quarta-feira, 4 de junho de 2008

Borboletas no jardim

Era um fim de tarde de sol. As borboletas visitavam seu jardim – mais ou menos como Mário Quintana recomendava. Eu olhava aquilo e sentia o calor quente no rosto, nas mãos... e a claridade atrapalhando um pouco a visão.
Sem chapéu e com um sorriso no rosto ela cantava com sua voz fina, enquanto apontava a mangueira para os verdes mais altos do seu quadrado bem cuidado.
Eu olhava admirada, enquanto meu irmão brincava na bicicleta ao lado. Admirava uma mulher feliz, bem humorada, que cantava Asa Branca como nunca mais ouvi... até porque, apesar da beleza do cenário, sua voz desafinada nada parecia com a tonalidade certa indicada por João Gilberto.
Mesmo passando por tanta coisa, tanto sofrimento, ela continua a regar suas plantas, cantar e conversar com elas. Nesse momento, eu era figurante, mas sabia que depois daquele ritual seu olhar se dedicaria as duas crianças que brincavam ao seu lado e nós a ajudaríamos a fazer o bolo da tarde – se estivesse chovendo, faríamos bolinhos de chuva (sem chuva, tinha bolo).
Assim a infância passou. Junto com ela, levou essa mulher das flores. Dos bolos. Das conversas. Das risadas. Hoje, ela me olha da foto que mantenho em cima da TV.
Dias como esses ficam na minha memória como aquela substância que precisamos quando tudo está mal... Que nos fazem ver que a vida é muito mais do que trabalho e dinheiro. A vida só é mesmo boa quando conseguimos que as borboletas venham até o nosso jardim.

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