quinta-feira, 1 de julho de 2010

Idioma particular

A gente acha que já viu tudo. Adultos, mesmo sabendo que nada sabemos (grande realidade), acreditamos que nunca seremos surpreendidos. Bobagem.
Meus últimos 20 dias duraram meses. Meses intensos, quase sem dormir, com a mala roubada (e depois sumida), comendo arroz (muito arroz), bebendo rum, cerveja e, principalmente, enchendo a cabeça de cultura. Muita cultura.
Cultura internacional. Teorias cheias de fundamento para escrever personagens, encontrando palavras e perfis. Todas elas no idioma de pessoas, primeiramente, estranhas, para depois se tornarem amigos queridos.
No início era como uma pessoa saída de um coma, ou mesmo de um derrame. Tudo entendia, nada falava. Brasileiros locais aconselhavam: “hablas” como for. Brasileiros íntimos escreviam: fala! Falei. E falei com o coração aberto. Como pessoas especiais (que são) me compreenderam. Me ajudaram e rimos muito juntos.
Aulas intensas e especiais, festa infindas, bebidas fortes, conversas ricas. Tudo aconteceu em tão pouco tempo. Tudo aconteceu por muito tempo.
Café da manhã junto, almoço junto, jantar junto, bailar junto. O “junto” passou a ser uma palavra nossa e de mais ninguém. A comunicação venceu qualquer dificuldade de idioma. A música nos uniu. A informação nos salvou e a criatividade se expandiu. Estávamos ali... todos munidos de cumplicidade e humildade. Por isso, deu certo. Por isso, nos surpreendemos.
Acabou. Os dias intensos e sem sono teriam mesmo um fim. Sabíamos disso, mas por algum tempo achávamos que nunca acabaria. Mentimos para nós mesmos (de alguma forma).
Muito se perdeu. O dia a dia acabou. Mas sabemos que nosso idioma particular não. Nossas risadas ainda estão no ar, ainda posso ouvir. Nossos sonhos e tristezas divididas ainda ecoam por aí. E isso não acaba. Nunca. Pode ser aqui, em Cuba, no Chile, na Espanha, Colômbia, México, Costa Rica, Argentina, Austrália, Rússia até... Em qualquer lugar vamos a seguir hablando. Siempre.

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