quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O texto tem voz

Em poucos dias 2010 chegará ao fim.

Esse é último texto do ano. E o texto quer medir os esforços, as conquistas e derrotas, mas eu não quero.
Ele (o texto) quer contar sobre sofrimentos antigos, dizer que aprendeu e que não vai mais amar pessoas que não valem a pena. Mas eu me recuso a fazer novas promessas sobre o tema.
O texto, não se cansa. Quer escrever cada vez mais, contar de planos que não vingaram e outros que aconteceram cheios de sucesso. Contar que uma viagem pode mesmo mudar a vida e uma nova língua transformar relações. Mas eu acho que ainda há muito que estudar e viajar. Por isso, prefiro ficar com os pés no chão e esperar.
O texto é fofoqueiro, quer garantir que não haverá mais amizades desfeitas com pessoas que merecem sorrisos pequenos e palavras de lado. E eu não quero comentar. O que passou, passou. Não vale a pena especular.
Como alguém que não quer perder tempo, o texto gosta de se vangloriar e quer dizer que profissionalmente o ano seguiu com inesperada ascensão. Mas, eu, ainda acho cedo demais para falar.
Ele, o falador, ainda quer lembrar das perdas. Pessoas que se foram e que não voltam mais. Pessoas que nos deixaram sem qualquer aviso prévio, sem qualquer sinal. Já eu, não pretendo falar sobre isso. Parece que sofremos duas vezes. Melhor orar.
O tal último texto não quer esquecer que apesar de sofreres e lutos (em vida e morte), muito se fez. Apesar de algumas mudanças forçadas e outras desejadas, muito se viu, se aprendeu. Melhoramos, avalia o texto. Apesar de tantos “apesares”, de tanta luta e cansaço, 2010 também foi o ano de plantação. E aí, eu realmente concordo com o senhor texto. As sementes foram colocadas na terra com muito suor e muito sol na cabeça. Por isso, creio que em 2011 teremos a colheita. A realização está no ano que vem. Basta ter fé!

Feliz 2011!

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Feliz Natal

Então, é natal - já diria a tradução horrível de uma música bem menos horrível. É engraçado como essa data tão significativa tem hoje uma conotação tão comercial. Ouvindo (e cantando, confesso) a música do John hoje de tarde com duas pessoas mais do que especiais, lembrei que (mesmo a canção de Lennon estar bem longe de outras tão lindas que ele já compôs) o Natal tinha mesmo um significado diferente antigamente.
Quando o ex-beatle a escreveu queria o fim da guerra (ou já comemorava algo assim, não sei mais). Hoje, o Natal virou uma festa sem mirra, incenso e (definitivamente) sem ouro. Uma festa em que se come demais, monta-se uma árvore sem muito sentido, colocam-se luzinhas (minha parte favorita) e reunimos a família para ver todo o show (?) acontecer.
É injusto não comentar que para as crianças o natal faz sentido. O bom velhinho só vem para os melhores meninos e meninas do ano (mas, em geral, todo mundo ganha). Aí, o natal é mais feliz por causa dos presentes. Por outro lado, se a gente comparar com o menino Jesus faz até sentido. Afinal, Ele também ganhou presentes - muito menos interessantes que uma Barbie ou um skate (nem vou falar da bicicleta), vale lembrar.
Adultos, o natal perde a magia. O comentário que mais se ouve entre os maiores de 30 (ou até menos) é: “nossa! Já chegou o natal!” E assim se vai mais um ano sem que a gente decidisse realmente o que quer da vida, sem que nos envolvêssemos em uma linda história de amor, sem que ganhássemos o dinheiro prometido na segunda onda do ano anterior, sem que a viagem dos sonhos desse certo... sem que tanta coisa acontecesse.
Sim, a saúde se manteve. Sim, coisas lindas e outras tristes aconteceram. Sim, o inesperado novamente se fez presente durante todo o ano. E, sim, valeu. Simplesmente porque sempre vale. Estamos vivos, pô! E outra: se a gente passar o natal sem reclamar da rapidez do ano, do calor ou de como tudo está caro, não tem graça. Afinal, se tudo estiver perfeito, o que desejaremos para o ano que vem? Pelo menos, deixamos a guerra do Lennon lá atrás... já melhoramos, não?

Feliz Natal! Feliz Navidad! Merry Xmas!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Esponjas da mudança

Quando a gente percebe está fazendo coisas que antes não fazia, mas que outro fazia. O ser humano é tão maluco que consegue absorver manias que nem tinha, só por amar, conviver, admirar. Isso acontece com mais freqüência do que imaginamos. Pode reparar.
A gente é bem louco mesmo. Quando vemos estamos diante do espelho, com a mesma cara de antes e com modos tão completamente diferentes. O pior é que temos de olhar bem de perto, porque tudo parece tão natural e familiar que não reparamos. Mas tá ali. Pode ver.
Em choque, abrimos mais uma cerveja de frente para a tv, acendemos um cigarro, corremos na praia, pintamos um quadro, reunimos amigos numa mesa (em casa ou no bar), valorizamos mais nossa família, preferimos (mesmo, e de coração) estar só do que mal acompanhados, admiramos coisas que antes não faziam o menor sentido, odiamos coisas que antes adorávamos. Mudamos. E como mudamos.
Ninguém muda ninguém? Não. A força não. Mas que muda, muda. Com outra pessoa passamos a ver a vida também pelo os olhos dela. Criticamos muita coisa, mas valorizamos muitas outras. A partir daí, absorvemos. Somos esponjas humanas que, para melhorar seu próprio status, incham de conhecimento, de beleza... com jeitos diferentes a cada fase da vida. Aí, os anos vão passando e acumulamos. Como acumulamos.
Faça a conta de quantas pessoas com quem você conviveu que te fez ler mais (ou menos), saber mais (ou menos), beber mais (ou menos), querer mais (ou menos), ver mais (ou menos), conhecer mais (ou menos), desconfiar mais (ou menos), esperar mais (ou menos), falar mais (ou menos), viver mais (nem menos), amar mais (sem mais). Tudo faz tudo mudar. Todo mundo faz todo mundo mudar. O mundo já nos faz diferentes a cada dia. E é muito bom por ser assim.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Ferreira Gullar escreveu e eu concordo. A gente alimenta a vida do que quiser. Podemos sofrer ou podemos sorrir. A escolha é o que nos faz melhores ou piores (ou deprimidos). Meu desejo é que todo mundo perceba que a vida só se alimenta daquilo que escolhemos. Por isso: faça a escolha certa.
Vamos ao poema:

APRENDIZADO

Do mesmo modo que te abriste à alegria
abre-te agora ao sofrimento
que é fruto dela
e seu avesso ardente.

Do mesmo modo
que a alegria foste
ao fundo
e te perdeste nela
e te achaste
nessa perda
deixa que a dor se exerça agora
sem mentiras
nem desculpas
e em tua carne vaporize
toda ilusão
que a vida só consome
o que a alimenta.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Mudar

Mudança sempre faz parecer que a vida pode ser diferente, pode se alternar, pode mudar. Em uma mudança descobrimos coisas velhas, fotos antigas, cartões de natal, aniversários, cartas! E, a verdade, é que nem sabemos ao certo porque guardamos tanra coisa. Mas... guardamos.
A mudança nunca é uma coisa ruim. Nunca. Pouco importa se é por falta de dinheiro ou abundância. Pouco importa se é para um emprego melhor ou pior. Não faz diferença se o para sempre era certo e só restou sofrimento. Mudar é o verbo que faz a vida acontecer. Que mostra que nada é realmente concreto e tudo pode se transformar, sempre.
Se a gente muda, o mundo parece que muda com a gente. Se mudamos o jeito de olhar a nova rua, parece que todos estão sorrindo e nos dando boa vindas. Se decidimos encarar uma nova decoração, dá impressão que a casa tem novo significado. Se resolvemos nos divertir e parar de chorar, o mundo parece entender e te entregar só diversão, até mesmo no trabalho. Mudar parece ser uma maravilha, se você também mudar de olhar.
Em meio ao caos de uma mudança (sim, porque pode ser bom, mas o processo cansa e pesa nos ombros de qualquer um), é arrumando os armários que a gente decide jogar fora o que não vale, reformar aquele quartinho fechado dentro de você, as gavetas que você sempre se recusou abrir e, depois, ver que há vida pós-bagunça. E ela é válida!
A felicidade de uma mudança só acontece quando todas as paredes ganharem novas cores. Quando o que tiver de ser quebrado, vá ao chão para dar espaço a uma nova luz. Aí, com tudo em ordem, é possível sorrir de novo. Ver que era preciso tempo e boa vontade para enxergar um novo momento na vida, uma nova esperança e (quem sabe?) um novo céu (mesmo que você não o veja sentado na sala). Mudar sempre vale.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Simplicidade feminina

O amor pode mesmo bater na porta, mas é você quem decidirá deixá-lo entrar. Mas... e se ele não bater? Pensar no ônus e bônus depois dos 30 é muito mais complicado. Uma matéria de hoje, do New York Times, afirma a dificuldade das mulheres de encontrar um amor verdadeiro e sem receios entre os 30 e 40 anos, principalmente se ela for bem sucedida. Sendo assim, quem é que tocaria a campainha?
É irônico que na mesma página haja uma outra matéria falando de algo cinematográfico: uma poderosa e triste história de amor proibido. Um casal apaixonado fugindo das famílias para poderem se casar e tendo um final triste, como somente Shakespeare soube escrever (é a vida imitando a arte, ou vice e versa).
Depois de desiludida com a matéria sobre mulheres pós-30, me encantei descobrindo que em outros lugares do mundo o amor ainda foge pela porta dos fundos para descobrir (ou viver) outro final feliz, e não o que estamos acostumados.
De repente ser bem sucedida é quase uma sina. Um suposto fim, uma ameaça. O que poderia ser encarado como recomeço, a possibilidade feliz de encarar uma vida mais independente, mais livre de amarras e com experiências quase hediondas (todas vividas após um ex-amor, claro). Ter mais de 30 e se manter sozinha, deveria ser também considerada uma antiga vitória feminista num mundo tão chato e cada vez mais politicamente correto como o nosso.
Histórias de amor fracassadas, arriscadas e com fugas são lindas em contos, romances. Na vida real, assustam. Fazem a gente sentir que bruxas e pessoas malvadas existem por aí e isso atrapalha a visão dos nossos contos de fadas (afinal, eles ainda estão dentro de nós).
Lutamos tanto por um amor verdadeiro e especial (quase perfeito) depois de mais velhas (ou maduras?), que nem um belo conto nos convence mais. Nem uma história realmente triste e feita com muito amor, vivida no Iraque, nos faz abrir a porta com tanta facilidade. Pelo menos não sem antes perguntar os antecedentes, a qualidade intelectual, dentária, financeira, familiar, além de saber das vidas passadas... coisas simples assim!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Lugar comum

Ele deixou de amar. Olhava para ela e apenas sentia um grande carinho. A queria bem, queria vê-la feliz, contente, mas não conseguia sentir a paixão de antes. Nada parecido com um amor de verdade. Era um outro tipo de amor. Não sabia explicar.
Como dizer? Como conviver com alguém que te ama sem sentir o mesmo? Não assim, como ela sentia. Era muito complicado. Ele queria espaço, uma vida independente, um outro caminho - que ainda seria traçado. Sem planos. Sem ninguém para dividir. Voo solo, vida sem rumo, carreira nas alturas. Era só o que desejava.
Ela pensava ter encontrado a pessoa certa. O amor da sua vida. Tinham seus problemas (claro), mas se amavam acima de tudo. A força desse amor seria o suficiente para superar qualquer coisa. Sua vida estava, enfim, plena. Tinha encontrado o tal “cara”. Aquele dos sonhos infantis, aquele dos contos de fadas. Os sapos estavam mesmo no passado.
A vida entre eles estava passando por um momento de transição. Ela sabia que a mudança era certa: a vida em comum. Casariam, morariam juntos, qualquer coisa que garantisse “bom dia” e “boa noite” diários. Tudo certo para um novo momento, uma nova e linda fase.
Dois momentos diferentes, dois mundos vividos ao mesmo tempo. Um déjà vu eterno de um casal num lugar comum. Duas vidas que não são mais complementares. Dias distantes e tão próximos.
Ele a deixou sozinha na sala vendo seu futuro despencar pela janela. A vida vai fazer com que outros entrem pela mesma porta. Assim como algumas outras sairão por qualquer porta da frente. Nada termina de verdade, só se transforma. A mudança era mesmo necessária, a forma é que estava errada.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Perdas e Ganhos

