segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Entre asas e tijolos

Sempre admirei pessoas com foco. Dessas que sabem exatamente o que querem, como, quando... sem se preocupar com o “onde” ou o “porquê”. Gente que simplesmente sabe o que busca, sem mudar de ideia pelo caminho.
Ela sempre foi assim – pelo menos quando se tratava de amor. Podia pensar em mudar de emprego, mudou até de cidade quando acreditou que daria certo. Não tinha problema, desde que o amor falasse mais alto.
Se alguém dissesse que seu príncipe lhe esperava em Paris, ela parcelaria as passagens e embarcava, cheia de coragem e esperança. Linda inocência, livre de qualquer ceticismo.
Já havia tentado a felicidade no casamento uma vez. Não era o que buscava. Definitivamente. Mudou de cidade por ele, e (ironicamente) encontrou sua casa. Mas, depois de um tempo, abandonou aquele primeiro apartamento, mudou de andar e se apaixonou por outro.
Como nem sempre acertamos na vida, ela errou novamente. Tentando se recuperar, adoeceu, emagreceu a gordura que não tinha... e se levantou do poço cheia de esperança. Mais uma vez.
Outros entraram no seu closet para experimentar a tal roupa de príncipe - há anos separada no armário. Ela duvidava, mas encarava, esperava. Por fim, o branco não caiu bem o suficiente em nenhum dos pretendentes.
Um dia, no trabalho, viu desenhos de pássaros, ouviu Miles Davis e Chico Buarque. Achou bom demais para ser verdade. E realmente era. Ele era casado. Decepcionada, viu que não seria assim tão fácil.
Decidiu se manter muda. Não contou suas conversas para quase ninguém. Manteve apenas alguns pequenos comentários distraídos e quase sem importância. Nenhum dos seus amigos sabia o que se passava ali dentro. Um coração que buscava uma estrada, com final conhecido e amarelo - e que lindo amarelo!
Um dia, assim sem mais, recebeu uma ligação. O pássaro enfim poderia voar, e queria um único ninho: o dela. Não acreditou. Voou (como assim deveria ser) para casa e abriu a porta para o moço com asas, que de lá nunca mais saiu.
Agora, eles enfim encontraram os tijolos certos para construir uma casa cheia de felicidade, cumplicidade e, claro, muito amor.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que lindo!Me emocionei não só com a delicadeza q teve na combinação das palavras, mas principalmente por saber q é verdade!
=´)