) e a moldura (essa, sem troca). São 365 dias para então pendurar mais um quadro na parede da (nossa) vida. Se ficar feio, melhoraremos em 2011. Mas... e se ficar lindo?
Cabe a cada um fazer sua parte: escolher um bom pincel e tintas de cores vibrantes, e colocar todo o sentimento e criatividade na tela.
Boa sorte pra nós!

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Então é natal

O natal é aquela época em que as crianças se divertem e os adultos trocam olhares de lembranças. Olhares do passado... pensando o quanto o natal era divertido quando todos acreditavam no Papai Noel.
É uma época estranha para mim. Toda essa nostalgia envolvida... Pessoas que nunca mais vi ou verei, simplesmente porque a vida é isso: uma passagem.
De verdade, ninguém lembra do aniversário de Cristo. Ninguém canta parabéns a ele. Não tem bolo, nem vela ou primeiro pedaço. Mas a sensação de que é uma época diferente, fica. Ninguém (mesmo os ateus) fica impune ao natal. Ninguém.
Hoje é a véspera. Mas é nessa noite que comemos perus, tenders e outras coisas emblemáticas para celebrar a noite cristã. Trocam-se presentes, beijos e abraços – mesmo sem entender muito o porquê de tudo isso. Todos fazemos. Está implícita na nossa condição humana (ao menos a brasileira), creio.
Mas hoje é também o dia em que podemos agradecer, pedir e renovar. Se Cristo nasceu e passou por poucas e boas, ele com certeza vai ouvir os pedidos mais amenos – só para mostrar que o mundo para gente é bem mais fácil do que foi pra ele. E aí, a gente consegue enxergar que é possível conquistar mais coisas, sem ser crucificado no final – desde que “façamos o bem, sem olhar a quem”, já diria meu avô.
Vamos aproveitar a noite com a família, os amigos e as pessoas amadas para lembrar de que é preciso amar mais, para viver (muito) mais e melhor. Que é preciso perdoar, para ser feliz. E que tudo isso se consegue lutando, arregaçando as mangas e confiando na gente mesmo.
Que nesse natal a gente consiga ver a nossa vida com outros olhos, procurando a leveza para descobrir que o melhor é ser feliz nos pequenos momentos – porque são eles que valem a pena (de verdade), o resto é blá blá blá natalino.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Rir ou chorar?

Quanto vale o seu perdão? Já pensou sobre isso? Por que será que nosso pedido de perdão é mais importante que o do outro? Somos mais sinceros (claro). Mas... todos somos, certo? E é aí, que a história se complica.
Hoje me fizeram pensar nisso. Muitas vezes esquecemos que perdoar é também aprender, é mostrar que somos capazes de amar. Mas as vezes é tão complicado...
Mesmo quando esquecemos o real problema, quando nem nos lembramos mais daquela pessoa que magoou tanto, que foi embora, que traiu, que nos matou por dentro (ao menos um pedaço)... quando ela nos vem a memória tudo parece voltar. A mágoa, a raiva, o rancor. Mas isso vale?
Vale nada. Coisa nenhuma. A falta do perdão é muitas vezes puro orgulho. Uma tentativa, sem nenhuma vantagem, de ser grande, melhor, absoluto e (muitas vezes) vítima. Afinal, é tão melhor ser o coitado da história. Dá menos problema. Acusamos alguém de nossa tristeza, e pronto. Todo mundo entende e te dá atenção.
Ego. Nessa hora é o ego quem manda na cabeça da gente. Perdoar é bacana (dizem), mas difícil pacas. Não fomos criados para oferecer a outra face assim... numa boa. A gente quer que o outro sofra. Não acreditamos que o outro não tenha feito por mal, não tenha pensado em como te magoaria. Mas, talvez ele tenha feito apenas o que era melhor para ele. Assim, sem pensar mesmo. O difícil é encarar a (nossa) vida depois do perdão, isso sim.
Dizer que tudo passou, é mentir. Dizer que não lembra da dor, é auto traição. Mas confessar que está disposto a ser feliz, pode virar realidade.
Pensando nisso tudo, chego a conclusão que o mais difícil do perdão não está no ato em si. Está na continuidade dele. Se você perdoa não pode mais se queixar e tem que encarar a vida de frente. Fazer com que o simbolismo dessa atitude te dê a coragem para ser feliz a partir dela.
E ser feliz é muito, muito mais complicado do que perdoar – mas é também muito, muito, muito mais divertido.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Abaixo a balança