Com o passar dos anos a gente perde coisas. Perde pessoas. Perde conversas, conselhos, amores, amigos... vamos perdendo a medida que ganhamos novas coisas também.
Uns substituem as perdas com facilidade irritante. Conquistam o esquecimento esperado pelos outros, que (em geral) nutrem a tentativa falida da eternidade (mesmo sabendo disso).
A gente vai esquecendo que foi feliz – a vantagem é que esquecemos que também fomos infelizes. Vamos percebendo que uma palavra não é eterna, quiçá uma declaração. Percebemos que perderemos aniversários e desejos - pedidos em cortes de bolos e festas. Depois vamos também esquecer como sofremos por essa perda. Então, qual é o ponto?
Recebi uma mensagem dizendo que se a gente não deveria se importar, ligar, se apegar. Se nos comportássemos assim, as coisas viriam com mais facilidade (avisava). Mas, qual a vantagem? Se não vai existir dor, como vamos descobrir que temos força para superar? Se não tem apego, o que aconteceria com a saudade?
Tudo isso serviria para um mantra diário e utópico. Uma lição indiana e espiritual de algo que precisávamos vivenciar, mas como ocidentais somos incapazes de não se importar.
Mas é como dizem: a perda de hoje é o ganho de amanhã. Blábláblás infindos de otimismo e uma quase ligação com os livros de auto-ajuda. Para mim, a perda é o choro escancarado (ou contido) de uma cicatriz eterna, isso sim! Claro que seremos felizes! Claro que tudo vai dar certo! Mas isso não quer dizer que não podemos sofrer no meio do caminho (ué!).

domingo, 28 de novembro de 2010

Sem motivo

Por algum motivo as coisas deixam de ser. Por algum motivo deixam de existir. Por outro, passam a viver. O que deveria, não acontece. O que não deveria, acontece. Esse ir e vir dos fatos torna a vida intrigante.
Quando tudo está correto e o veredicto é certeiro, o juiz decide pelo lado contrário. Faz você pagar pelo o que não fez. Aí, para compensar, a vida te dá mais trabalho, te oferece novas oportunidades.
O lugar era aquele, a sensação era aquela, mas o andar não. Bastou entrar no elevador para tudo se concluir.
O que antes era eterno, se mostra finito. Foi então que os amigos brotaram como frutos de árvores. Mostrando que só existe solidão para quem não saber viver na estação certa.
Por algum motivo um amor acaba. Pelo mesmo motivo ele renova, ou reaparece. Por outro, ainda se vê que não é o mesmo. Mas que será outro, em algum momento.
Tudo tem o outro lado. Tudo tem outro motivo. E, infelizmente (ou felizmente), não fazemos ideia de qual seja. É preciso acreditar na tal janela, mesmo que a claridade não seja tão brilhante. Em algum lugar vai escapar uma pequena luz, uma fresta, um raio. Sempre escapa.
Não é por motivo estranho que as coisas passam. Ficam para trás sensações, sonhos, viagens e pessoas. Elas passam. Mas não sem antes te mostrar alguma coisa. Não sem te fazer aprender como não se deve fazer (ao menos). As vezes lamentamos, noutras sorrimos. Mas passam. Assim como nossos anos, assim como o tempo e nossa própria eternidade.
Nosso motivo pode não ter sentido, mas ele terá razão um dia. O motivo de hoje, pode ser a boa surpresa de amanhã. A porta fechada do agora, é a janela escancarada do futuro. A lágrima de hoje, o sorriso de amanhã. E pra ser amanhã... não precisamos de nenhum motivo.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

(e) Stress (e)

Dizem que deixamos de fazer aquilo que gostamos quando estamos estressados. Ou não reparamos que deixamos de fazer essas coisas quando estamos assim... estressados. Cansa só de escrever.
Odeio essa palavra – usando ou não usando o “e”. Stress é péssimo escrevendo de qualquer maneira. O corpo adoece, tem mais sono que o normal, pesa, carrega, ultrapassa... cansa.
O poder dessa palavrinha horrível, não nos faz perceber o quanto nos falta vontade de fazer, ouvir, querer. Falta saco de esperar, de resolver, de pretender. Cansa.
Sonhar faz com que o estresse (nesse parágrafo com “e”) aumente. Dá trabalho imaginar ser, crescer, ganhar. De repente jogar é mais duvidoso, uma casa nova é muito difícil e um carro bacana gasta muita gasolina. Cansa.
Aí, você pensa que mais dinheiro resolveria o stress. Uma viagem longa, pés pra cima, jantar romântico, uma dança só sua, lindo vestido, uma declaração à beira mar. Nada. Tudo fica chatinho e combina com o stress do planejamento, da escolha, da coordenação e um bom roteiro. Cansa.
O pior de todo esse cansaço é o fato de que na vida não se tem muita escolha. Ou se cansa ou não se vive. Quando não tinha estresse, o stress tinha alguma outra palavra. Ele sempre existiu, só mudou a frequência, diminuiu a idade e aumentou o volume. Mas sempre esteve lá. E sempre foi cansativo.
Para resolver não há muita alternativa. Cada um deve encontrar o melhor jeito de se animar. Uma boa conversa entre amigos, um grande amor, grande oportunidade de trabalho (mais feliz e menos estressante talvez), mesa de bar (revigorante), abraço, beijo na boca, um bom filme no cinema, música alta em casa, uma gargalhada, boa companhia... Tudo que representar grandes ou pequenos momentos, desde que muito bem aproveitados. Sem nenhum (e)stress(e).

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

No MediaOn

A mídia se transforma. O impresso não vai morrer, e se morrer... bom, melhor não pensar nisso agora. As plataformas mudam, a publicidade muda, o jornalista muda, nossa vida muda... qual é a novidade? A gente vai amadurecendo e a tecnologia também. Já estamos meio acostumados a isso, não?
Se não, deveríamos. É isso que mais ouvi (e ainda estou ouvindo) no MediaOn 2010. Agora, por exemplo, escrevo na frente de muita gente (Deus sabe quantos ainda estão pela internet), enquanto ouço sobre a realidade do número de gente na internet hoje. Números surreais (creio).
Mas, o pior, faço parte desse surrealismo. Estou aqui comprovando e garantindo que uso a internet (com suas redes sociais) o dia inteiro. Faço parte desse mundo. Trabalho para ele, pesquiso nele, preciso saber dele... Nem jornal em papel eu leio mais. Choque. Fiquei em choque de constatar que mesmo depois de ver o LP, a fita cassete (morta), o diário e todo o resto, hoje não sei mais viver sem o computador e sem a internet. Não sei. Nem lembro mais como eu fazia para trabalhar em jornal diário sem internet... Credo.
Meu mundo romântico caiu, ou se transformou, claro! Prefiro os emails do que as cartas. Prefiro o facebook ao contato telefônico com toda aquela gente (já que seria impossível falar com tanta gente, ou saber de tanta gente). Sinto falta da vitrolinha, claro ou ainda dos telefonemas fora de hora... mas agora posso selecionar quem eu quero, onde eu quero e como eu quero. Um mundo assim... conectado e meio egoísta. E daí?

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Vida sem sonho

Eles jogavam todos os dias, ao longo de muitos, muitos, muitos (sem contar) anos. Toda semana reservavam um dinheiro para a tal fézinha. Sonho de um, sonho de todos. Quem não quer ganhar na loteria? Parar de trabalhar, ou apenas manter um dinheiro rendendo a quantia mensal e boa o suficiente para não ter problemas até o fim da vida (o primeiro a levantar a mão leva um bilhete pra casa).
É sonho. Quem nunca passou boas horas pensando no que fazer com a bolada da vez? Conheço um cara que só joga se o prêmio tiver acima de 2 milhões. Diz que não vai desperdiçar a sorte: vai que ganha? Melhor que seja dinheiro o bastante para colocar os pés para cima.
Mas vamos voltar a esses personagens. Um casal de senhores canadenses que deu um golpe na sorte. Quando ela resolveu aparecer, eles gritaram: desculpa, tarde demais! E decidiram entregar tudo o que ganharam para uma instituição de caridade. Caridade, repito.
Sorte da instituição, bonito da parte deles. Sem dúvida. Mas a pergunta que fica é: por quê? Por que jogar toda semana se o sonho não existe mais? A grande fantasia utópica de encher os bolsos de dinheiro, comprar sem pudor, dar presentes caros, trocar de carro, comprar coisas inúteis sem culpa, não parar nunca mais de viajar, pagar (finalmente) tudo o que se deve e nunca mais dever nada a ninguém, ter tempo o suficiente para ler... Ler em Paris, em Veneza ou em baixo de uma árvore na praia da Pipa. Sei lá! Tanto sonho que não caberia em um único texto. Afinal, se a gente sonha e não joga, não faz sentido, certo? O inverso também não deveria fazer.
Por que esse casal parou de sonhar e continuou a jogar? Desperdiçaram mais do que a sorte, jogaram fora sonhos, ideias... Ajudaram bastante gente, é verdade. Lindo. Mas pararam de sonhar. Ganharam no jogo e perderam o sonho na vida. Pararam de viver, de sentir... mas ainda respiram.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Sensibilidade uma ova!

Toda mulher chora. Fato. A gente chora mesmo. Ok. Tem mulher que até usa disso como arma de barganha (por nunca ter conseguido fazer tal coisa, até as admiro, devo confessar). Enfim... lágrimas ao vento e passos na direção contrária da vida.
Não vou falar do fato de maneira brusca ou ofensiva ao sexo feminino. Assumimos nosso lado chorão e seguimos em frente. Será? Não creio que lágrima seja sinônimo de sensibilidade. Lágrima não engrandece. Não leva ninguém pra frente. Sensibilidade sim, mas essa é outra sensação – que pode vir acompanhada do choro (claro), mas não necessariamente. O choro apenas demonstra uma maneira de expressão (ou talvez a falta dela), uma tristeza, um momento. E só.
Explico: nesse último mês observei e cruzei com três mulheres desconhecidas na rua, no shopping e em um restaurante (especificamente). Elas choravam muito, enquanto um homem as olhava e falava sem parar. Fiquei possessa. Primeiro, com eles. Por não tentarem resolver o problema de suas mulheres ou, ao menos, demonstrarem certo carinho (nem seguravam nas mãos das moças). Depois fiquei brava com elas, por não se conterem e chorarem em público, demonstrando uma fragilidade desnecessária (e não sensibilidade).
Aí, descobri que esse problema (o meu) é típico de mulheres que se resolvem sozinhas e, no fim, acabam chorando no banheiro, no chuveiro, trancada no quarto. Típico de quem sabe que chorar, em geral, não resolve. Sabe que na verdade você tem outras opções: como levantar da mesa, tacar a taça de vinho na cara do cretino (ou a xícara de café), atravessar a rua, sei lá! Mas isso também não é sensibilidade! Isso é uma maneira de enxergar as coisas, mas tampouco resolve (bem).
As mulheres são boas de análise. Em geral, sabemos dar conselhos, falar sobre o relacionamento das amigas e suspirar com uma certa arrogância (até) “ah, os homens...” Mas quando se trata de nós mesmas, somos péssimas. Por isso o choro (talvez).
O que quero dizer é que não sabemos usar da tal sensibilidade que nos é entregue ao nascer. Aquela que nos faz chorar em propaganda, em declarações de amor, em filmes melosos ou observando a vida injusta de muitos.
Pensando nisso, chego a conclusão que em problemas específicos de amor e relacionamento muitas mulheres choram em público numa tentativa de comover o outro, se arrepender ou se desculpar. Choram por não conseguirem utilizar da própria sensibilidade para se colocar e acabam por se tornar vítimas de si mesmas. E, nesse perfil, são sempre as eternas mal compreendidas, mal interpretadas, mal faladas... Por isso, as lágrimas, nesses casos, só mostram o pior de cada uma e dão muita pena –mesmo para quem vê de fora. Acredite.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Finados é feriado

Amanhã é dia de finados. Nunca entendi muito bem essa data. Sempre me pareceu um louvor enganoso, pra quem não está (de verdade) nem aí para isso.
Não me entenda mal, claro que é bonito (e sofrido) lembrar de quem já se foi, orar por eles, pedir luz às almas queridas que não podemos ver mais. No entanto, pra quem fica, é dolorido demais. Cemitérios cheios de gente que mal se lembra onde fica a campa (por isso, defendo a cremação gratuita). Pessoas que descobrem (uma vez no ano) que alguém roubou um santo que decorava o mausoléu da família; que alguém quebrou o porta retrato e que o faxineiro, pago mensalmente, na verdade, também não esteve ali há um ano. Assim é o dia de finados.
O pior é que em meio a tudo isso há a dor daquele momento. A saudade daquela pessoa que se foi para um lugar que (convenhamos) não é (e assim esperamos) exatamente parecido com um cemitério. Ali, está só o que ela foi materialmente. Enfim... para quem acredita nisso, como eu.
Tudo isso é deprimente. É triste demais. Ainda temos de conviver com aquela frase eterna desse feriado: “todo dia de finados chove” – mesmo que me lembre de muitas vezes passar o dia na praia, suando e de biquíni.
Eu respeito, claro. Aliás, é um dia de puro respeito. Respeito a quem sofre com a ausência, e respeito a quem foi sem (em geral) nenhum aviso prévio (um email que seja). Simplesmente, foi.
O que quero dizer disso tudo é que talvez (talvez, repito) seja em data como essa que devamos lembrar da vida, sabe? Ao invés de chorar àqueles que estão (esperamos) melhores que a gente, devemos lembrar que vivemos o agora. E que, como diz meu pai, é só uma questão de tempo para que nos juntemos a eles. Pode ser em 10, 40, 60, 80 anos, mas chegaremos lá um dia. Fato. E quem sabe, quando lá estivermos, lamentaremos o dia em que tanta gente chora e se ressente em um 2 de novembro. A gente queria mesmo é que elas comemorassem (na chuva ou no sol) o fato de estarem por aqui ainda e, em geral, não precisarem nem trabalhar. Afinal, é feriado, minha gente.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Hoje

Hoje o céu não tem cor - é multicolor.
Hoje não é o dia mais chato da semana - é sexta.
Hoje não chove, não faz frio - está claro e calor vem com a brisa.
Hoje não existe tristeza, saudade ou lágrima - só felicidade, encontro e riso.
Hoje não tem conta, atraso, juízo - só abundância (sem juízo).
Hoje não tem desamor, passado, dor - é dia de coração cheio.
Hoje as cores são de Salvador, o sorriso é de amor, a prece tem mais fé, o abraço vem com a maré, que leva tudo o que ninguém quer.
Hoje a rima é permitida, não é brega ou piegas - é só graça.
Hoje só as borboletas e os elefantes podem voar.
Hoje...
Hoje tudo pode.

