quinta-feira, 30 de abril de 2009

Estranhos azulados

Lá, lá, lálálá, lá. Lá,lálá, lálá. Assim caminhavam os Smurfs, mocinhos azuis com gorros brancos. Uma coisa muito anos 80 (talvez início dos 90). Não importa. Lá estavam eles cantando enquanto caminhavam pela nossa TV.
Éramos crianças e nada (ou tudo) fazia muito sentido (hoje, alguma coisa, faz?). Enfim, o desenho seguia e não havia uma criatura, na época, que não via. A Xuxa chamava e a gente assistia, ué! Assim, seguiam nossas manhãs.
Mas, em uma conversa nada produtiva em um almoço pra lá de engraçado (pra variar), discutíamos o impensado: o que fazia a Smurfete em uma aldeia só de homens?
É verdade. Para quem nunca viu (ou não lembra), os Smurfs viviam numa aldeia habitada apenas por homens (ou bonecos esquisitos azuis). Alguns eram mal humorados, outros mais felizes e todos cantavam. Uma vida estranha (bem estranha mesmo).
Na minha lembrança infantil, a Smurfete era apenas uma garota loira que tinha que aguentar um bando de homens falantes e, muitas vezes, chatos (coitada). Mas como adulta, acho mesmo que havia uma certa pornografia no ar. Ou (e não podemos descartar essa hipótese) eles eram todos gays (o que explicaria a cantoria durante a caminhada), e ela, uma maluca que foi interagir com meninos animados – nada de errado nisso.
Vamos nos ater ao lado pornô. Faz todo o sentido. De repente a Smurfete foi a Geni (lembre-se do Chico Buarque) de uma Vila de homens que lhe pediam favores sexuais em troca... Bom, não sei. Em troca de quê? De amoras (eles comiam amoras)? De serviços domésticos? Não sei.
Ela pode ter sido apenas uma mulher carente em busca de um cara bacana, que caiu nas mãos (muitas mãos, nesse caso) erradas e desistiu de procurar. Afinal, todos os estilos estavam ali, espalhados pela grama e usando roupas ridículas (mais ou menos o que vemos, hoje, por aí). Aí, ela pensou: aqui, pelo menos, eles cantam.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Novas borboletas

Por que temos tanto medo do que não conhecemos? Afinal, o novo tem um “quê” de fresh e isso é bom, não? Mas assusta, é verdade. Encarar a vida de outro jeito dá trabalho porque devemos nos renovar junto com ela.
No entanto, pode ser também revelador (deve-se dizer). É nesse momento que conseguimos ver aquilo que realmente desejamos. Sem amarras. Sem ressalvas. E com muita honestidade. É como se recebêssemos a permissão para concretizar um sonho antigo (ou um mais recente). Assim é o novo.
De repente tudo aquilo que pensávamos e ponderávamos tanto por ser turvo, nublado; se torna claro como a água do mar nordestino. É salgada, mas é também revigorante.
Nasce uma vontade tremenda de seguir adiante só para espiar, mesmo que de longe, como seria se... Com isso, as borboletas voltam a rondar nossos estômagos e vamos encarando a vida como ela é – mesmo temendo um momento mais Nelson Rodriguiano.
As novas possibilidades vão (a cada dia) se tornando infinitas e grandiosas. O mundo vai se abrindo como uma flor e você, como uma borboleta, vai explorando uma a uma. Devagar e sem pressa. Até que, finalmente, consegue ver que o tal “novo” pode ser bem vindo (ufa). Ainda bem.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Amanhã eu dobro a esquina

Sei que nada será como está
É o claro, é a escuridão
São dois rios inteiros
Sem direção

O céu não cai do alto
Mas os braços sentem
E os olhos vêem
Nada será como antes

Tem coisas que a gente se esquece de dizer
Fica um gosto de sol
E o sol pega o trem azul
E você já nem se lembra se olhou pra trás

Tudo isso também se chamava sonhos
E os sonhos não envelhecem
Ninguém precisa da solidão
Porque todo dia é dia de viver


* Em alguma parte disso, alguém grita: "Milton, delícia!" - E ganha a noite (simples assim).

terça-feira, 21 de abril de 2009

(Quase) Todas as coisas

Me lembro de você em um domingo no parque (em que havia uma Juliana embutida – e não era eu); deitados em lençóis de losangos alaranjados; comendo macarrão com salsicha; cantando Dia Branco no tom; ouvindo boa música; conhecendo Beatles e Chico Buarque; enrolando a língua com frevo; dançando em casa (muito, e sempre); desenhando capas de discos que eu não conhecia; descobrindo LPs na vitrola; curtindo samba e MPB; fazendo filmes em Super 8 e (mais tarde) VHS; escrevendo roteiros; vendo uma boa publicidade na TV; jogo com pipoca e guaraná (pra mim) na Vila Belmiro; a torcida pelo Santos Futebol Clube; o amor pelos cães (um em especial, claro); sendo culto e inteligente (sem ser arrogante por isso – o que é incrível e mais admirável); lendo livros (todos os que ainda preciso ler); ouvindo CDs (apenas os melhores); assistindo DVDs (paixão recente); admirando fotografias (novas e antigas); bebendo o cachorro engarrafado de nome curto; escrevendo (lindamente) contos e crônicas (todos, prazerosamente, lidos); conhecendo (tanto) Jorge Amado; Saramago e Millôr (não necessariamente nessa ordem); o melhor companheiro de bar; o bate papo mais divertido/profundo/cultural/psicológico/furado do planeta.
Lembro de tantas outras coisas e de outras que nem lembro tanto, mas que já passamos ou passaremos (quem sabe passarinhos?).
Mas, a melhor dessas coisas foi ter aprendido com você o verdadeiro (e único) valor de uma grande amizade. Obrigada por ser você meu melhor amigo e o meu pai (confesso: dei uma sorte danada nisso).

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Grande Bolada

Quando eu era bem pequena, achava que minha vida seria ocupada por muitas coisas. Tinha tudo meio planejado. Jornalismo (era certo), casamento e filhos. Nada complexo.
Queria, mesmo, era ser ocupada. Telefone, caneta e papel estavam nos sonhos – hoje enquadrados na minha parede da memória e vividos na vida real. Mas era tudo muito simples. Meu irmão seria meu vizinho (e hoje, quase, é... estranho).
A vida seguiu e quase me esqueci disso. Mas, outro dia lembrei: sou “ocupada”. Engraçado. A brincadeira do passado deu certo (mas agora tenho computador – impensado para a época).
A diferença é que hoje gostaria de ser mais “mega-sena”, sabe? Trabalhar para fazer graça e não para fazer dinheiro. O casamento não rolou (ainda?) e filhos não estão projetados por enquanto. Fico mais empolgada com as próximas viagens e as bebedeiras com amigos.
Enfim, tenho jogado – cada vez mais, confesso. Dizem que sorte no jogo, azar no amor. Mas, quem pode ter azar sendo milionário? Duvido. Assim, ganhei novos sonhos: passar uns meses com os argentinos (só de sarro). Depois com os franceses (très chic). Quem sabe também com os gregos e suas casinhas brancas? Humm... Tantas coisas. Depois, Santos. Claro.
A verdade é que a mulher ocupada da infância se transformou em uma grande sonhadora. Quem pode me culpar? Os sonhos nos trazem a sensação de que os finais são (sempre) felizes e emocionantes como um filme bom (e cor-de-rosa). E as expectativas (nossas, claro) são (as vezes) mais apaixonantes do que as pessoas.
E daí? Estamos vivendo, oras! Aguardando a grande bolada da vida!

domingo, 12 de abril de 2009

Estou de malas prontas

Poucos se lembram disso, mas hoje é o dia da ressurreição de Cristo. Hoje é o dia que se deve recomeçar, se renovar. Não sou católica, mas realmente quero crer que esse é o dia de começar de novo.
Enquanto muitos trocam ovos, troquei de status. Apaguei fotos, arranquei (simbolicamente) da parede o que esperava ter para sempre. Mas, ora perdemos, ora ganhamos. Dessa vez, perdi. A vida é assim e deve continuar.
Por isso, aproveito a páscoa para esquecer o que é velho e buscar o novo. Me lançar novamente nessa roda viva contagiante, tentando esquecer tudo o que me fez mal e triste. Para lembrar, apenas, do que valeu a pena. Ser feliz (em momentos e na utopia, e daí?).
“Desculpe, tristeza, mas estou de malas prontas”. A felicidade me espera em algum lugar. E é pra lá que eu vou. A partir de agora.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Pesadelo

