segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Atraso

Meu relógio acaba de despertar. Olho para a cabeceira da cama e vejo números trocados. O relógio marca 26h86. Que hora é essa? Coloco os óculos, tento apertar o snooze, mas a música não para e vai ficando mais alta a cada segundo que passa.
Levanto e está escuro. Mais escuro que o normal. Arranco o relógio da tomada e ele não apaga. Ainda marca uma hora louca. A música está ensurdecedora. Procuro pelo celular, mas tem pouca luz. É estranho porque não durmo com todas as luzes apagadas. Sempre há alguma... mas agora, nada. Só breu.
Me desespero. Corro para a janela, abro e nada. Tudo escuro. A cidade não existe. Está vazia, sem lua, sem estrela, sem nada. As ruas parecem antigas vielas de terra, mas estão como um mar de piche. Nada se vê. Um blecaute desesperador. E a música não para. É frenética e quase intolerável.
O mundo acabou e eu sobrevivi? Busco o celular tateando pela mesa da sala. Encontro. Ainda há luz nele – iluminando o ambiente. Mas o relógio do satélite da operadora também está louco: marca agora 26h96. Que droga é essa?
Olho a minha casa através da luz do celular. Tudo estranhamente igual. Nada funciona. Nenhum interruptor acende. Busco as velas e começo a acender tudo. Vou para a janela e nada. Ninguém. Não se ouve nenhum ruído da noite. Nenhum cachorro late, nenhuma música toca ao fundo (além da minha), não tem burburinho, nada... que horas são agora?
Tento telefonar, mas não tem linha. Tento no celular, mas a ligação falha. Estou sozinha, no escuro, rodeada por velas e querendo ver o amanhecer. Espero, espero... torço, torço... rezo, rezo... e ele não vem. Agora o relógio (que não está ligado na parede) marca 28h38. Nada aconteceu. Ninguém se levantou. Nem o sol, nem o ruído, nem o calor, nem o frio (o tempo está de um jeito especialmente morno). Nada.
De repente penso que tudo isso por ser sonho. Pesadelo, nesse caso. Volto pra cama, fecho o olho e tento voltar pro sono. Tento voltar para a vida e encontrar a razão de tudo isso. Enquanto penso, me perco, me embaralho e, enfim, durmo.
O relógio desperta. Olho para ele e vejo o óbvio: estou atrasada. Muito atrasada.

Nenhum comentário: