terça-feira, 22 de julho de 2008

Pisavas os astros, distraída

De repente um barracão, no meio do morro, me parece um lindo cenário. O teto de zinco fazia o "chão de estrelas", que “tu pisavas os astros, distraída”. Assim disse Orestes Barbosa.
Essa é uma imagem e tanto. Noite de lua, céu de estrelas e a luz invadindo o chão. Fico encantada quando uma música (nem sempre com pretensão) consegue fazer com que você veja a cena. Um roteiro de imagens, criado pela melodia e letra de alguém (ou ‘alguéns’).
Não. Nada de comparação com os livros. Livros são feitos para isso. A música não. Para gostar de uma música não é preciso imaginar nada. Prova disso foi a Era Beatles, em que brasileiros (ou, pelo menos, a maioria deles) cantaram (em coro) “Is bina rar days naite”. Aqui, a melodia venceu a letra (e a língua) e foi um sucesso.
Assim é também com a música clássica ou - com o perdão da comparação - o axé (que tem em comum, só a falta de letra). Ou seja, nem sempre é preciso uma linda canção para o reconhecimento.
Mas eu preciso de uma boa letra para usar a imaginação. Sem interferência de clipes. Trato como um roteiro sonoro, melodioso e cheio de interpretações.
Se pudesse, viveria a trilha desses roteiros. Meus amigos, discos e livros estariam em uma 'casa no campo'. Um 'dia branco' de SP viraria minha melhor declaração de amor. O meu carnaval se resumiria a um 'pano de confetes' (que tem complexa interpretação). Uma briga seria representada pela 'porta entreaberta'. E, claro, minha casa teria astros pelo chão, que eu pisaria sem notar. Simples assim. Distraidamente.

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