O que mais me assusta?
Quando não tenho nada a dizer. Nada.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Hoje

Hoje o dia é branco.
Não existe declaração de amor. Não existe futuro. Não existe lugar nenhum.
Nem praça, nem mar, nem música, nem poesia.
Hoje não tem pedaço. Nem migalha. Nada.
Não faz sol. Não chove. Não faz calor ou frio.
Hoje não é nada.
O dia dói e apenas eu sinto. E sinto muito por isso.
Não há sono, não há romance, não existe mais amor.
Hoje há miséria, fome, raiva. Nenhuma palavra boa existe no dicionário de hoje.
Os sonhos morreram. As linhas acabaram e as promessas nunca existiram de verdade.
O que se chamava de reencontro, virou história. A alma perdeu a cor.
Os cartões de natal e aniversário são lembranças. As fotografias ganharam pó. E a chave entregue pertence ao meu coração.
Hoje não tem amanhã. Não tem trabalho. Falta respiração.
Hoje nada passa. Nem a dor, nem o grito, nem o amor.
Mas dizem que o amanhã virá. E que, quando chegar, apagará.
Hoje, não consigo acreditar.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Dia do Casamento

Quando a felicidade se dilui em pequenos pedaços
São pessoas que olham o infinito
Mas quase não vêem
Hoje, o brilho dos olhos não trai

Está ali... mas quase ninguém ouve
Se ama, se dança, se ri
Numa luta constante entre o agora e o para sempre
Esse é um momento que não se perde

Do amanhã ninguém sabe
O futuro, hoje, é distante
Melhor que seja assim
E que o amor vença (de qualquer forma)

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Não custa tentar

Quando a felicidade bate é melhor que estejamos em casa para abrir a porta. Deus sabe quando ela voltará a passar por ali. Mas, será mesmo?
Felicidade é descrita no dicionário como satisfação, contentamento. Quantas vezes nós nos sentimos assim em um dia qualquer? Ou em uma semana? No mês? No ano? Milhares. Sem dúvida.
Por isso, desconfio daqueles que buscam essa tal “felicidade” abstrata e utópica. Que esperam que ela entre pela porta vestida de branco e rodeada de flores amarelas (lindo cenário, mas pouco realista). A verdade é que existem momentos felizes todos os dias. É só reparar.
Assistindo TV, sozinha em casa, eu rio sem parar com alguma bobagem seriada: felicidade. Andando na praia vejo crianças se enlameando com a areia molhada: felicidade. Risadas após a maior besteira já dita em uma mesa de jantar: felicidade. Experimentar um sapato horrível só por diversão; dançar sozinha como uma boba; comer um pote de sorvete enquanto passa um filme lindo na TV; risada de criança; gargalhada de adulto; xingar alguém bem alto (e se sentir muito bem por isso); papos, beijos e abraços de pai, mãe e irmão; beijo de namorado; ter alguém (ou “alguéns”, com sorte) que te ama; tomar café da manhã acompanhada; ser promovido; saber que seu salário vai ficar melhor e, por isso, vai pagar a pizza dos amigos; reunião de amigos queridos... Tudo isso: felicidade.
Não menosprezo o desejo pela felicidade plena. Só não acredito que ela exista. Simples assim. Afinal, sempre haverá um problema, uma agrura, uma pedra no sapato para tirar. E isso faz parte da vida (infelizmente). Não tem jeito.
O importante é reconhecer e recolocar o peso em cada coisa. Se uma não está do jeito que você gostaria, valorize mais as outras. Esse é o segredo do sucesso. Claro que é muito mais fácil falar, do que fazer. Mas... não custa nada tentar (e... pelo resto da vida)!

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Um Instante

Ferreira Gullar
(estou cada vez mais apaixonada por ele... confesso!)

Aqui me tenho
como não me conheço
nem me quis

sem começo
nem fim

aqui me tenho
sem mim

nada lembro
nem sei

à luz presente
sou apenas um bicho
transparente