Só hoje...

domingo, 24 de outubro de 2010

Espelho, espelho meu

Tem um dia que a gente acorda, se olha no espelho e não se vê exatamente. Nada parecido com a dramaticidade de Kafka ou um filme de terror qualquer. A gente simplesmente se olha e não se reconhece como um todo. Começa a prestar atenção que muitas coisas mudaram e aí, se você já não é o mesmo, quem então é?
Pergunta estranha, mas muito própria de quem faz aniversário. Depois dos 30 a gente já não sabe se está no caminho certo das coisas, se as escolhas foram as melhores e ainda duvida que exista tal perfeição. Entre uma dúvida e outra o espelho é um mero detalhe, na verdade.
Nem vou repetir o chavão se o que desejei na adolescência para minha vida deu certo – até porque a resposta seria obviamente negativa (mas alguém responderia que deu certo? Tudo funcionou perfeito como nos desejos infantis? Duvido).
O que vejo no espelho não é estética de alguns fios brancos que arranco sem dó, ou algumas rugas infelizes que insistem em se fazer cada vez mais presentes. Isso, tiro de letra. O que vejo e que me assusta é a quantidade de coisas que já passei. O número de pessoas que perdi (em vida e em morte), as saudades que ainda carrego de muitas delas, os problemas, as prestações atrasadas, o desamor de muitos momentos, a solidão que volta e meia cola na minha, algumas lágrimas aqui, problemas jurídicos ali... tantas, tantas coisas, que o espelho é até bacana comigo, pensando bem. Poderia mostrar muitos mais anos do que tenho.
Mas aí, vem também toda a carga positiva – e que também faz parte da mudança. Uma família de amigos, a descoberta maravilhosa de que ter poucos e bons faz mais diferença do que ter o mundo inteiro, as viagens, as risadas em mesas (qualquer mesa), os amores idos (não posso negar de que fui amada e essa sensação é renovadora), os beijos e abraços verdadeiros, as bebedeiras hilariantes, as conversas filosóficas, os shows incríveis que vi, os livros emocionantes que já li, os filmes brilhantes que me encantaram e as músicas que fazem parte da minha vida. Essa carga está comigo. Toda comigo.
Não, o espelho não é mais o mesmo. Acho que de ano para ano nunca é. Somos diferentes a cada dia e essa evolução é que nos faz melhores (ou piores, claro). A intenção não é envelhecer, mas encarar o envelhecimento como parte de uma grande experiência, carregada de esperança por momentos ainda melhores. E assim, os anos vão passando... e o reflexo que se dane!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Burrice comprovada

Eu leio, eu penso, vejo, releio, toco, existo, reluto, sei. Não. De algumas coisas não sei. Paciência. Tento entender, mas minha ignorância é tamanha que tudo o que ouço são blábláblás absurdos de algo sem nenhum sentido para minha existência – ao menos nessa vida (mas, se houver outra, também não pretendo entender).
A verdade, e devo confessar, é que não me esforço muito. Nem sei se deveria. Algumas coisas talvez sejam melhores se a gente não souber a verdade. Se ninguém nos explicar ou se nos fizermos de surdos. Aquela frase “melhor ouvir tal coisa do que ser surdo”, não se aplica aqui.
Sou ligeiramente inteligente até. Depois de adulta me tornei boa aluna (na escola eu queria conversar mais do que estudar, na faculdade descobri o prazer da sala de aula – apesar de falar bastante também). Leio, sou atualizada, instruída, sei mexer no meu computador (mesmo que eu falhe as vezes), uso bem os maravilhosos poderes da Apple, ganho dinheiro honestamente, pago contas (muitas atrasadas, devo dizer)... Tudo como uma brasileira que não desiste – e como a maioria.
Já pensaram nisso? Nós, os honestos, sinceros e verdadeiros, somos os mais comuns no planeta. Tão comuns que não temos nenhum ibope. Há muito mais gente como a gente por aí. Nos esquecemos disso constantemente. Pense bem, os corruptos, desonestos e ladrões fazem parte da minoria. Essa minoria é que está estampando os jornais, que matam, roubam, que se candidata ou se elege. A gente não. E pagamos o preço alto por ser assim... a maioria. Isso, eu não entendo.
Não entendo como tem gente por aí dormindo tranquilamente, sonhando com os anjos, sorrindo na padaria e não tendo nenhuma dignidade com o próximo. Não entendo. Gente que não paga suas contas, que usa o nome dos outros, que não trabalha, que se sustenta de tramóias mal tramadas, que recebe envelopes escondidos em malas, meias e que ainda canta música de ninar e fala mal dos honestos como se fossem imbecis por tentarem sobreviver com seus aluguéis, condomínios e favores.
Não sei. Sou burra nisso. E não há professor bom o bastante para desenhar como a desonestidade e a falta de caráter funcionam. Não sei. Não quero saber.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Prece estranha

Então, ele ficou preso. Uma explosão o deixou ilhado embaixo da terra. Não, ilhado não seria a palavra, mas segue como linguagem figurativa. Ilhado ou enterrado vivo, que é muito mais forte e agressivo.
Ele e mais 32 companheiros de luta. Homens com variadas idades, variados tipo de vida. Homens que, como ele, estavam ali para ganhar dinheiro. Apesar de toda a terra acima deles, estavam vivos. Falando, discutindo, chorando suas lamúrias pessoais. Não viam luz há tantos dias, que quase não lembravam mais de um céu azul, a não ser que se esforçassem – quase não o faziam para não terem emoções fortes em meio a tantos maltrapilhos e maltratados personagens.
Já ele, quando soube que a luta para tirá-los de lá moveu um país inteiro e comoveu o mundo, se chocou. Era muito para ele. Muito mais do que esperava e do que queria. Apesar de ilhados e enterrados estavam também completamente expostos. Um contra-senso de toda aquela situação. Suas vidas vasculhadas por repórteres - sabe Deus de onde. Para esquecer cantavam o hino, queriam saber do futebol e prometiam amor eterno a suas mulheres. Suas lindas e fiéis mulheres. Já ele... nem tanto.
Embaixo da terra rezava todos os dias para que sua mulher nunca descobrisse a verdade. Chorava baixinho, pedia para que sua família o perdoasse por amar outra mulher. Mas sabia que seria impossível. Sua amante era calorosa demais, expressiva demais, emocional demais para não gritar pelas ruas que o amava e que o queria vivo. Não que ele fosse muita coisa, mas ela sabia que mesmo não sendo muito, ele era dela. E era mesmo.
A cada dia, que mais parecia uma noite eterna pós-apocalipse, ele pedia para que todos ficassem calmos e que Deus saberia o que fazer. Repetia isso, tentando ouvir a si mesmo – o ateu da família virou um pastor, que poderia ser do inferno, considerando onde estava. Mas, no fundo, queria mesmo que Deus resolvesse sua vida. Não queria que ninguém sofresse. Ainda mais por ele... que não valia muito. Tinha plena noção disso. Era o tipo de homem que sabia de sua insignificância no mundo, mas (para constar) mantinha uma arrogância típica.
Os dias passaram e ele se viu não querendo mais sair dali. Ao mesmo tempo, precisava saber se o sol ainda brilhava. Foi com essa sensação que entrou na cápsula. Subiu tantos metros que mais parecia uma minhoca cavoucando um espaço na terra fofa. Lá em cima, viu o dia e muitas pessoas. Todas aplaudindo, chorando emocionadas. Entre elas um rosto conhecido. Como havia imaginado, ela estava ali. Naquele momento soube que sua vida realmente seria outra e com outra mulher. No fim, tinha valido a pena aquele sufoco todo e não precisou resolver nada. Estava tudo resolvido. Deus tinha mesmo feito sua parte.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Quando o amor não desiste

Eles sempre se amaram, mas a vida não permitiu que ficassem juntos. Tantos problemas, tanta família, tanto desamor. Desistiram. Não havia mais nada a fazer. Era uma vida de "não". Sempre os mesmos nãos.
Então, era melhor guardar o amor em uma caixa dentro do armário. Uma caixa muito bem fechada, embrulhada com fita (a dela). Fechada com nós de farrapos (a dele). Todo o sentimento ficou ali trancado. Não viu o casamento dela com outro homem, tampouco viu o nascimento da filha dele com sua mulher. O amor não viu nada, mas sentiu.
Os anos foram passando e seus casamentos seguindo. De uma família pequena, nasceram muitos. Deles, nasceram mais. Desses ainda, mais. Muita gente na mesa aos domingos. Cada um deles em sua casa. Cada um deles respirava um ar diferente, em cidades diferentes, com amores diferentes.
Um dia, ele, já sozinho pelos anos da vida, desatou o nó de um farrapo podre, sem cor, quase sem trama. Encontrou fotos, cartas, cartões, músicas. Sentiu todo o ar da juventude comprimido em uma caixa. Um amor esquecido, envelhecido, mas ainda vivo – descobriu.
Sorriu para si mesmo. Quantas besteiras os separaram. Quanta tristeza boba guardada e tão apodrecida. Resolveu vê-la. O que teria a perder? Anos de vida, certamente não.
Foi. Na porta da casa dela, sentiu as pernas falharem, quase desistiu. Mas sabia, deveria seguir. O que teria sido dela? Como estaria a mulher que era sua melhor amiga? Aquela para quem cantou, tocou, se aconselhou, abraçou, beijou? Tocou a campainha.
Uma senhora abriu a porta. Frente a frente. Os mesmos olhos. Não havia ruga, não havia cabelos brancos. Eram dois jovens sorrindo. Ela não precisou perguntar quem era. Sabia bem quem estava ali parado na soleira. Pediu que entrasse e lhe acompanhasse até o quarto. Ele estranhou, mas a seguiu.
Da porta, ele viu uma caixa aberta e fitas descoloridas pelo chão. Se aproximou e então se viu dentro daquele pequeno quadrado de madeira.
Sem mais tremedeira, ele olhou a mulher da sua vida e perguntou o que devia ter perguntado muitos (muitos) anos antes: Casa comigo?
Enfim, casaram. Dessa vez sabiam que o “para sempre” já não era tão importante assim.

* Em homenagem aos mineiros recém-casados - ela com 91 e ele com 84 anos. Duas pessoas (bem) maduras que não puderam se casar jovens, mas ainda buscam a felicidade.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Desamor é passaporte

Quanto tempo para amar alguém? Quanto tempo para ‘desamar’? Prazos e datas só existem no trabalho. O resto é muita informação para nosso cérebro. Tem gente sofrendo anos pelo mesmo amor bandido. Tem gente sofrendo ainda mais pelo desamor eterno. Como suportar tal penalidade mental?
Sim, porque é um castigo mortal à própria cabeça. Se torturar sozinho na cama vazia é sacanagem demais para quem sabe que pode viver mais e melhor por aí. Chico Buarque tem razão. Pode-se encontrar muita gente melhor pelo caminho. Ele só errou na porta... melhor fechar. E na dúvida, eu trocaria até a fechadura. Deixar a porta aberta (ou entreaberta) é garantir que visitas entrem sem bater, sem aviso prévio... aí, o sofrimento vira suplício. Por isso, cadeado pode ser uma boa opção também.
A vida é um festival de encontros mal equilibrados, mal informados e, as vezes, mal vividos. E vamos tentando (entre eles) encontrar uma forma de interpretar cada um, encarando como um sinal imbecil. Não funciona. Até porque o sinal pode ter existido apenas para o outro, não para você. Então, a interpretação é burra. Não tem explicação e pronto. Melhor seguir em frente (e não abrir mais a porta para qualquer um).
A verdade (ao menos a minha) é que viver 47, 45 anos em um relacionamento não deve ser nada mole. Lendo Conversas sobre o Tempo, Zuenir e Veríssimo (desculpem, sou íntima) explicam que não há complexidade em dividir a vida há tanto tempo, ”basta” perceber que não se pode viver sem a outra pessoa. Um dia, isso vem (como algo cósmico, não sei) e você tem certeza de que assim será.
Será? Meu lado romântico torce para que sim. Para que os astros conspirem, as estrelas escrevam e o destino decida. O lado racional sabe que vai ser lama. Mas o jeito é colocar as botas e viver as sete léguas do amor, já diria Xico Sá.
O importante é encarar o desamor como uma passagem para o novo. Um passaporte dolorido para uma nova fase. Depois de carimbado, prepare-se. A viagem pode ser ainda melhor e, quem sabe, em nova companhia.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Primavera

Liberte-se. Libere-se. Tire dos ombros aquilo que não suporta mais carregar. Tire dos ombros aqueles que você não suporta mais lembrar. Solte o peso de carregar. Descarregue. Desafogue. Saia do fundo. Ressurja. Renasça. Olhe para cima e veja que a luz do dia está lá. Suba. Não canse. Escale o que tiver de escalar. Não desista. Sinta a leveza. Você está leve. Suba. Suba. Descubra que agora, mesmo no frio, já é primavera. As cores estão lá fora. Todas ali. Abra-se. Floresça. Sorria. Hoje é nova vida. Amanhã é incerteza. Não duvide. Acredite. Aja. Beba. Converse. Conheça. Desperte. Encare com coragem. Desculpe-se. Perdoe. Perdoe-se. Esqueça. Apaixone-se. Viaje. Sonhe. Veja. Olhe. Encare. Ame. Durma. Acorde. Reze. Coma. Beije. Abrace. Confesse. Chore de felicidade. Agradeça. Liberte-se. Libere-se. Ame-se.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Todo o amor que houver nessa vida

Arruma aqui, estica ali, coloca o vestido, passa no cabeleireiro, ri da espera, posa para fotos, assina, troca aliança e... beija. Na dúvida, dá uma conferida em todos os dados da nova certidão. Pronto. Casada.
Casada? Falando sério? Sim, sim. Casada! O que muda do que já viviam? Nada. A não ser o fato de ter um adorno lindo e dourado no dedo da mão esquerda. De resto, tudo igual. E, talvez, seja mais lindo por isso.
O trabalho continua, os amigos continuam, a família continua, os problemas continuam e a dúvida sobre a eternidade também continua. Mas, o mais bonito de tudo isso, é a coragem de estar ali de livre e espontânea vontade. Cheios de sorrisos, piadas, fome... Ali, naquele cartório de pessoas naturais (e sem plásticas), no vento frio, no teclado automático de uma moça que quase ninguém viu... Ali, duas pessoas cumpriram a promessa que mal tinham certeza se fizeram. Mas sabiam que estavam certos.
Depois, mais fotos (todas na mureta da cidade mais bacana do mundo), bolo, prosecco, mais fotos, abraços amigos, comentários (muito) idiotas, papo furado, mais prosecco, bem-casados, lembrança lilás e... beijos. Muitos beijos.
Beijos que representam a felicidade do dia. Claro que brigas virão, claro que perrengues estarão em algumas das esquinas da vida, mas e daí? O bom é comprovar que Vinícius tinha razão. A vida é feita para amar; celebrar; fazer as pazes; andar de mãos dadas; fazer piada; falar besteira na tarde de domingo; reclamar da vida numa segunda-feira insuportável; tomar chuva enquanto encolhe caminhando pela praia; beber vodka e dançar como Keith Richards; abraçar a garrafa de água num dia de ressaca; ficar jogado no sofá enquanto rola a novela; andar de jetsky quebrado; não tirar as Havaianas durante todo o final de semana de sol; não sair da cama durante todo o final de semana de chuva; aguentar sua mulher falando horas com amiga (e madrinha) sofredora ao telefone; sair para jantar com as duas e ouvir todas as atrocidades femininas... e lembrar que ela (a amiga) é uma das culpadas dessa troca de alianças (ré confessa). E que tem, podem acreditar, muito orgulho disso.
Para o casal que amo tanto e para quem quero tanto a felicidade eterna (enquanto durar – e que dure para sempre), desejo: Todo o amor que houver nessa vida. Sempre.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O amor sabe escrever

Quando ouvimos do que entendemos (ou queremos entender) e de quem admiramos não dá para não se encantar. Foi assim ontem, vendo e ouvindo dois grandes nomes da literatura brasileira na Tarrafa Literária, em Santos: Zuenir Ventura e Luís Fernando Veríssimo.
Uma conversa franca, um bate papo entre amigos, e muitos voyers (como eu) na plateia. Sexo, amizade, família e trabalho. Tudo no mesmo palco, com a mesma naturalidade.
Veríssimo não sabe, mas foram muitos de seus textos que me fizeram gostar de ler (numa coleção com o mesmo nome) na infância. Suas crônicas mudaram minha forma de entender a literatura e fizeram com que eu me apaixonasse por esse estilo de texto. Claro que não havia só ele... Drummond, Rubem Braga e tantos outros também estavam lá.
Ele também não sabe que seu sotaque gaúcho é difícil para mim. História complicada. Mas, como é Colorado (e por motivos quase sociais), ficou mais fácil de sorrir com os adjetivos que tanto ouvi na vida.
Já Zuenir contou o que sempre pensei sobre ele: queria ser professor. Faz todo o sentido. Fala bem, com clareza, simpatia, faz piada e muitas citações de grandes personalidades. Uma cabeça admirável.
O ponto alto (para mim) dessa conversa foi o amor que eles têm por suas mulheres, seus filhos e seus netos. A família é a grande recompensa da vida para eles – que nem gostam de escrever (admitiram – me deixando em choque). Creio que preferem brincar com suas netas em um belo almoço de domingo.
Eu, que já era fã, decidi fazer a carteirinha. Fora ter a capacidade maravilhosa da escrita (por mais que não pensem nisso), ainda têm a capacidade maravilhosa de amar incondicionalmente suas vidas, suas mulheres, seus amigos. Confesso que meu lado romântico não conseguiu ignorar tal fato.
Outra geração, talvez. Corajosos homens que fizeram do amor seus aliados e, com isso, transformaram suas vidas em sucessos. Homens que se casaram com suas melhores amigas e souberam dividir problemas, felicidades e filhos. Dois homens que concluíram esse maravilhoso bate papo avisando que viver ainda vale a pena e que da morte (já diria Veríssimo) são contra! E nós, os voyers, não discordamos.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Estamos vivos, sabia?

Quanto tempo faz? Há quanto tempo você se considera vivo? Suas contas começam desde a data de seu nascimento? Estava mesmo vivo quando nasceu? Por quê? Só por que chorava, tinha fome e frio? Não... não é vida.
“A vida começa quando descobrimos que estamos vivos”, já disse o pintor e escritor finlandês Henrik Tikkanen. Agora... pense numa nova data. Pode ser (até) uma data futura.
As vezes temos de ler o óbvio para perceber a vida. Reclamamos demais, sofremos demais e rimos muito pouco para tudo isso. A balança deveria ser reta. Com pesos e medidas proporcionais. Nada de altos e baixos. Você chora e ri com a mesma freqüência. Resolvido.
Virgínia Wolf dizia que todo dia acontece alguma coisa interessante na nossa vida. Faz sentido. Mesmo quando está tudo de cabeça para baixo, há um momento de uma gargalhada inesperada. Quando as lágrimas não te deixam ver um futuro possível, o presente se mostra uma opção interessante. Mas tudo isso nem sempre é fácil de se ver. Aí... sofremos mais e vivemos menos.
A escritora Martha Medeiros diz que morremos lentamente quando não nos contradizemos, quando não ouvimos música, quando passamos tempo demais com a televisão, não trocamos de discurso, nem de marca, evitamos uma paixão, uma emoção, um sorriso... tudo para conter os soluços. Tem (também) morte lenta quem só se queixa, quem desiste, quem não aposta no desconhecido por puro medo de errar... Triste pensar em quanto já perdemos de vida.
Talvez esteja na hora de descobrir que estamos mesmo vivos. Que vivemos o agora, e que o amanhã é a maior incógnita do planeta. Se a gente se sentir vivo (de verdade), nossas fichas estarão voltadas a uma só aposta: a felicidade. E aí, não há como errar (e mesmo que tudo dê errado, algo de bom sempre acontecerá).

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Em obras

Em alguns momentos ficamos alheios do mundo. De repente o impossível se mostra óbvio e conquistamos um olhar diferenciado, distante. O calor lá de fora é seco. E aqui dentro, molha. Na chuva, confundimos as lágrimas de tristeza com as de alegria e nada faz muito sentido: nem estar triste, tampouco estar feliz. Seguimos.
Olhar o mar não causa tanto efeito como antes, mas acalma, alenta. Caminhar era um destino preciso, mas vira rotina diária. Cansa. Os planos são os mesmos de antes, mas as estruturas estão abaladas. Precisam de reforma.
As obras começam e você se vê sem lugar fixo. Sem um norte para continuar. Sem destino, sem sentimento. A distância seria crucial, mas como?
Precisa acompanhar a retirada de cada prego, rever o desmoronar de cada parede. Precisa construir junto, erguendo com tijolos, pintando, decorando... Deve optar por novas cores, novos móveis, novas molduras.
Encarar não combina com o momento atual. Melhor fechar os olhos, olhar meio de lado... sentir sem ver de frente. Melhor sentir... mas o quê? O que se sente quando não vemos nada?
A obra continua, mesmo sem planta, sem arquiteto. As paredes de antes já não existem mais. Hoje, só pedras. Areia. Quem sabe um martelo prega algo novo? Quem sabe um cimento mais resistente, uma vida mais competente, uma escolha mais acertada?
No plantão da construção vê-se a claridade e a escuridão do dia. Entre uma e outra, a vida se encaixa em sorrisos, possibilidades e esperança. E aí, a obra dará sentido a um novo sentimento que virá (seja ele qual for).

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Quando o sol bater...

É assim... as vezes a letra vem e fica. Lembramos que o caminho é um só, desde que tenhamos força e coragem para seguir andando. Para encarar. Para viver. Afinal, o "camino se hace al andar"... mas isso é outra história!

Quando o sol bater
Na janela do teu quarto,
Lembra e vê
Que o caminho é um só,

Porque esperar
Se podemos começar
Tudo de novo?
Agora mesmo,

A humanidade é desumana
Mas ainda temos chance,
O sol nasce pra todos,
Só não sabe quem não quer,

Quando o sol bater
Na janela do teu quarto,
Lembra e vê
Que o caminho é um só,

Até bem pouco tempo atrás,
Poderíamos mudar o mundo,
Quem roubou nossa coragem?
Tudo é dor,
E toda dor vem do desejo,
De não sentimos dor,

Quando o sol bater
Na janela do teu quarto,
Lembra e vê
Que o caminho é um só.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Pro que der e vier

Já escrevi isso aqui (acho). Mas me perguntaram o que é uma boa declaração de amor. Na minha opinião, a melhor delas já foi escrita e cantada.
Geraldo Azevedo fez Dia Branco e colocou em letra e música tudo aquilo que queremos (e esperamos) ouvir. Tudo o que lutamos para acreditar. Tudo o que esperamos ser verdadeiro.
Todo amor descrito em versos como "pro que der e vier" e "até onde a gente chegar".
Se isso não é amor. Não sei o que é.

Se você vier
Pro que der e vier
Comigo...

Eu lhe prometo o sol
Se hoje o sol sair
Ou a chuva...
Se a chuva cair

Se você vier
Até onde a gente chegar
Numa praça
Na beira do mar
Num pedaço de qualquer lugar...

Nesse dia branco
Se branco ele for
Esse tanto
Esse canto de amor

Esse tão grande amor
Grande amor...

Se você quiser e vier
Pro que der e vier
Comigo

Comigo, comigo.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Desejos de uma quinta

Desejar faz parte da vida, e a gente deseja tanta coisa ao longo dela... Em cada fase, os desejos vão mudando. Mudam de foco, de perspectiva. Mudam de lado, até.
Quando crianças, desejamos chocolates, brinquedos, bicicletas, bolas de futebol, barbies... Aí, adolescentes vamos desejando pessoas diferentes, o campeonato favorável para seu time, a passagem de ano, a ligação do carinha que senta ao seu lado na classe, uma festa bacana para ir.
Mas, quando nos tornamos adultos, tudo fica diferente. Nada é prático, simples ou pragmático. Não existe lista, porque o desejo de hoje, pode não ser o mesmo de amanhã. Adultos são complicados. De repente entendemos porque é melhor desejar saúde e felicidade em dias de aniversário. Simplesmente porque resume tudo: precisamos da saúde para conquistar nossas pequenas felicidades.
Lembramos também que é preciso ter muito cuidado com o que se deseja. Afinal, você pode conseguir. Aí, escolhemos tanto que confunde a cabeça, o coração, o corpo.
Se o tal gênio aparecer para qualquer adulto, ele vai precisar de um tempinho para pensar em três desejos. Talvez pergunte, na maior cara de pau: mas só três? Não posso, pelo menos, quatro?
Ser adulto não é simples. Ser adulto que pensa, menos ainda. Por isso nossos desejos não seriam diferentes. São complexos. Bem complexos. Muitas vezes eles nem dependem só da gente. Aí, piora a situação. Passamos a desejar também por outros. Em geral, desejamos por nós mesmos e por quem amamos.
Uma ligação, um convite, uma mensagem de saudade. Um custo altíssimo, um sorriso delicioso, a tranquilidade de que tudo dará certo. Dinheiro alto, felicidade dobrada, whisky a vontade - regado à risada. Casa nova, vida nova, momento novo. Coragem, bom humor, amor. Abraço apertado, beijo intenso, carinho eterno. Um bom dia, um boa noite, um eu te amo. E a vontade de poder resolver tudo (a minha e a sua vida) num só dia.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Segredos

Hoje acordei assim... Sem nenhuma razão, sem nenhuma ideia do que virá, sem nenhuma noção de um futuro próximo (espero). Na voz deliciosa de Frejat, descubro que meus desejos já foram muito bem descritos, definidos e (até) cantados. Quem não procura algo assim, é porque já encontrou. Aí, melhor ouvir "Na rua, na chuva, na fazenda" e agradecer.