Se balança fosse bom não teríamos nenhum problema ao subir nela. Passaríamos ilesos e de nada valeria a sua marcação. Mas não. Balança causa taquicardia, depressão e náuseas (sem nenhum exagero).
Desculpa, mas não conheço uma só pessoa que goste de pisar em uma e olhar aqueles números cruéis te atacando ferozmente. E, o pior, agora eles são grandes, digitais. Pelo menos, antigamente aquele ponteiro girava e mostrava o temido peso em letras pequenas (apesar de que, se o ponteiro girasse muito, o trauma era ainda maior).
Não sei. Não gosto delas. As mulheres têm dois problemas na vida pessoal (com o espelho): envelhecer e engordar. Fato. São raras as mulheres que temem uma balança porque são magras demais – elas existem, claro, mas quase não se vê entre as drogarias.
Descobri que homem também não gosta. Sempre namorei gordinhos e nenhum deles gosta nem da palavra, quanto mais do objeto. Meus amigos heterossexuais nem sabem o que é isso, e os gays sempre se acham gordos, correndo nas academias da vida.
Toda mulher que conheço está de regime, ou está grávida e de dieta. Fibras, iogurtes naturais, frutas frescas e secas... tudo no lanchinho da tarde.
Criei uma teoria para driblar a balança (mas ninguém ousa tentar): o que é líquido não engorda. Afinal, como engordaria? Passa direto! Outra: se você misturar uma coisa bem calórica, com outra natural, você criou uma sobremesa balanceada e bem light. Exemplo? Morango com leite condensado. Perfeito!
Ok, piadas a parte, a dica é: corra das balanças em época de natal. Deixe pra lá... o ano novo virá com uma barriga novinha em folha e quem sabe – se você não se preocupar tanto com ela – bem lisinha e sem gordura?
Não dá mais para tentar ser como a atriz, a modelo, a garota da capa... esquece. Assuma quem você é, mas seja saudável. Coma bem, evite os doces (mas libere durante a tpm ou um dia de mau humor), beba com os amigos, caminhe ou faça qualquer outro exercício... e esqueça seu corpo! Divirta-se! Você vai ficar mais bonita se não criar mais uma neurose (e veja bem, já somos loucas o suficiente, né?), podemos ficar sem essa! Por isso, em 2010, abaixo a balança!

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Viver sem pensar

A vida é cíclica. Nenhuma novidade nisso. A gente nasce, cresce, envelhece, morre. Outros nascem, crescem, envelhecem e também morrem. Sucessivamente. É muito simples, mas a gente esquece. Até o dia que alguém nos joga na cara.
Ontem foi um dia assim. Amanheci com uma notícia de morte. E aquela sensação da perda se arrastou comigo pelo dia. No final da tarde veio o nascendo da Luiza (minha afilhada querida e linda).
Enquanto a via pelo vidro do berçário, chorando sem parar, isso não saía da minha cabeça. Aquela criaturinha tão pequena, super saudável ainda vai passar por poucas e boas. Mimos, risadas, presentes, carinhos, estudos, namorados, casamento (ou não), filhos (ou não) e envelhecimento, assim como todos nós. E, também assim como todos nós, ela não pensará no fim. Nunca. Até que ele chegue.
Quando temos esse tipo de choque no mesmo dia vemos como a vida é curta (e não importa quanto tempo vivemos) e como não sabemos nada dela. Têm muitas vantagens nisso: aproveitar mais, sentir mais e sofrer muito menos. Se tudo vai acabar um dia (de qualquer jeito), porque ligar para pequenos problemas? No fim seremos pó e milhares de crianças continuarão chorando ao nascer e sorrindo ao engatinhar.
Viver sem pensar ainda é o melhor caminho a seguir em qualquer altura da vida. Nosso desafio é tentar!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Roteiro individual

