Estamos acostumados ao “happy ending”, mesmo sem vive-los (exatamente). É inato ao ser humano. Não conseguimos (nem queremos) nos conformar com um final sem sentido, em aberto, uma coisa meio de lado, meio filme do David Lynch. A gente simplesmente não sabe conviver com isso. Aí, buscamos o final certo, mesmo que mais trágico (mas sempre mais feliz, revelador, surpreendente).
No cinema, nos livros, a gente até aceita um fim sem explicação. Julgamos esse tipo de arte pela capacidade de nos encantar, de nos apaixonar pela personagem, pela vida cruel, pelo sentido triste de uma rotina sem muito valor. Mas, na nossa vida, na vida real, queremos o água com açúcar. Quanto mais cor-de-rosa melhor, claro.
Por isso, esperamos o que não se deve esperar. Uma ligação, um contato, uma história sem sofrimento, mais amor, mais carinho, atenção, presentes, jantares, passeios, festas, conversa fiada, sorrisos, abraços, lágrimas de felicidade e por aí vai... Quando o fim se aproxima, achamos injusto, e passamos a culpar o outro, dizemos que é karma e sobra até para Deus (o coitado, sempre leva a culpa). Afinal, fiz tudo tão certinho, por que não deu certo?
Custamos a aceitar (e custamos mesmo) que nem tudo é para dar certo. Tem coisas que simplesmente não devem dar certo. Que não eram para acontecer, que não deveriam nem ter começado, que todos os sinais apontavam para um fim, mas você não viu (porque não quis). Aí, só vai perceber que aquilo era o melhor quando o tempo passar. Quando aquela sensação de uma vida injusta ficar distante e você reparar que era tão claro... Como não percebeu? O fim estava ali, na sua cara, desde o início.
Vida injusta. Ingrata. Faz a gente aprender da pior maneira. A gente sofre e passa meses (ou anos) em busca de uma razão, uma explicação para tal sofrimento. E só depois de tudo isso é que vemos que não há razão. É apenas nosso desejo pelo final feliz. Aquela sensação que até quem não gosta tem em filmes bobos, conhece e quer viver. Aquela coisa de contos de fadas. Aquela ilusão do “felizes para sempre” – mesmo que (no fundo) a gente saiba que o pra sempre, às vezes, acaba.
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