Eu procuro um amor
Que ainda não encontrei
Diferente de todos que amei...

Nos seus olhos quero descobrir
Uma razão para viver
E as feridas dessa vida
Eu quero esquecer...

Pode ser que eu a encontre
Numa fila de cinema
Numa esquina
Ou numa mesa de bar...

Procuro um amor
Que seja bom prá mim
Vou procurar
Eu vou até o fim...

E eu vou tratá-la bem
Prá que ela não tenha medo
Quando começar a conhecer
Os meus segredos...

Eu procuro um amor
Uma razão para viver
E as feridas dessa vida
Eu quero esquecer...

Pode ser que eu gagueje
Sem saber o que falar
Mas eu disfarço
E não saio sem ela de lá...

Procuro um amor
Que seja bom prá mim
Vou procurar
Eu vou até o fim...

E eu vou tratá-la bem
Prá que ela não tenha medo
Quando começar a conhecer
Os meus segredos...

Procuro um amor
Que seja bom prá mim
Vou procurar
Eu vou até o fim...

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Aqui e ali

Se eu pudesse escolher um poder, leria pensamentos. Ouviria tudo aquilo que é dito internamente. Ajudaria quem deseja escondido, quem ama calado, quem é maltratado.
Se eu pudesse escreveria sobre os melhores deles. Os mais picantes, os sujos, os apaixonados, os gritos surdos (e mudos), os arrependidos, os safados. Colocaria tudo no mesmo texto, como um alerta àqueles que não dizem o que pensam.
Se pudesse convenceria um desses, desses que não conseguem expressar, que essa é a melhor forma de amar, de se entregar, de brigar, de se liberar.
Diria que esse peso da não-fala é o que pesa nos ombros, dói, adoece. Calar é também uma forma de se render. Se entregar a dor do não dizer, do não gritar, do não chorar e do não declarar é como deitar e aguardar o que não vai chegar.
Ler pensamentos seria uma forma mais fácil de entender. Um jeito simples de não precisar dizer. Um outro lado de ver, de encarar... de pensar.
Por todo o poder que não compete a mim, nem a ninguém, é que temos na vida esse aprendizado. Um ensinamento por dia, uma bobagem a cada hora, um mal entendido aqui, outro telefonema ali. O que poderia acontecer em horas, pode demorar anos. O que demoraria meses, acontece em dias. E a gente vai tentando se encaixar uma hora aqui e outra ali (com ou sem os quadris).

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Gente de Coragem

Tem casal que fica junto 30, 40, 50 anos. Duas pessoas unidas até que a morte os separe. Para sempre. Será que isso é coisa de outra geração? Será que apenas nossos avós conseguiam tal proeza (ou nem isso)?
Lendo o poeta Mario Benedetti descobri que não só existe esse tipo de gente, como eles também amam por todo esse tempo. Aquela história de que, com o tempo, vira outro tipo de amor, pode ser pura balela criada por pessoas que nunca tiveram a coragem de tentar.
Sim, porque não há dúvida de que é preciso ter coragem. Enfrentar todas as mudanças de humor, de hormônios, de cabelo, de barriga... é preciso valorizar as pequenas coisas, todos os pequenos gestos, para só então perceber que vale a pena não ficar só.
Será romantismo demais querer viver o “para sempre”? Fomos criados em uma geração em que o “para sempre, sempre acaba” – e ninguém duvida disso. Inclusive, estamos em uma idade em que o “para sempre” já acabou algumas vezes. Mas existem casais que se encontram nessa vida, e ninguém duvida disso. Eles representam as exceções? Todo o resto representa a regra?
Vivemos num momento da vida em que as pessoas se cansam umas das outras. Elas se trocam. Desistem por vários motivos. As vezes por não suprimirem desejos insignificantes ou por fazerem opções erradas. Percebem que não gostam de dividir, nem mesmo de somar. Estão tão acostumadas com a própria solidão, que não percebem o quanto ela é inexpressiva nesse mundo livre e independente. Pessoas que acreditam que casamentos que duram muito não são reais. Será mesmo?
Basta olhar por aí. Basta ouvir por aí. Outro dia um senhor de 80 anos me contou em uma festa que só poderia dançar com sua mulher, já que ela morria de ciúmes dele, mesmo depois de 40 anos. Lembrei dos meus avós se trancando no quarto, como adolescentes, duas ou três vezes na semana, sem que ninguém pudesse bater na porta (mais de 30 anos de casados). Mais recente, um jovem casal que tem sintonia jamais vista, combinando amizade, cumplicidade, tesão e amor. Almas gêmeas?
Não. Gente de coragem. Gente que não teme amar. Gente que prefere tentar viver tudo, mesmo sabendo de todos os problemas que (com certeza) virão... Gente que enfrenta tudo, simplesmente porque ama. E aí... depois de 30 anos, pode ter o prazer de dizer que deu certo.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Lembra?

Você lembra da época em que paquerar no trânsito não era somente divertido, como também era possível? E quando passar um trote inocente ou mesmo ligar para aquela pessoa que ficou de entrar em contato, sem que ela nunca soubesse que era você ligando? Lembra?
Bons tempos. A gente percebe que está envelhecendo quando começa a ter saudosismo de coisas que nunca mais voltarão a acontecer. Triste.
“Sou a geração da transição”, gritei na noite de ontem, como se a frase justificasse e desse crédito. Não dá. Definitivamente, nem o ego infla.
Sim, eu sei que saber da emoção de carregar LPs e uma vitrolinha faz a diferença. Ter usado máquina de escrever, trabalhar sem internet, usar molden ouvindo aquele barulhinho irritante da rede discada, ter visto o aparecimento do CD e DVD, e o desaparecimento do VHS. Isso tudo é relevante. Um dia poderei contar a alguém e... só! Não muda nada.
Continuamos imigrantes da nossa própria geração. Não nos assustamos com facebooks, twitters ou que mais vier. E também não estamos nem aí para a tal geração “Y” - na verdade, achamos que são (inclusive) meio bobos, apesar de terem a tal esperteza criativo-tecnológica.
O meu lamento é o fim do romantismo, minha gente. É frustrante demais. A paquera inocente no trânsito, que nos deixava com aquele sorriso bobo durante todo o dia, foi assassinada pelo insufilm nosso de todo dia. Acessório obrigatório aos carros de boa vontade (e com medo de assalto). A ligação displicente no meio do dia só para ouvir “aquela” voz; saber se o cara não ligou porque morreu ou porque não valia nada; ou mesmo só para gritar uma declaração de amor; colocar uma música para tocar e a ainda pessoa ficar na dúvida de quem está fazendo isso. Tudo... atropelado pela bina.
Não, não pense que esse é um texto nostálgico. Adoro a evolução e toda a comunicação que ela nos trouxe (e traz). Mas... confesso que sinto falta do olhar, do sorriso, da surpresa e de todas as besteiras que isso nos oferecia. E, se isso não volta mais, o jeito é encontrar outra forma de romantismo. Afinal, antes ou agora, o que vale (ainda) é a intenção, certo?

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Resumo

Mario Benedetti
(um uruguaio que sabia das coisas)

Resumindo
digamos que oscilamos
entre alegria e tristeza
quase como dizer
entre o céu e a terra
ainda que o céu de agora e o de sempre
se ausente sem aviso
as ideias vão se tornando sólidas
sensações primárias
palavras ainda em rascunho
corações que batem como máquinas
serão nossos ou de outros?
este choro de inverno não é igual
ao suor do verão
a dor é um preço / não sabemos
o custo inalcançável da sabedoria
pensamos e pensamos duramente
e uma paixão estranha nos invade
cada vez mais tenaz
mas mais triste
resumindo
não somos o que fomos
nem menos do que fomos
temos uma desordem na alma
mas vale a pena sustentá-la
com as mãos / os olhos / a memória
tentemos pelo menos nos enganar
como se o bom amor
fosse a vida

domingo, 8 de agosto de 2010

Caminante

Nos encontros da vida a gente vai conhecendo e se reconhecendo. Hoje não somos mais quem éramos ontem. E amanhã não será diferente. O tempo vai passando e a gente vai vendo o quanto se pode mudar.
Sim, é verdade que ninguém muda ninguém, mas não é verdade que a gente não muda. Nos tornamos mais tolerantes, pacientes. Mas também somos mais exigentes. Passamos a ter um jeitinho mais “nosso”. Unicamente nosso.
A vida vai encontrando seu caminho. Nos tornamos caminantes sin camino – como a poesia espanhola. Nosso caminho está ao andar, diz o poeta. Está nas nossas escolhas em cada passo. No sofrimento e nas alegrias de cada dia.
Vamos vivendo entre encontros e desencontros. Vamos sonhando com destinos certos, rezando com o que há de ser certo, com o que está escrito em algum lugar (estrelas, talvez?). E aí, crescemos, caímos, levantamos e nos tornamos melhores – mesmo que com cicatrizes eternas e até profundas. Seguimos caminhando.
Quando olhamos para trás, a poesia garante que veremos as marcas de algo que nunca mais voltará a acontecer, simplesmente porque você já não é o mesmo. Nada é igual. Pode ser pior, pode ser melhor, mas igual, nunca. Nunca.
Difícil manter a doçura. Mais difícil ainda manter a esperança de que o novo será muito melhor. Mas assim é a vida: ou se vive ou se morre. Enquanto aqui estamos, melhor escolher a forma em que os desencontros e as tristezas não dominem o cenário.
Por mais complicado que seja, o ideal é fazer do seu protagonista um caminante de respeito. Cheio de coragem, amor e fé – porque o caminho pode até ser desconhecido, mas muitos dos personagens de apoio estarão, como sempre, ali para ajudar.

sábado, 31 de julho de 2010

Senhas

A gente somatiza. Chego a conclusão que a gente somatiza tudo. Somatiza problema, cultura, educação, trabalho, amigo, dinheiro, tristeza, felicidade e... senha! Sim, senha.
Ao longo da vida a gente vai somando encontros e desencontros com quem merece e, até, quem não merece nada – e são essas pessoas que nos dão as tais senhas. Seguimos ali, ao lado, tentando mudar, ajudar, aconselhar. Apoiamos os momentos mais complicados, conversamos nos momentos mais tristes, fazemos rir quando a vida não faz mais sentido. Tudo isso, sem receber nada em troca. Ou quase nada.
Senhas. Muitas das pessoas que passaram e passarão (sem virar passarinho) pela nossa vida nos entregam de bandeja pequenos papéis de acúmulo de bondade. Quantas vezes você não teve de ouvir de alguém, que você nem gosta muito, como a vida está mal? Ou mesmo prestou solidariedade a uma pessoa que nunca faria o mesmo por você? Senhas.
Namorar um cara e cuidar dele como se fosse sua mãe, para depois ser chutada, senha. Ouvir seu chefe maluco gritando na sua orelha grosserias mil, sem nunca retrucar ou falar mal dele, senha. Pagar uma conta no banco da qual você não tem absolutamente nada a ver, mas pretende reaver uma posição, não é senha.
Aí que está. Estamos falando das senhas das quais você, se barrado no céu for, pode usar. As senhas são nomes. Pessoas que você, por pura bondade, tratou e acolheu sem esperar nada em troca – e foi até mal tratado (ou interpretado) por isso. Esses nomes são suas senhas. Dinheiro, nunca dá senha.
Se você sustentou alguém, esqueça. Você só fez porque naquilo havia alguma troca que te fez bem. Se pagou uma conta que não era sua, tampouco - deve ter havido algum benefício. Se pagou um processo injusto e indevido também, pois só está fazendo para tirar seu nome da justiça (mesmo que o cara seja um canalha). Agora, já o que você fez antes disso tudo acontecer... Senha!
A senha acontece da seguinte maneira: você chega na porta do céu e olha para o São Pedro ou Santo Antonio (parece que eles se revezam na portaria) e cumprimenta. Ele vai ao computador puxar sua ficha (que é longa, pode acreditar – afinal, todas as suas vidas estarão ali). Aí, você tem duas chances. Ou ele te deixa entrar ou não. Quase 50%, não fossem pelas... senhas! Ah! A dica é ter sempre uma na manga, como um coringa. Caso o primeiro nome não dê certo, saque o outro. Dificilmente vai ter erro. As portas serão abertas para você, irmão.
Antes de terminar, um aviso importante: para isso tem de ser bom. Bom de verdade. Nada de tentar acumular senhas com segundas intenções. ELES sabem quando isso acontece. A senha deve ser verdadeira, de coração e quase inocente. Ela vale apenas como um lembrete de sua história. Afinal, os santos não são obrigados a lembrar de todos os detalhes né? É muita gente!