Já tenho rugas. Ainda não cheguei na idade de dizer que estou velha. Mas passei da idade em que sou nova. Sou o que todo mundo chama de jovem – que é uma definição bem vaga, diga-se de passagem. Pode-se ser jovem para sempre (dizem), mas sua aparência não vai ajudar muito – é bom lembrar.
Cortei o cabelo de um jeito que prometi cortar apenas aos 35 (o que eu achava ser velha e hoje acho o contrário). Me olho no espelho e vejo que existem traços que não são os mesmo de tempos atrás. As famosas e malditas “marcas de expressão” - um belo jeito de não usar a palavra certa e mais temida do cotidiano feminino: rugas.
Não estou sofrendo. Pelo contrário. Realmente acredito que envelhecer faz parte da vida – ou estaríamos todos mortos (o que não seria muito bacana para contar histórias, já que mortos não as contam). Por isso, investi em cremes. Caros cremes.
Mas, como eles ainda não chegaram, a minha ansiedade de usá-los me faz envelhecer mais a cada dia. Sei... é mesmo psicossomático, mas é assim que sinto: saio do banho e minha pele resseca de um jeito que sorrir me daria mais rugas (tenho certeza). Um horror.
É claro que tudo isso é um exagero, mas as mulheres buscam uma jovialidade insana e eterna. E eu me pego pensando que estou chegando lá. A gente começa com uma neura estranha de que devemos parecer a Penélope Cruz aos 40 e poucos (para sempre) – sendo que nunca, sequer, lembravam da moça quando te olhavam mais “jovem”.
Aí, vem a Meryl Streep dançando como uma menina em um musical e pensamos “quero estar assim aos 60 e poucos”, se nem loira e nem de música você gosta.
As mulheres e o cinema. Esse é nosso problema e nosso parâmetro. Um erro brutal, só resolvido se houvesse um maquiador e um cabeleireiro todos os dias, logo pela manhã, só para dar aquele trato que todas merecemos. Assim, seguiríamos com a vida sem medo da idade que nunca teríamos (claro) porque ninguém envelhece no cinema, nunca. Elas são imortais, ultrapassam o tempo, a morte... e todas as rugas ganham charme, beleza e traços de experiência, e autenticidade.
Por isso, façamos o mesmo com nossos espelhos (e nossa maquiagem). Afinal, somos as estrelas de nosso próprio roteiro, não?

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Asa Morena

Eu era pequena. Devia ter uns 4 ou 5 anos. Andava com uma vitrolinha Philips laranja, carregada pela alça, para todos os lugares. Era como um talismã (creio). Na outra mão segurava, cuidadosamente, discos que já mostravam meu lado eclético (pra tudo): Chico Buarque em "Cálice"; Fafá de Belém cantando o Hino Nacional (vai entender!); Grupo Dominó (mais tarde) e Xuxa (também mais tarde, um pouco). Uma verdadeira miscelânea de sons.
Mas, naquela época (acho que 1982), dentre todos, eu tinha uma música predileta. Asa Morena, cantada pela Zizi Possi... Deus sabe em qual o disco! Eu adorava a voz, o jeito dela cantar, o tom macio... sei lá! Se pudesse escolher, lembro que cantaria só essa música o dia inteiro.
Confesso que, hoje, quando ouço (coisa rara), volto à vitrolinha, com a sua tampa/caixa, tocando para mim (somente), embaixo de um quiosque num bairro afastado de Ribeirão Pires. Bons tempos... e esses, não voltam (mesmo) mais.


Me faz pequena, Asa Morena
Me alivia a dor
Aliviando a dor que mata
Me faz ser teu amor...

Me toma no crescer
De um beijo muito louco
Me implodindo aos poucos
No universo a desvendar
A vastidão do teu amor...

Me toma sem pensar
Num gesto muito forte
Unindo o sul e o norte
Do meu corpo
Frágil corpo
Com a mais pura emoção...

Me faz pequena
Asa Morena
Me alivia a dor
Aliviando a dor que mata
Me faz ser teu amor...

