terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O estar e não estar de Saramago

Com 60 anos ele decidiu escrever. Deu certo. Com 63 ele conheceu a mulher da sua vida. Deu certo. Aos 86 estava cansado, mas continuou produzindo. Sua cabeça não morreu, seus livros eternizaram sua inteligência e seu amor o fez morrer jovem. Muito jovem.
Se a morte para ele era o estado de “estar e já não estar”, enquanto “estava” aproveitou. Viveu, escreveu, brincou e amou muito. Amou uma mulher forte, uma espanhola que organizava sua vida e que tardou em chegar (como ele mesmo escreveu). Uma mulher e tanto. Um pilar na vida do escritor. Pilar, Pilar...
Com frases cheias de humor e o coração cheio de amor, Saramago viajou o mundo autografando, falando e fingindo ser inteligente (segundo ele próprio, numa humildade desnecessária). Sua fé (que nunca existiu), se coloca um pouco em dúvida já no fim da vida (talvez por medo, talvez por esperança) e avisa o óbvio: “o que tiver de ser, será” e “quem quiser, crê. Acabou-se”.
A velhice nunca chegou até ele, mas alcançou seu corpo. Descrevia que ser velho é “sentir a perda irreparável que é o acabar de cada dia”. Assim como garantia que o universo nunca se dará conta de que nós existimos, pois “nunca conseguimos fazer da vida mais do que o pouco que ela é”.
Assistir ao filme José e Pilar me fez louvar não somente o brilhantismo de Saramago, mas ver também o quanto o amor é mesmo poderoso. Tão significativo que não precisa da fé. Simplesmente porque a fé já está dentro dele. Vem junto no pacote completo do amor.
Se José esteve e já não está, seu amor continua por Pilar e nos faz querer viver alguma coisa parecida. Sem pensar em idade... só em felicidade.

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