sexta-feira, 13 de maio de 2011

Vibrador pessoal

Ela sabia que precisava terminar com aquilo. Era uma coisa autodestrutiva. Uma relação sem nenhum futuro, nenhuma perspectiva e raros prazeres. A carência a fazia continuar. Triste carência.
Reclamando da vida e de suas constantes necessidades de colo, um amigo lhe disse: “Não se preocupe. Todos somos carentes em menor ou maior grau”. Ele tinha razão. A carência nos consome as vezes, e faz com que tenhamos pouquíssima vontade de resolver pequenos problemas. Ok, um dia resolverei, pensou.
Naquela mesma noite tinha combinado um cinema com ele. O homem com quem namorava há uns meses. O mesmo que não a deixava tão feliz, mas a ouvia, andava de mãos dadas e tinha conversas exageradamente francas. Tão francas que ela já chegou a sair do restaurante algumas vezes, depois de jogar o vinho na cara do cretino. Cena clássica e bem clichê, mas tremendamente revigorante após uma discussão sobre verdades da vida (ele sempre contra as dela, claro).
Além disso, ele tinha uma mania irritante de tentar interpretar tudo o que ela falava. Se contava uma nova ideia, ele dizia que aquilo deveria vir da sua infância. Se escrevia um novo texto, ele queria discutir sobre o psicológico de cada personagem, relacionando com a vida dela. Era muito chato.
O sexo também não era nada daquilo. Sempre a mesma coisa. Nenhuma novidade. No início ela achava que havia um certo esforço da parte dele, então seguiu acreditando que um dia melhoraria. Mas não. Do esforço ao mesmo. Do mesmo, ao egoísmo. Do egoísmo, à carência (dela, claro). Enfim, depois do cinema, uma mesa de bar e a sinceridade de sempre. Ela com a cabeça na cena mais picante do filme e ele com as interpretações sobre o papel da atriz ser raso demais, sem nuances intelectuais, sem nenhuma dramaticidade. Verdadeiramente cansada daquele blablablá sem fim, ela disse: “Não quero mais ficar com você”. Ele (chocado): “Por quê? Você gostou tanto assim da atriz?” Ela: “Não, mas eu não gozo na vida e tudo o que penso é que eu queria ter algumas daquelas cenas ‘rasas‘ para me encher de mais emoção”. Ele: “Você não pode estar falando sério”. Ela: “Estou. Quero alguém que se preocupe em me fazer gozar disso tudo. Alguém que me ame, goste das minhas ideias e das minhas verdades”. Ele (levantando): “Cada um com seus problemas. Tudo o que eu gostaria era um pouco mais de intelectualidade e um pouco menos de carência”.
Sozinha em casa, finalmente não se sentiu carente. Sentada na sua sala, com uma taça de vinho, percebeu que carência não é estar só, mas aguentar alguém só para não enfrentar o óbvio: a vida. Naquele dia dormiu sorrindo depois de gozar (sim!) por algumas horas de sua própria companhia.

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