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Contos de Fadas

A Reconstrução
Parte 3 (e última) – Cinderela


No mundo das madrastas más, lá estava Cinderela penando no dia-a-dia insuportável de lava, limpa e chora. Apesar de toda a história triste da moça, a pobre gata borralheira é a que melhor representa as mulheres reais.
Cinderela levava uma vida infeliz. Não apenas por seu trabalho árduo, mas pela grosseria de três mulheres loucas. Mas, quantas mulheres não vivem uma situação, no mínimo, parecida?
Ela queria crescer na vida, mudar de status. Queria ser melhor e mandar tudo aquilo para bem longe da memória. Todos não pensam nisso em algum momento da vida? A gente quer mudar. Merecemos mais. Queremos mais. Sempre. Não é o dinheiro, mas o jeito que se vive a vida. Os amigos, encontros, momentos em frente da televisão, cantando com pássaros, dançando na sala de casa, deitados na rede, ouvindo música... e por aí vai.
Ela também queria mais. Cinderela sonhava com um grande homem (ah, os contos de fadas). Um representante masculino, forte e destemido que lhe tirasse da vida que levava. Naquela época eles eram mesmo necessários. Hoje não.
As cinderelas de hoje não precisam de príncipes para que um pedido de casamento transforme suas vidas. Sabem que eles serão sempre sapos e que de nada adiantará. Elas sabem que têm força suficiente para mudar e lutar. Por isso, trabalham, lutam, vivem e... amam. Sim, não precisam deles, mas torcem para que o sapo certo encontre seu sapato em qualquer escadaria (vale até do metrô).
As cinderelas atuais querem um amor de verdade. Daqueles que caminham de mãos dadas e fazem sorrir. Dos que ligam no meio do dia ou os que não têm medo de dizer ‘eu te amo’. Elas querem companhia para vida. E não são menos por desejar isso.
Com experiência de sobra, conhecem bem as madrastas. Sabem que são muitas e estão por toda parte torcendo contra, fofocando maldades, fazendo pouco. Mas, como em um bom conto, o bem sempre vence o mal.
Para as cinderelas o futuro é certo, mesmo que trabalhoso. É suado, mas pode trazer a felicidade. Então, o segredo é não desistir de acreditar.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Contos de Fadas

A Reconstrução
Parte 2 – Branca de Neve


Ela nasceu depois do pedido de sua mãe no batente da janela: uma filha de pele branca como neve; cabelos escuros como ébano; e lábios vermelhos como sangue. Deu certo. A moça nasceu linda. Sua mãe faleceu em seguida e seu pai casou com uma rainha má (como devem ser todas as madrastas dos contos infantis). Para piorar sua imagem, a jovem senhora tinha como suvenir um objeto, no mínimo, estranho: um espelho falante. A função do reflexo era apenas elogiar a mulher com problemas sérios de auto-estima. Só que, com o crescimento de Neve, o tal espelho passou a gostar de outra mulher do castelo.
Bom, todo mundo sabe o resto da história. A mocinha branca fugiu e encontrou a casa com os tais anões. Lá, ficou e a pergunta é: por quê? Por que os anões deixariam uma mulher invadir o espaço deles? Apenas para ter uma empregada em casa?
Vamos analisar: o que levaria 7 homens (pequenos ou não) a perder liberdade, colocando uma (linda) estranha dentro de casa? Só a beleza e gentileza da moça? Duvido. Eles negociaram mais do que isso. Ouso dizer que Branca de Neve serviu de escrava doméstica e sexual de pequenos representantes da alma masculina.
Mestre (o cafajeste dono da ideia e esperto por natureza), Zangado (o mala), Dunga (o mudo), Atchin (o problemático), Feliz (o mentiroso), Soneca (o preguiçoso) e Dengoso (o grude) não foram nada bobos. Usaram e abusaram da fugitiva, até que uma maçã estragou o processo. A princesa parou.
Enfim, um príncipe passou – é impressionante como os príncipes sempre “passam por acaso” em contos de fadas – e se interessou por um corpo. Veja bem: ele gostou de um corpo inanimado dentro de um caixão de vidro. Para aumentar a bizarrice, pediu para ficar com a defunta. Como nenhum dos anões se interessava por necrofilia, o príncipe levou – mas não sem antes liberar uma boa quantia em dinheiro.
Na história dos Grimm, não houve beijo. O balançar da carruagem fez com que Branca de Neve cuspisse o pedaço da maçã que a impedia de respirar e o príncipe a pediu em casamento (claro).
Ela sorriu e aceitou, desde que o moço nunca perguntasse o que aconteceu dentro da tal casinha. Não diria nem sob tortura.
No fim, eles até viveram felizes, mas, as vezes, ela sentia muita falta do Mestre... Era um grande homem.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Contos de Fadas

A Reconstrução
Parte 1 - A Bela Adormecida


A bela adormeceu. Furou o dedo em uma agulha e dormiu profundamente. A praga diria que dormiria por cem longos anos. Mas, graças a um príncipe lindo e valente, ela acordou ainda mais linda e formosa.
A história é conhecida e completamente fora da realidade (claro, é um conto de fadas). Mas, se a gente parar para analisar, nada foi completamente explicado e, por isso, podemos pensar em problemas de verdade. Ninguém sabe, por exemplo, quem era o príncipe. Qual era seu reino? Qual era sua capacidade mental? Ninguém sabe seu sobrenome tampouco. Se gosta da família, se tem amigos, casa própria. Mas, o seu beijo foi o suficiente para acordar e encantar a moça.
Os contos de fadas fazem isso o tempo todo (eu os culpo pela total falta de noção feminina). Em todos eles é preciso uma representação masculina para salvar a mocinha do sofrimento. Sempre. O que está por trás de cada história, nunca ninguém soube (e nem saberá). Mas pode ser sugerido...
Já pensaram se o tal príncipe encantado não aparecesse nunca? A bela continuaria em sono profundo para todo o sempre? Ou acordaria cem anos depois com uma olheira horrível e os membros atrofiados? Estaria em seu castelo sem ninguém. Seus empregados estariam também sonolentos e com problemas de articulação. Nenhum homem a sua volta. Nada. O que faria a pobre adormecida? (nesse momento, já acordada)
Provavelmente o que todas nós fazemos no mundo real (e sem nenhum castelo): teria de correr atrás de trabalho, cuidar do jardim, aprender a plantar. Saber que precisa se exercitar para manter a boa forma, se alimentar bem, pagar contas... e, claro, tentar frequentar bailes, festas e encontros para achar um príncipe bacana.
Inexperiente, a Bela vai encontrar todos os tipos: os babacas, os pouco inteligentes, os metidos a inteligentes, aqueles que não gostam de trabalhar, os que têm sotaque, os que trabalham demais, os que têm mães presentes demais, outros de menos e, claro, os traumatizados.
Ela vai enfrentar tudo isso vestindo um lindo e esvoaçante vestido, sempre com um sorriso bondoso no rosto. Mas, na frente do seu espelho, sozinha no quarto que passou tanto tempo dormindo, admitiria que o sono profundo não era tão ruim assim.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Fé no amor

A fé ajuda, mas (só ela) não resolve. Fato. Se antes pensávamos nisso de forma duvidosa, uma pesquisa garante que os divórcios e separações acontecem em qualquer religião – e de forma crescente.
O problema é muito simples: seres da espiritualidade não entendem nossa forma de amor, simplesmente, porque nunca a vivenciaram.
Pense bem: Deus ama a todos da mesma maneira. Seu amor é único e incondicional, mas nunca soubemos que tenha tido um amor reprimido, uma paixão secreta por qualquer pessoa. Sendo assim, ele prefere que seus familiares, súditos e amigos do paraíso ajudem na resolução e no não-sofrimento desse sentimento tão confuso.
Aí, Jesus dá seu palpite. Ele gosta de palpitar, afinal esteve por aqui e viu muitas coisas acontecerem. Inclusive, no amor, teve uma experiência tórrida e intensa com Maria Madalena (por mais que muitos fiéis neguem). Mas, ele morreu para provar (Deus, e só ele, sabe o quê), e acabou sem entender o amor de um homem e uma mulher. Por isso, sempre desiste. Pede desculpas e ajuda.
Aí, entram os santos (para os católicos). Esses, também estiveram por aqui e acompanharam de perto a vida conjugal – apesar de nenhum deles ter vivido uma história de amor. Santo Antonio, por exemplo, até hoje se pergunta por que é o santo casamenteiro. Abandonou tudo para viver ensinando e cuidando dos pobres. Quando viu, estava vinculado à crença de que podia fazer casar. Bondoso, decidiu ajudar. E tenta (como tenta), mas seu critério é inocente demais e, além disso, as pessoas fazem atrocidades com sua imagem. Por isso, escolhe um par (nada) ideal rapidamente para que seja logo desamarrado. Ele próprio prefere São José para esse tipo de conselho.
Ah, São José. Um santo cheio de opinião a respeito do casamento, afinal esteve aqui para casar e constituir uma família. Não imaginou que um anjo entraria no meio da história, mas ficou feliz com o resultado. O problema é que são outros tempos. José tenta, mas fica difícil ajudar quando as mulheres pensam demais, exigem demais, enquanto os homens mantêm a mesma limitação daquela época.
Os católicos mais desesperados atacam a pobre Santa Rita de Cássia, que já avisou só tratar de assuntos sérios e impossíveis. Amor, ela nem pára para ouvir. Está sempre ocupada demais.
Kardec escreveu muitas teorias espirituais que explicam os karmas vindos de outras vidas, mas nada revela (de fato) os problemas amorosos. O mesmo acontece com os deuses do Camdomblé e Umbanda. Já Maomé diz que nada pode, porém seus fiéis não ouvem muito bem (estão ocupados com outros barulhos).
A única que realmente sofre junto é Maria. A Nossa Senhora ouve todos os sofrimentos, vê tudo e apela até para milagres. Consegue concessões impossíveis para qualquer um lá em cima. Ela entende o amor. Foi apaixonada por um homem na terra, assim como amou demais seu filho. Ela conhece esse sofrimento, mas não sabe como fazer para que ele perdure. Nem ela, nem ninguém.
Se a vida já é difícil, amar consegue ser ainda mais complicado. O jeito é acreditar. A fé pode mesmo não resolver, mas é ela quem faz com que voltemos a acreditar no amor. É a fé que nos faz encontrar pessoas novas. E é ela que também nos faz esquecer quem nos fez sofrer. Já vale, não?

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Fiu Fiu

O fiu fiu é internacional. Em qualquer lugar do mundo você pode ficar tranquilo (ou não) para assobiar àquela mulher gostosa que passa ao seu lado. Ela vai saber o que você quis dizer.
Não é interessante pensar que o mundo sabe o que é um elogio sonoro, antes mesmo do Google? Você passa, olha, admira e assobia. Pronto, está feita a cantada. No Brasil, em Cuba, na China ou Austrália. O fiu fiu é muito bem ouvido e interpretado da mesma maneira.
Não existe um dicionário que o descreva. Até mesmo o Google se confunde, mesmo assim o fiu fiu deveria ser reconhecido como a sonoplastia mais usada do planeta.
Qualquer mulher que se preze gosta de ouvir o assobio. Não é agressivo, não é vulgar, nem ofende. É galante. Um sinal de que o tempo passa, mas nem tudo envelhece. Fiu fiu é o som mais charmoso das passarelas acinzentadas e barulhentas das cidades.
Por ter esse ar retrô, o assobio é também machista (infelizmente). Não se vê uma só mulher fazendo biquinho para uma peça rara que vemos pelas ruas (a não ser entre amigos, como brincadeira). Nada.
Mesmo quando eles passam desfilando com tudo certo. Roupa, corpo, cabelo e perfume. Nós, em geral, apenas olhamos boquiabertas. No máximo, soltamos um suspiro reprimido. As mais ousadas gritam algo sem sentido nenhum (ou com todos os sentidos): “ô lá em casa”. Mas fiu fiu, jamais.
O que é uma verdadeira bobagem. Estamos tão acostumadas a fazer biquinho para tanta coisa imbecil (e sem nenhum humor), por que não tentar fazer um fiu fiu glamouroso?
Podemos estilizar o som das ruas, meninas. Criar novas formas de fazer o barulhinho elogioso, com olhares e piscadinhas acompanhando. Não seria vulgar, tampouco masculino. Pelo contrário! Soltar um fiu fiu com admiração pode render até assunto. Ou... no mínimo, vai dar para descobrir se o moço tem (além de estilo) um belo sorriso - porque ele vai rir. Não duvide.

terça-feira, 13 de julho de 2010

All Star

De repente é dia do rock. De repente a Cássia me vem aos ouvidos com a música do Nando. De repente o Queen seria mais apropriado para o dia (e é), mas essa letra sempre me encanta, me faz lembrar, me faz sorrir. E aí... vale.

