quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Chove lá fora e aqui...

Aí, você decide que vai ter uma vida mais alienada. Decide que não quer mais saber o número de mortos nas enchentes e deslizamentos, nem a quantidade de gente soterrada por toda a lama. Você decide que é melhor ignorar e viver sua vidinha medíocre, em cima de seu prédio bem construído, no alto da maior cidade do Brasil.
Quando a chuva começa, lá em cima, na sua varanda, você olha e faz uma breve prece para que Deus não desista daquelas pessoas. Você desistiu por ser covarde demais e impotente demais para resolver qualquer situação. Mas Deus não. Ele pode. Então, você pede toda a atenção dele e volta ao trabalho como se o barulho da chuva (ou temporal) o ajudasse na concentração.
Aí, como de hábito, você abre o jornal da manhã (pela internet) e a primeira foto é o que a chuva do dia anterior causou. Quantas crianças estão precisando de novos pais, nova vida, nova perspectiva. Lê sobre um cachorro que se foi levado pela água e pensa: a natureza vai mesmo vencer, quando as pessoas vão descobrir isso?
Todas as crianças podiam estar aqui, comigo. De verdade, eu adotaria cada uma. Não sei como sobreviveria, como a gente comeria, mas daríamos um jeito, tenho certeza. O amor faz brotar... até comida e dinheiro brotam. Mas na realidade sabemos que nada disso vai acontecer até que você faça. Reaja. Aja. E como é difícil... Você separa sacolas para doação, se preocupa, envia e... o que mais?
Avatares de uma vida contrária. Eles invadiram um espaço destinado ao verde, aos morros, a uma outra vida. Eles entraram e a natureza os tirou. Nesse momento discutimos a atuação política, o crescimento de um país que, mesmo sem nenhuma estrutura, vai sediar a copa do Mundo, as Olimpíadas (outro papo, mesmo problema). Que não chova muito até lá!
O país chora lá fora... Chove lá fora... e eu continuo aqui dentro, completamente chocada, com calor e sem a menor atitude. Triste.

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