terça-feira, 24 de maio de 2011

Amante ou cinema?

Depois de anos e anos de casamento podia dizer que o conhecia com ninguém. Sabia o quanto já foi amada e tinha certeza de que o destino não tinha errado. Quando se lembrava do ano em que decidiram se unir e todas as dúvidas que tiveram de encarar... Hoje, tudo não passa de bobagem.
Depois de tanto tempo muito daquele amor foi pelo ralo, é verdade. Muito desamor acabou entrando pela porta, pelas janelas... Mas nunca perderam o respeito, o carinho, a conversa. Eram fases. Algumas mais difíceis e longas, outras mais simples e rápidas. Entre idas e vindas do amor, sabiam que não encontrariam melhores pessoas para conviver. Assim, mantinham aquela amizade tranquila, com algum (agora pouco) flash de tesão, mas uma admiração mútua.
Ela não poderia dizer que foi feliz o tempo todo, mas tampouco diria que foi triste. Teve seus momentos. E, fazendo as contas, a maioria deles foi bem alegre. Porém, sabia que nas crises ele não ia mais para o bar. Ele buscava outras camas, outras mulheres, outras amantes. A primeira vez que descobriu foi difícil, mas nada falou. Calada, queria ver até onde ia. Não foi longe. Descobriu que seu marido precisava daquilo para fazer com que o casamento deles voltasse a ter brilho (ao menos algum). E ao término de relação fora da nossa curva, tudo realmente brilhava mais. Ela decidiu, então, que poderia conviver com isso.
Um dia, um homem do trabalho a descobriu. Telefonemas escondidos, mensagens no celular, emails calientes e... só. Tudo isso, já foi o suficiente para levantar seu ego do jeito que precisava. Não queria mais do que aquilo. Não apenas porque ainda amava o seu infiel marido, mas porque daria muito trabalho. Ter amante dá trabalho. Encontros escondidos, horários estranhos, mentiras, motéis... Não. Era melhor ser apenas virtual. Até porque, para ser amante de alguém, se firma um compromisso, ganha-se um status, um novo relacionamento, exige-se empenho.. é uma quase-profissão. Não estava disposta a isso.
Assim, nos horários em que seu marido beijava a nova saia, ela se lembrava da frase da escritora Isabel Allende e também preferia o cinema aos amantes. Passava suas horas de solidão no teatro, na mesa do bar com os amigos, caminhando na praia, no parque, lendo livros... Era melhor selar outro tipo de compromisso, a ter de perder o melhor do seu tempo tentando agradar alguém - que não fosse ela própria.

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