Estranho seria se eu não me apaixonasse por você
O sal viria doce para os novos lábios
Colombo procurou as índias mas a terra avisto em você
O som que eu ouço são as gírias do seu vocabulário

Estranho é gostar tanto do seu all star azul
Estranho é pensar que o bairro das laranjeiras
Satisfeito sorri quando chego ali e entro no elevador
Aperto o 12 que é o seu andar, não vejo a hora de te encontrar
E continuar aquela conversa...
que não terminamos ontem, ficou pra hoje

Estranho mas já me sinto como um velho amigo seu
Seu all star azul combina com o meu preto de cano alto
Se o homem já pisou na lua, como eu ainda não tenho seu endereço
O tom que eu canto as minhas músicas, pra a tua voz, parece exato

Estranho é gostar tanto do seu all star azul
Estranho é pensar que o bairro das laranjeiras
Satisfeito sorri quando chego ali e entro no elevador
Aperto o 12 que é o seu andar não vejo a hora de te reencontrar
E continuar aquela conversa,
que não terminamos ontem, ficou nas Laranjeiras...
Satisfeito sorri, quando chego ali e entro no elevador
Aperto o 12 que é o seu andar não vejo a hora de te encontrar
E continuar aquela conversa
Que não terminamos ontem, ficou pra hoje...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Lindas, Loucas e Necessárias

As mulheres acham (e, as vezes, têm até certeza) que sabem tudo, podem consertar o mundo e mudar qualquer homem. Acreditamos piamente que nada está completamente perdido e, se está, pode ser resolvido com muito blá blá blá. Apesar de tanto positivismo, somos as rainhas da dramatização. Adoramos um melodrama, mesmo sabendo que nem sempre o final é feliz.
Eu, como exemplo prático, questiono, penso, pondero e, por fim, deliro – assim como a poesia de Gullar. Tudo fica grande. Atinge proporções impensadas, insensatas e completamente infundadas.
Não, nem sempre é preciso um momento mensal para isso. Pode acontecer qualquer dia, qualquer época, qualquer estação do ano. É o fim. Em geral, elas (nós) ainda reclamam, falam... Cruel para qualquer ouvido.
É... e para voltar à realidade não é nada fácil. Mas se você a ignora, ela bate na sua cara e lembra que é preciso descer para a terra. Alguém grita: Pise não chão agora! E você decide tentar (pelo menos por alguns minutos).
Aí, quando tudo está se perdendo no limbo profundo e escuro da nossa cabeça, nos encontramos com pessoas quase esquecidas, trocamos mensagens com o passado e ponderamos que, se nada foi tão terrível assim, por que sofremos tanto? Drama. Puro drama.
As mulheres têm mais potencial para esse tipo de sentimento. Não conheço muitos homens dramáticos. Mulheres estão constantemente entre a loucura e a insanidade. Tentamos desesperadamente achar um equilíbrio chamado normalidade, mas quase nunca alcançamos tal proeza. Freud morreu sem entender, mas nunca ousou dizer que nem mesmo nós nos entendemos – o que confirma ser uma bobagem outra pessoa tentar.
Houve uma época que me irritava ser mal interpretada, intensa... louca. Hoje, não. Se ninguém é mesmo normal (muito menos de perto, já disse Caetano), por que eu seria diferente? Não sou. Sou até bem mais prática e racional que a maioria, mas só. Todo o resto é confuso, misturado e dramático como todas as outras. Paciência.
Sugiro (insanamente) que nossa apresentação seja mais ou menos assim: Sim, louca. Sim, linda (claro). Sim, necessária. Sim, mulher. Muito prazer.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Por uma vida sem parcelas

Quantas vezes a gente não ouviu dizer que dinheiro não é tudo? O fato é que precisamos tanto dele que, no fim, nunca pensamos nessa frase (batida). As contas batem na porta todos os meses. Nossos sonhos, apartamentos, viagens, festas, roupas, acessórios, bobagens, empréstimos, carros, filhos, escola, faculdade, cursos... Tudo é (muito bem) pago.
Como não pensar nele? Como evitar sofrer quando você não tem como arcar, ajudar, tentar parcelar? Difícil. O dinheiro domina nossa realidade capitalista, burguesa e nos deixa (muitas vezes) infeliz.
De repente transformamos nossas vidas em cartões de crédito parcelados. Parcelamos sorrisos, momentos e até a saúde. Vamos parcelando... tentando nos encontrar em valores fixos e mensais. Vamos torcendo para que a gargalhada ou aquele comentário espirituoso saiam naturalmente.
Mudamos nossa vida por dinheiro. Mudamos de hábito, de casa, de humor. Trocamos as noites por horas de trabalho mental, e os dias pelo trabalho braçal de correr atrás dele. A fé nos escapa, fazendo das orações vazias. Não há motivação.
Ah... o dinheiro. Tão real, mas não move um único moinho. Tão real que não faz ninguém se apaixonar. Tão real que não nos transforma em pessoas melhores. Tão real que não dá em árvore, não serve pra pescar, nem se encontra em nenhum horizonte.
Dinheiro não paga o por do sol de hoje, nem a chuva de amanhã. Não paga a conversa com os amigos, nem o sorriso de um bebê. Não ganha um grande amor (daqueles de verdade). Não conhece beijo na boca, nem nunca vai saber o que é receber um abraço inesquecível. Não sabe que a lágrima é quente e que um sorriso pode iluminar uma sala inteira. O sr. dinheiro é burro pacas.
Dizem que para valorizar o que temos é preciso ver quem menos tem. Não acredito nisso. Vi um país socialista/comunista com pessoas sem nenhum dinheiro. Não tive pena. Elas precisam, como todos nós, mas não se deixam levar pela pobreza e tristeza que vivem. Todos sorriem, falam e ouvem, simplesmente porque tiveram de descobrir o que eu (por sorte) já sei: a gente precisa dele, mas é só isso. Ele não nos move. Quando faz falta é (só) para lembrar de que não podemos desistir de lutar. Nunca.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Idioma particular

A gente acha que já viu tudo. Adultos, mesmo sabendo que nada sabemos (grande realidade), acreditamos que nunca seremos surpreendidos. Bobagem.
Meus últimos 20 dias duraram meses. Meses intensos, quase sem dormir, com a mala roubada (e depois sumida), comendo arroz (muito arroz), bebendo rum, cerveja e, principalmente, enchendo a cabeça de cultura. Muita cultura.
Cultura internacional. Teorias cheias de fundamento para escrever personagens, encontrando palavras e perfis. Todas elas no idioma de pessoas, primeiramente, estranhas, para depois se tornarem amigos queridos.
No início era como uma pessoa saída de um coma, ou mesmo de um derrame. Tudo entendia, nada falava. Brasileiros locais aconselhavam: “hablas” como for. Brasileiros íntimos escreviam: fala! Falei. E falei com o coração aberto. Como pessoas especiais (que são) me compreenderam. Me ajudaram e rimos muito juntos.
Aulas intensas e especiais, festa infindas, bebidas fortes, conversas ricas. Tudo aconteceu em tão pouco tempo. Tudo aconteceu por muito tempo.
Café da manhã junto, almoço junto, jantar junto, bailar junto. O “junto” passou a ser uma palavra nossa e de mais ninguém. A comunicação venceu qualquer dificuldade de idioma. A música nos uniu. A informação nos salvou e a criatividade se expandiu. Estávamos ali... todos munidos de cumplicidade e humildade. Por isso, deu certo. Por isso, nos surpreendemos.
Acabou. Os dias intensos e sem sono teriam mesmo um fim. Sabíamos disso, mas por algum tempo achávamos que nunca acabaria. Mentimos para nós mesmos (de alguma forma).
Muito se perdeu. O dia a dia acabou. Mas sabemos que nosso idioma particular não. Nossas risadas ainda estão no ar, ainda posso ouvir. Nossos sonhos e tristezas divididas ainda ecoam por aí. E isso não acaba. Nunca. Pode ser aqui, em Cuba, no Chile, na Espanha, Colômbia, México, Costa Rica, Argentina, Austrália, Rússia até... Em qualquer lugar vamos a seguir hablando. Siempre.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Hasta la vista

Acelerar processos e tomar coragem é também correr riscos, certo? Lidar com o erro ou acerto da escolha é uma coisa que apenas aqueles que tomam decisões conseguem. Somente os fortes erram. Os fracos não tentam.
Acreditando (piamente) nisso embarco hoje para uma aventura em terras estranhas. Outra língua e um novo personagem para mim mesma – a representação de outra parte de mim (bem menos falante, muito mais ouvinte e melhor observadora de fatos).
Medos? Muitos. Vontade de passar por isso? Toda. Então... o jeito é enfrentar e seguir viagem.
A mala está pronta. Estão dentro dela minha família e meus amigos – todos bem juntinhos, empilhados e organizados. Ninguém atrapalha ninguém porque as vibrações são positivas - todos em meu favor. Não há nada contra.
Para garantir levo a parte tecnológica: computador, ipod, máquina fotográfica e um moleskine em branco (não é tecnológico, mas é muito necessário). Assim, estudo, registro e penso com a melhor trilha sonora: a minha.
A análise criativa (ou não) faz parte da viagem. A análise moral já se encontra implícita no meu discurso. A intelectual vai (ainda) passar por um crivo minucioso, e a divertida promete sorrir.
Amanhã tenho horas de fuso, coração disparado, palavras inesperadas, visão diferenciada e a esperança de duas semanas de incrível intensidade.
Por enquanto, me despeço. Mas prometo que volto!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Crescer

Os anos passam e de repente a gente vê que cresceu. Aquele acontecimento recente, depois de umas contas, se mostra ter mais de 15, 20 anos. Mesmo assim, os detalhes estão todos ali – como ontem.
Crescemos sem nenhum (ou todo) mérito. Tivemos uma educação diferenciada (ou não), uma vida cheia de acontecimentos (com certeza). Por não ser um epitáfio (claro, estamos aqui vivinhos) sabe-se que muito ainda está por vir e que tudo isso (de agora) vai ter mais de 30 anos qualquer dia desses.
Acontece que ninguém conta como isso ocorre exatamente. Todos sabemos que tomaremos decisões (muitas erradas), que chegaremos a algum lugar (do mundo ou do poço), que conheceremos muitas pessoas (lindas e péssimas), que haverá uma paixão aqui, um amor ali, uma dúvida acolá. Mas, ironicamente, só sabemos disso depois de passar por tudo isso. Nunca antes.
Aliás, antes, a gente fica meio bobo. Aquela fase adolescente em que nada dá errado e as pessoas são amadas ou odiadas com a mesma intensidade. Uma bobagem. Aí, com um pouco de maturidade e muitos tombos a gente vê que nada é (exatamente) 8 ou 80. No meio disso tem um monte de coisas justificáveis e explicáveis.
Crescidos, não só as contas chegam como te executam. Avisam que se não cuidar bem delas você vai encontrar um lugar na lista negra da cobrança. Adultos têm problemas no trabalho, com clientes, fornecedores, parceiros, sócios. Temos problemas com o amor, uma paixão desenfreada (e sem sentido), a pessoa platônica, o beijo inesquecível, o olhar avassalador. Sabemos muito e não sabemos nada (ou quase nada).
Porém, crescendo, a gente aprende mais coisa. Cai e levanta com maior facilidade, percebendo que tem flexibilidade – o famoso jogo de cintura. Além disso, conhecemos melhor (bem melhor) o valor das conquistas e das pessoas. Tudo passa a ter outro sabor. É mais especial e, por isso, muito melhor. E é aí que a gente vê como vale a pena. Afinal, crescer nos mostra vivos. Cheios de erros (claro), pensamentos confusos (como sempre), mas também com muito mais coragem para enfrentar e muitos mais amigos para abraçar.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

A vida como ela é

Nem sempre sabemos o que fazer com a vida - se é que devemos saber tal coisa. Acontece que, as vezes, ela nos dá rasteiras. Faz com que tenhamos dúvidas demais. Nos faz pensar, analisar, mudar, crer.
Acreditar que coisas boas podem acontecer é sensacional, desde que você corra atrás delas. Sei, sei, já escrevi tanto sobre isso aqui, que até eu me canso um pouco. Mas, a verdade é que encarar uma mudança não é nada simples.
Pensar no que fazer quando ninguém te garante se vai dar certo é complicado. Sempre sonhei com o dia em que um ser divino me diria se estou no caminho certo ou no errado. Ele (o divino) até pode existir, mas, com certeza, tem mais o que fazer. Nunca ousou aparecer.
Se ninguém vai te dar sinais da verdade absoluta, o melhor é mesmo criar coragem e seguir para onde sua cabeça (e seu coração) definir como melhor caminho. Encarar a vida como ela é (sem nenhum sentimento rodriguiano, por favor).
Sempre ouvi que “fazer o bem e não olhar a quem” pode te trazer felicidade. Não é verdade. Tem um monte de gente ruim por aí se dando bem. Mas, provavelmente, esses não são os exemplos da melhor família, do melhor amigo, da saúde invejável ou de qualquer outra coisa que valha (realmente) a pena.
A gente está aqui por algum motivo, mas, ironicamente, ninguém nos contou qual. Na dúvida, é melhor enfrentar as tais rasteiras com humor. Crer que a vida pode ser muito melhor quando aceitamos que nada sabemos dela e que, por isso mesmo, devemos ser corajosos, aceitando e mudando a cada necessidade.
Pode ser mesmo que dê certo. Pode ser que não. A única certeza é de que vamos aprender alguma coisa com isso – mesmo que seja para tentar de novo (dessa vez sem erro). Somos capazes disso. Basta não desistir.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Vida Polyana