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Dignidade

Ele não tinha saída. Envelhecia cada dia mais e nada podia fazer a respeito, a não ser viver o melhor que podia. Tinha sorte: a lucidez. Escrevia, lia, ia ao cinema, recebia amigos (os ainda vivos) para almoçar e tinha na filha a melhor amiga.
Mais do que amiga, ela era também a conselheira, o incentivava a sair e o ajudava a se manter financeiramente – apesar de ainda se orgulhar de alguns poucos trabalhos e lançamentos que apareciam.
Se dava ao luxo de manter uma certa vaidade. Os cabelos brancos, a barriguinha saliente, as rugas... tudo desaparecia por completo quando começava a falar com uma mulher bonita, quando percebia que ainda tinha charme, que ainda fazia a bela sorrir e corar. Nessa hora, era jovem. Nessa hora, era feliz.
Por isso, ficou verdadeiramente encabulado quando teve de perguntar ao seu médico cardiologista se poderia voltar a tomar Viagra. Na frente da sua filha, pegou realmente mal. Mas o que faria se agora ela o acompanhava em consultórios, visitas, laboratórios? Ele precisava falar – já que (graças a Deus) ela não o acompanhava em todos os lugares.
Infelizmente, seu médico negou qualquer possibilidade. Decepcionado, rezou para que ela nunca comentasse nada. Ela, respeitosamente, calou. Em casa, ele teria outras possibilidades, mesmo sem o remédio, pensou.
Ela foi para o trabalho e ele se trancou no quarto, ligou a TV e procurou seu canal particular (como gostava de pensar). Nada. Não achou. Procurou na revista da tv por assinatura o número do canal, digitou e nada aconteceu. Cancelaram? Mas por quê?
Ligou para a filha. Ela resolveria. Pediu para que ela ligasse na empresa e reclamasse. Ele queria todos os canais - enfatizou ao telefone. Ela foi até a casa do pai, mostrou que todos estavam lá. Filmes, desenhos, jogos, tudo. O que mais ele queria?
Aos 83 ele cansou. Decidiu que não tinha porque negar, inventar, tentar explicar... estava (claramente) velho demais para isso. Então, respirou fundo, reuniu a coragem, recolheu o orgulho e disse: Falta o canal da Playboy, filha. Preciso dele.
Paciência. Precisava viver o tempo que lhe restava com dignidade (ao menos a masculina).

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Simples desejos

Por que em todos os finais de ano a gente começa a pensar em coisas para desejar no ano seguinte? Uma bobagem – principalmente quando o saldo do ano atual (em relação aos desejos do ano passado) é negativo. Ainda assim... desejamos. Quase um vício, creio.
Desejo coisas desde que me conheço por gente (e já pensava). Pulo ondas, peço aos santos, escrevo cartas a mim mesma, faço listas... muitas! Bobagem. Não, não tem nada de amargura nisso. Acontece que a maioria dos pedidos não depende só da gente. Depende também de outro.
Um chefe para reconhecer e dar aumento, um namorado que te ame, um empresário que acredite em você, alguém que te peça em casamento, a safada da máquina da mega sena que nunca tira os números certos... Sempre tem outras pessoas (ou coisas) envolvidas. E é isso que temos de mudar.
Cheguei a conclusão que minhas ondas terão pedidos genéricos e universais (algo como um pedido de Miss – com a paz mundial). Não farei listas, cartas ou qualquer coisa assim. Vou desejar apenas o que está ao meu alcance. Logo ali, a mão.
Brincadeiras a parte é bem complicado desejar pouca coisa. Somos, por natureza (e biologia) megalômanos. Pensamos muito mais além do que podemos (ou deveríamos). Projetamos coisas que estão fora do nosso alcance. Culpo filmes e livros de positivismo e auto-ajuda.
Claro que desejar e sonhar faz parte da gente. Mas sonho nem sempre vira realidade. Querer nem sempre é poder – infelizmente. E a gente se recusa a acreditar nisso. Não, não estou sendo amarga (repito), mas realista (e apenas).
Veja bem: sou a favor do sonho, do pensamento nas alturas, de desejos profundos e difíceis (como a loteria, ou o jogo do bicho – já tava bom). Mas esses a gente deve jogar ao acaso, sabe? A gente deseja, acredita e quem sabe um dia o universo, os anjos ou um ser humano bondoso diga “amém”. Temos de acreditar neles, o que não devemos é sentir a frustração de final de ano, quando lemos a tal lista (mesmo que mental).
Para minimizar erros e frustrações, ofereço a saída: faça desejos simples. Pense em todas as coisas que você sempre quis fazer e nunca fez por preguiça, má organização, falta de coragem... Encare seus medos e faça de 2010 o ano das grandes realizações PESSOAIS. Um curso, uma viagem (ou mais), uma mudança radical de trabalho, uma nova forma de encarar o chefe, a vida... Qualquer coisa vale, desde que comece por você. Só por você.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Vingança

