terça-feira, 19 de abril de 2011

O dito pelo não dito

Hoje minhas plantas falaram. Estava deitada e ouvi alguém chamando, gritando meu nome. Uma voz muito fina, muito animada. Levantei preocupada. Corri pela (pequena) casa e nada vi.
Abri as cortinas e lá estavam elas. Olhando para mim naquele verde novinho em folha que só Vinícius saberia descrever. Mas aqui, com folhas, galhos e flores.
Amanhecia e ali estavam elas - guiadas por uma mente insana e totalmente desprovida de psicotrópicos. Elas se balançavam com o vento e me diziam coisas que Freud ficaria chocado.
Decifraram meus pensamentos e angústias, cantaram as músicas que eu precisava ouvir, descreveram aquilo com que eu sonhava, meus desejos mais profundos.
Elas sabiam tudo. Tudo que nunca verbalizei. Tudo que sempre pensei em dizer. Todo o pessimismo que não ouso publicar, todo o otimismo que nenhuma Pollyana poderia alcançar. Falaram de assuntos proibidos, apontaram as minhas vergonhas, me acusaram de atitudes que não tive, elogiaram aquelas que ousei e me arrisquei sem pensar (“tentar é válido”, gritou a mais inflamada).
Me fizeram chorar, me fizeram rir. Me encantaram. Me desencantaram. Passaram a falar sobre o trabalho, os erros, os acertos. Depois falaram de amor, com todas as minhas escolhas mal feitas, as coisas não ditas e aquelas "mal ditas". Apontaram atrasos, mostraram belos e corajosos passos. Provaram (ou tentaram) que ainda há tempo para tudo.
Minhas plantas falaram hoje. Elas sabem o que penso, mas não têm a menor ideia do que é pensar. Sabem apontar enganos, mas não sabem como é viver. Conhecem os meus medos, mas não sabem como é tê-los. Sabem como é o sorriso, mas não conseguem sorrir. Vêem as lágrimas, mas são incapazes de chorar.
Minhas plantas falam, mas não sabem como é difícil dizer.

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