Chega o dia que devemos celebrar a vida. Estar aqui (acreditando ou não se existe outro lugar) já é um bom motivo para comemorar, não? A gente acorda, respira, sente, fala, sorri, chora... Viver já é um belo presente.
Aniversários estão na nossa vida como datas que nos fazem pensar em tudo isso de forma concreta - com ou sem ânimo. Não é preciso a cantoria dos parabéns a você para te lembrar de que você está mesmo de parabéns. Está vivo, saudável e com planos.
Uma vez ouvi que a vida é real para aqueles que têm planos. Ela só é válida enquanto planejamos coisas, vivemos problemas, sonhamos com soluções, esperamos a mega sena. Não importa. A vida está embaixo dos nossos pés e em cima de nossas cabeças. Deve ser vivida com garra e contentamento.
Sim, é Polyana. Sim, é piegas. Mas, se todo mundo nasce para um dia morrer, não parece ser mais feliz (e sensato) viver bem o intervalo disso? Claro que é muito mais fácil falar. Sua conta bancária agoniza, seus problemas te ligam, pessoas se perdem pelo caminho. Porém, outras são encontradas, e todas te fazem (ou fizeram) feliz em algum momento.
Nada se perde. Tudo está aí de forma inquestionável. As coisas se encaixam e você nem sabe exatamente como. Quando vê, já sorriu. A leveza está em cada interior... basta vasculhar.
Os anos passam sim. Vamos ficando mais velhos e também muito mais centrados. Ficamos muito mais animados com os resultados e muito menos decepcionados com as tristezas. A vida é um antagonismo só.
Tudo isso para dizer que amanhã faz anos a pessoa mais positiva que conheço. A mais animada para qualquer coisa ou programa. Aquela que ri após o choro e que nunca desistiu de mudar, de sonhar e de buscar. Um exemplo de ser humano (daqueles que dá prazer em conhecer). Pessoa boa de verdade. A melhor amiga que posso ter. Minha mãe.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Quem espera nunca alcança

Quem espera sempre alcança tempo livre e ocioso. Sobra mais tempo para olhar o céu. Mais tempo para ouvir bobagem, mais tempo para reclamar, mais tempo para dormir, para beber, para chorar ou fugir.
Quem espera tem horas extras para caminhar triste e cabisbaixo. Tem momentos de sobra para olhar o mar com melancolia. Conhece bem a sensação de abandono (mesmo se rodeado de gente).
Esperar nunca fez ninguém conquistar nada. Ninguém alcançou coisa alguma sentado numa cadeira de balanço. Nenhum email chegou sem contato prévio; o telefone não tocou; o emprego não aconteceu; seu salário não aumentou; o cavalo branco não chegou na hora certa... Sua vida, definitivamente, não mudou.
Quando algo importante deve acontecer não adianta esperar. Vai precisar bem mais do que isso. Vai precisar de disposição para levantar as mangas, colocar as galochas e se jogar na lama. Porque a vida é lama e “é linda por isso”, já diria Xico Sá. Seja para ir atrás de um porco - ou de uma pérola – para só então chamá-lo de seu. Nenhuma outra pessoa fará isso por você. Aliás, ninguém faz isso por ninguém.
A verdade é que a gente encara qualquer perrengue quando estamos certos da decisão tomada. Quando temos dúvidas, decidimos esperar (e nunca alcançar). É mais fácil. Afinal, o risco é sempre mais assustador do que a tentativa. E é aí que tudo se complica.
Se estamos atrás de uma mudança, esperar só atrasa mais o processo. A retirada dos móveis antigos e entrega no novo endereço só acontecem quando o caminhão está aguardando na porta.
Esse caminho pode (até) ser distante e com curvas sinuosas, mas terá o ritmo que seu coração (e sua ansiedade) permitir, desde que a mudança aconteça. Sem espera.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Tempos de Hard

Depois de tanta tristeza, vem o frio como uma forma de... castigo? Aí, a gripe te ataca (sem nenhum porco envolvido). Tudo junto e de uma só vez.
Antes de você decidir gritar como Hard (em ‘ó vida, ó céus’), começa a pensar em possibilidades menos cruéis de sair por aí reclamando do clima, da vida, do momento, da grana, do trabalho... e de se perguntar onde estão guardadas as gillettes.
Em um pensamento prático e bem idiota, imaginei um serviço de aluguel de pessoas. Veja a simplicidade da coisa: você precisa de alguém para te ouvir, para te abraçar, para dormir, para chorar ou para rir. Faz um telefonema e pronto. Direto para sua casa.
Não, não há nada de promiscuidade nisso. O sexo não está em questão e sim o calor humano. Nem estou falando (só) de carência, mas de companhia mesmo. O frio deixa tudo um pouco mais triste. As pessoas se vestem melhor, é verdade. Mas elas também estão frias, com um ar de mal amadas, mal vividas, mal exploradas, mal comportadas.
Alguém para te levar um chá na cama; ficar debaixo do cobertor assistindo um filme; uma sopa quentinha; um chocolate bem quente e cremoso; conhaque; vinho; lareira... e depois, um adeus sincero. Sem culpa ou ressentimento. Só o pagamento, claro.
Sim, eu sei. Pouco romantismo e muita lamentação. Mas funcionaria apenas pela praticidade e duraria somente dois ou três meses, servindo para muitas coisas.
Importante lembrar que o aluguel desse “calor humano” independe do sexo da pessoa indicada (mulher ou homem), ou mesmo opção sexual do acompanhante, assim como a idade é um dos últimos itens desse contrato de aluguel. O que importa mesmo é a relação intelectual.
Até poderia ser um amigo, mas ele não teria nenhuma obrigação de te deixar feliz ou te dizer que tudo dará certo. Por isso, o aluguel valeria a pena. Alguém a parte da sua vida. Não te deve nada porque vai receber, e se beneficia porque estará em boa companhia (afinal, você é mesmo o máximo).
Uma carência mútua num tempo frio. Acho justo. Honesto até. Só não vale amar, pois pode ser mais trabalhoso e é muito menos prático.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Garoto Bom

Quando criança ele foi meu ídolo. “Era o bom” da música. O homem que me chamava de Juquinha (ou Juca) e apelidou o frango de padaria de “pipi”. Adulta, muita coisa mudou. Ele envelheceu. E, como todos os nossos ídolos, foi perdendo o charme. Seus defeitos passaram a ser conhecidos demais pra mim. Chata que sou, reclamei de todos eles. Também louvei seu eterno bom humor e sua capacidade de superar as tristezas da vida. Ele esquecia. Não falava a respeito. E eu nunca aprendi a fazer o mesmo.
Como tola, briguei, discuti... e me diverti. A cena da cantoria de Francisco Alves (acabo de descobrir) será para sempre inesquecível. E ele (o cantor) ficaria possesso se o visse cantarolando uma letra completamente diferente da sua, em “Adios muchachos”. A música sempre terminava com a frase “há muito tempo que cheguei e estou aqui...”
Trabalhando, passeando com a gente de lancha (ele odiava e a gente amava), falando do bife da minha avó, fazendo café, comendo feijão para (só assim) chamar de refeição, comentando a novela, fazendo palavras-cruzadas (vício), sonhando com a loteria. Tantas coisas...
Difícil vai ser controlar a saudade (inclusive das brigas). Mas, na vida, essa certeza é única, mesmo quando tão inesperada.
A minha homenagem é escrever aqui a letra de uma música que ele escreveu: Garota Bonita.

Garota bonita que anda na rua
A procura da felicidade
Não vá te fiando na tua beleza
E na tua vaidade

A vida é uma mentira
O amor é uma ilusão
Garota bonita
Muito cuidado com seu coração

Fuja sempre do amor
Não te deixes prender
Ele é um fruto de dor
Que faz a gente sofrer

Ouça a voz da razão
Do amigo que diz
Feche o teu coração
Se quiser ser feliz

terça-feira, 11 de maio de 2010

Caminho de lembranças

De repente a gente esquece. Esquece que foi infeliz. Esquece que não foi bom, que não gostou, que chorou, que doeu, que sentiu. A gente esquece também do que fez bem, do que era bom, da química, da conversa mole, da séria, da risada, do som, da voz.
O tempo passa e a gente simplesmente vê que a vida também passou. Você fez outro aniversário, ficou mais velho e, ironicamente, seu rosto no espelho continua o mesmo. Nenhuma ruga a mais, nenhum sinal de alteração que já não existisse (ou será novo?).
As vezes você tem a impressão de que as pessoas se lembram mais do seu passado do que você próprio, definitivamente. Sabem com quem você estava, qual roupa usava, sobre o que falava. E você se pergunta se esteve mesmo ali e quando, exatamente, foi que aconteceu.
Por outro lado, sabe que, se decidir sentar de frente ao mar, vai lembrar. Em detalhes, tudo virá na sua direção como se tivesse ocorrido no dia anterior. Coisas que só você saberia (mas não ousaria) contar. Um ano, dois, oito, vinte... todas as lembranças espaçadas. Estão lá. Das melhores até as mais doloridas. Por isso, de frente às ondas, você nunca pára. Apenas caminha (por pura segurança).
Toda a ternura, o carinho, as palavras mal e bem ditas. O sofrimento da perda, a sensação do início, a esperança de um recomeço. Algo novo. Sem histórias tristes, sem conversas furadas, sem blábláblá.
A honestidade do princípio é sempre duvidosa. Tudo é lindo, para depois ganhar um ar sombrio. Tão complicado de confiar. Sabe que a entrega é fatal. Te mata e te faz renascer (tudo ao mesmo tempo). O que era um sonho, se transforma em realidade e se mostra. Cruel. Feliz. Arrogante. Terno. Quente. Burro. Eterno (quem sabe?).
A razão te traz de volta. Notícias ruins e conversas desejadas te apontam (novamente) histórias esquecidas. O fim não parece ter o mesmo significado, e nem é mais tão real.
Sem explicação, você decide, finalmente, olhar para o mar. Encara, pondera, lembra... e surpreende-se ao perceber que foi (até) mais simples do que imaginava.

sábado, 8 de maio de 2010

Um carioca santista

O mundo que a gente vê perdeu uma grande figura. O mundo que a gente não vê ganhou um homem e tanto. Carioca marrento (como todos) e santista fanático (como nenhum outro). No Rio, jurava ser Botafogo, mas seu coração sempre teve o único peixe alvinegro.
Quando o filho quase virou flamenguista, correu para a igreja com o menino. Não rezou. Resolveu contar a “famosa” (e inédita) história do pessoal rubro-negro. Foram eles que levaram Jesus para a cruz, sabia? “Não dá pra confiar”, dizia.
A batida de amendoim do boteco fuleiro era o combustível para o bom de papo. Um homem sério. Militar, esteve em muitos lugares, mas era em Santos que se sentia em casa, mesmo sem escola de samba. Mangueira de coração, só abandonava a paixão quando falava de Parintins. Lá, era Caprichoso (ou seria Garantido?).
Era um homem de torcida. De bebida. De cigarro. Um militar que duvidava da eficiência da tortura (“muita gente não aprendeu nada”, dizia entre outras coisas), duvidava das pessoas (até que as conhecesse bem) e de que mulheres sabiam o que estavam fazendo (coisa rara).
Fazia cena. Fazia pose. Tirava casquinha do melhor amigo espanhol - só para mostrar o quanto o amava. Era durão, mas não era de briga – só se pedissem. Era um grande cara.
Ele se foi. De repente. Sem aviso ou despedida. Faz sentido. Não era homem de lágrimas ou de adeus. Tinha seu jeito. Seu amor vinha de outra maneira.
Partiu e nos garantiu uma das piores sextas-feiras do ano. Foi tão sorrateiro que, mesmo sem estar mais presente, promoveu conversas impensadas, com respostas tardias. O carioca mais santista que existiu, abandonou a cena e foi pedir amendoim em outro balcão. Deixou o carnaval passar, abandonou a cerveja no copo e o grito de campeão entalado no peito, para assistir o jogo de outro ângulo.
A gente não vê mais. Mas, no fundo, torceremos em silêncio para que a câmera da TV o encontre meio da torcida, gritando pelo Santos - só para matar nossa saudade.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Quase Geni

Ela tem mais de 50 anos. É sozinha no mundo, na vida. Não fosse por sua companheira Susie (a cachorrinha), estaria só e mal acompanhada. Talvez fosse mesmo louca – como muitos do bairro falavam entre dentes – mas não era surda, só não ligava. Vivia do seu jeito.
Ria, falava alto e conversava com pessoas variadas. Se habituou a reclamar da saúde, das pessoas. Não era uma mulher feia. Longe disso. Estava sempre muito bem vestida com seu shortinho curtíssimo (independente do clima) e seu top decotado. Podia até ser motivo de risadas pelo bairro, portarias e mesas de bar, mas nenhum homem diria que não tinha um corpo bonito.
Sabia que todos os olhares mesclavam pena e sarcasmo. Menos um. Sentado na mesa do bar (onde nunca fora chamado) todos os finais de semana, um homem, na casa dos 70 anos, fumava, bebia steinheger e caipirinha (ao mesmo tempo). Era casado, sujo, porco, pai de família e dono de um pássaro que tratava como se fosse cachorro.
Ela passava pelo bar todos os dias. Era seu caminho. Conhecia muitos dos que sentavam ali, mas nunca se sentou. Ficava de pé, na calçada, conversando com as pessoas que lhe davam atenção.
Naquele dia, contava sobre a dor que sentia no ombro e o tratamento que fazia. Ele, o porco, olhava e (literalmente) se lambia enquanto ouvia. Nunca falava nada, nem comentava. Mas, inspirado, dessa vez quase gritou: “Eu queria ser sua tendinite”.
A mesa ficou em choque. O bar parou. Todos esperavam a reação dela, que apesar de louca, não era burra. Se fez de desentendida e, quando começaram a rir da situação, bateu em retirada.
Em casa, pensou na situação e sorriu. Foi amante de tantos homens, viveu tanta coisa... Mas, definitivamente, nunca deitou com nenhum que não quisesse, e essa era uma das coisas de que mais se orgulhava. Podia ser louca, mas tinha pudores, desejos, anseios e afeições. Preferia morrer de tendinite crônica a ficar com homem tão nojento.