Namoraram por muitos anos. Disseram todas as palavras de amor e fizeram todas as promessas... Ela acreditou em todas. Não havia porque duvidar. A vida seguia como devia.
Veio o casamento, os filhos, a vida em comum. Junto disso, vieram grandes negociações, muito dinheiro. Ela se orgulhava em perceber que estavam crescendo juntos. Acreditava ser uma união de contos de fadas. Via que ainda tinham amor, paixão, mesmo depois de tantos anos.
A empresa crescia a cada dia. Ele assumia e resolvia todos os problemas. Trabalhava muito. Ela cuidava dos filhos, da casa, dos jantares e das festas. Os dois se completavam.
Com o tempo ela sentiu que eram mais amigos do que amantes. Já se passavam 30 anos desde o casamento. Ela sabia que era difícil manter uma paixão acesa. Diante do espelho, lamentava. Tinha saudades daquilo que eles foram um dia...
Para piorar, ele chegava cada vez mais tarde. Os antigos carinhos andavam nulos. Velhos prazeres não existiam mais. Não iam mais ao cinema, jantares românticos só em raras datas especiais, ou com a família inteira... Tudo parecia distante e infeliz.
Nunca havia desconfiado dele. Eram cúmplices (acima de tudo). Mas em mais uma noite sozinha resolveu checar as contas – coisa que nunca fazia. Viu compras que nunca fez; jóias que nunca ganhou e jantares que nunca foi.
Esperou calada a chegada dele. No confronto, soube da paixão pela secretária, anos mais nova (em um caso clássico). Magoada, pediu que ele se fosse.
Estava exausta, não dormia há dias. Sofria não apenas com a traição do marido, mas pelo amor que não tinha, pelo vazio, pela solidão... Na frente de seu advogado avisou que não queria mais do que o necessário: sua casa, seu sítio, a casa de sua mãe... o que era justo (acreditava).
Ele lamentou o ocorrido, e achou ser digno da parte dela. Porém, deveria lembrá-la de que tudo estava em seu nome. Nada pertencia ao seu marido por problemas fiscais.
Surpresa, ela levantou o olhar, e ele lhe garantiu os carros, as empresas, propriedades, o helicóptero. Assim, sem nenhuma dúvida ou lágrima, ela pegou o celular e ligou para o (agora) ex-marido: “Querido? Você está demitido”. Desligando, sorriu para si mesma e viu que a sua nova vida acabava de começar.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Non sense

A visão feminina sobre as coisas pode nos deixar mais sedentos por algo que (simplesmente) não vai ou não precisa acontecer. As mulheres, as vezes, são um saco (a não ser eu e minhas amigas, claro).
Exigimos coisas que podem estragar o que já está ótimo. Por algum erro de conexão com a torre (seja ela qual for), esquecemos da frase: “em time que está ganhando não se mexe” – e nada tem a haver com futebol.
Ah... essas mulheres insanas. Numa mesa cheia delas você pode ouvir qualquer tipo de reclamação – partindo do filtro solar, passando pela morte do artista, a viagem da outra, até o problema com o namorado. Tudo. Na mesma mesa e quase ao mesmo tempo. A gente não conhece (e nem quer conhecer) rédeas, mas tem consenso único: queremos carinho. Vindo de qualquer (e toda) parte.
O problema parte daí. Quando em excesso, o carinho irrita. Quando nulo, deixa amargura. Quando escasso, grosseria. Na medida, pode deixar... louca. Por que qual é exatamente a medida? O que é para uma, com certeza não é para outra.
Queremos quem cuide, quem olhe, quem nos dê um sorriso e faça uma ligação no meio do dia. Mas (dizem) que a atenção demais também enjoa. Difícil, não?
Quando não se tem nada disso, queremos tudo – em proporções exacerbadas. Quando temos, podemos querer ainda mais ou menos (?). É uma eterna divisão de sentimentos. E não há chocolate que nos cure. Somos insaciáveis. De verdade.
Ser mulher não é fácil. Descobrir o que queremos ainda menos. Porém, sabemos o que não queremos e isso (na cabeça de uma louca) já é o suficiente – o resto é amadurecimento.