segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Tostines

Quando eu era criança não pensei em chegar aos 33. Não que achasse que estaria morta, não é isso. Só não pensei nessa idade. Achava os 30 tão longe de mim. Sempre cheguei até os 22 anos. Só até os 22. Engraçado.
Era com 22 que eu me casaria. Com 22 teria filhos. Com 22 teria um homem para chamar de meu por toda a vida. Com 22 teria uma carreira definida.
Errei feio. Com 22 eu não sabia nada. Namorava alguém com quem tinha certeza que não me casaria. Não pensava em filhos (e morria de medo deles). Não conhecia o tal moço encantado. E a carreira só se firmou depois dos 30 – e ainda busco o mundo ideal. Claro.
A gente não sabe nada. Nunca. Mas temos a imbecil mania de acreditar que sabemos tanto... Quando vemos, nada! Seguimos na vida não sabendo. E tenho a nítida impressão de que chegaremos aos 60, 70, 80 sem saber. Claro que erraremos um pouco menos (espero), mas também, ousaremos bem menos, não? Logo, a equação é mais simples.
Par perfeito, filhos, carreira? Tudo isso faz parte do núcleo de perguntas tipo Tostines (sim, a bolacha). Quando estamos satisfeitos, acreditamos que ainda merecemos mais. Quando estamos insatisfeitos, queremos mudar tudo e nos complicamos. Quando cansados, queremos férias. Quando sem trabalho, queremos trabalhar. Quando em dúvida, terminamos. Quando certos estamos, duvidamos. Um ciclo sem fim.
A menina que fui, não sabia o que desejar. Aquela menina acreditava que o mundo era mais cor de rosa do que é. E aos 33, a menina (que não é mais menina) é mais cética do que deveria e ao mesmo tempo uma das mais românticas que conheço. Talvez por isso duvide tanto, queira tanto e pense tanto.
Sempre me lembro do escritor Richard Bach escrevendo uma carta para si mesmo aos 10 anos de idade dizendo: “Lembra do que você queria? Então, não deu certo!”. Talvez seja isso. Acertar nas escolhas da vida pode não ser fácil, mas lembrando de que não vamos entender (nunca) o que a vida quer nos mostrar... Melhor tentar e encarar, sem se arrepender.

2 comentários:

Elisa Gigli disse...

Ju, o seu texto me remeteu à História de convivência que escrevi sobre o Laboratório de Leitura do "O sonho de um homem ridículo" de Dostoiévski, que coloco abaixo pra você. Posto isso, vamos ousar cada vez mais. Se vamos errar? Não sei, mas vamos prosseguir e prosseguir e prosseguir.....

"A perda da inocência me causou muita dor e me trouxe muita melancolia, me tornando passiva e sem qualquer esperança.
O amor ao próximo faz com que eu me coloque no lugar do outro, o que me transforma de passiva para ativa. E se cada um de nós amar ao seu próximo e se colocar no seu lugar, pode fazer a diferença; nem que seja para apenas um deles."

Ju Rodrigues disse...

Elisa Maria! Tem toda a razão!
Tentando mais podemos errar mais, mas também acertar muito mais! Acho que é aí que está a grande diferença! Sem medo! :)
Adorei seu texto! Aliás, quero ler os próximos hein?
bei Ju