segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Somos (todas) princesas


Contos de fadas destruíram a vida amorosa das mulheres. De princesa a princesa foram se alastrando e contaminando cada menina, adolescente, mulher. Não há nada que podemos fazer a respeito. Foi um ataque devastador e já dura anos.
Já tive teorias mil a respeito. Muitas delas escritas nesse blog mal lido, mal escrito, mal visto. Tanto faz. O fato é: sapos são sapos, e homens são homens. Nunca beijaremos o certo, nem o errado. Mas a crença de que o príncipe virá ficará eternamente na memória de cada menina – não importando se ela tem 4 ou 60 anos. 
O príncipe chegará em algum momento e vai resgatar a mocinha da torre, da madrasta malvada, da bruxa, do trabalho, da independência exagerada, dos pensamentos individualistas, do egoísmo... Ele virá – claro que virá.
Não existe um filme sem isso. Não existe livro sem isso (o mais recente tem tons de cinza, menina virgem e um homem maduro traumatizado e sexualmente ativo - qualquer relação com a realidade não é coincidência). E no fim tudo é salvação. O amor salva, dizem.
Já escrevi sobre a pele verde dos homens comedores de mosquitos (desde que tenham um corpo gostoso, claro), sobre os baixinhos (mesmo que bem altos) com pele gosmenta e língua comprida que volta e meia insistimos em vestir com a roupa de príncipe. Aquela roupa está no armário da memória de cada uma de nós mocinhas indefesas. A gente simplesmente tira ela (mesmo que empoeirada) do guarda-roupa e veste o moço verde. O problema é que muitas vezes, como acontece com o tal sapatinho, o traje não cai bem no moço. Mas, como em um lindo filme de amor, acreditamos que no final o homem certo servirá na roupa branca e nos levará para um mundo de sonhos. E... ele estará em seu lindo cavalo branco, com os cabelos ao vento (mesmo que seja careca) e uma espada para arrancar a cabeça de qualquer espertinho que queira nos resgatar antes dele.
No fundo não importa muito o número de decepções que você já teve. Se é mulher, vai querer ser a princesa de alguém. Nem que isso demore mais tempo do que imaginava; nem que ele saia de um livro idiota; nem que a vida insista em te mostrar que sapos nunca virarão príncipes. Ainda assim sua cabeça jamais desistirá, está programada para histórias encantadas e extraordinárias e, dessa forma, não aceitará nada menos do que isso. De jeito nenhum. 

terça-feira, 18 de setembro de 2012

São Pedro parou!


Complicou. São Pedro entrou em greve. Estava cansado de tantas reclamações. Muita chuva traz enchentes, tragédias, mortes, acidentes, trânsito, caos... todo mundo reclamava. Então, desistiu. Sentou na sua nuvem predileta e lá ficou.
Achou que alguém iria reclamar sua falta, mas não. Com o passar dos dias, ninguém reclamou. Nada. Nem mesmo no céu. Na verdade, ninguém reparou que aquele homem forte, que vive arrastando móveis e fazendo uma barulheira danada, estava sentado há dias.
20 dias e nenhuma oração. Nenhum pedido. Nada (de novo). Começou a pensar na vida e reparou que raramente alguém clamava por seu nome, ou acendia uma vela. Existia, claro, mas era mais difícil. As pessoas gostavam mesmo do Antonio, do Francisco, do José. Já o Pedro...
Até que passamos dos 60 dias. Mais de 60 dias de sol a pino, calor de verão em pleno inverno. Crianças em hospitais com dificuldade de respirar, umidade do ar baixíssima, as peles cada vez mais secas e opacas, exercícios ao ar livre já são impraticáveis... E, finalmente, ele ouviu gente clamando pela chuva. Mas nem se abalou. São Pedro estava bravo.
Jesus, então, olhou para São Paulo e perguntou de Pedro. Saiu a sua procura e o encontrou tomando a tradicional limonada (ele é louco por limão, veja só) e em uma conversa franca tentou colocar juízo na cabeça de um de seus fieis escudeiros. Mas Pedro estava decidido a continuar a greve até que as pessoas reconhecessem seu valor. Ele merecia isso. O “pior” é que Jesus entendeu. Achava justo a luta do amigo e apenas recomendou: “lembre-se, eles são humanos, não sabem o que fazem”.
Pedro sabia, mas queria que a chuva fosse mais valorizada e, como consequência, sua importância também. Sabia que já tinha gente organizando dança, rezando pela água como se fosse benta. Mas ele queria mais. Esse era (enfim) o seu momento.
Enquanto isso, nós (os humanos desavisados e desinformados) continuamos rezando pela chuva. Porque se até os santos começarem a fazer greve, o que será de nós? (com chuva ou sem ela)

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Ambiguidade, livros e ironia


Sabia que tudo podia dar errado. Aliás, tinha certeza de que daria. Mas... decidida, topou. Seguiria pela trilha desconhecida, na esperança de um final feliz. 
Preparou um kit com necessidades básicas que incluíam coragem, determinação, bom humor, algumas doses de tolerância, outras de paciência. Assim, quem sabe o resultado não seria cheio de risadas?
Tudo isso deixou a bolsa mais pesada do que deveria. O maior peso ficou por conta do medo de cair. Sabia que era o risco que corria, por isso decidiu ir sem salto – assim manteria os pés fincados no chão. Nada de escorregar ou balançar, a trilha era íngreme demais e não havia onde segurar. Era preciso encarar o novo e seguir em frente.
Com sua personalidade forte achou que precisaria de muito jogo de cintura para encarar, mas não. Viu que não estava só. Ele carregou sua bolsa e colocou ali coisas dele também. Tudo o que era preciso estava dentro daquela pesada bolsa amarela. Juntos, encaram os altos e baixos.
Ao longo do caminho suas pernas doíam, sua cabeça rodava, seu bom humor titubeava, sua tolerância gritava, sua coragem escapava, a paciência se esgotava... mas a determinação não abandonava (ainda bem).
A paisagem ajudava: bambus energizavam, micos acalmavam e as borboletas coloriam. Enfim, o destino: Cachoeira da Feiticeira. De feitiço não se via muito – talvez o fato de terem chegado até ali. Mas valeu as risadas e o banho de água fria (literalmente).
Na volta, com uma bolsa mais vazia, o medo já não pesava. O maior peso tinha um nome mais ameno: livros. Dois gordos romances – o dele e o meu. Porque, afinal, se você se perder no meio mato, quebrar a perna em uma trilha difícil ou mesmo quando não aguentar mais andar, você vai precisar de um livro para te acompanhar (e de muita ironia, acredite).