segunda-feira, 26 de julho de 2010

Contos de Fadas

A Reconstrução
Parte 1 - A Bela Adormecida


A bela adormeceu. Furou o dedo em uma agulha e dormiu profundamente. A praga diria que dormiria por cem longos anos. Mas, graças a um príncipe lindo e valente, ela acordou ainda mais linda e formosa.
A história é conhecida e completamente fora da realidade (claro, é um conto de fadas). Mas, se a gente parar para analisar, nada foi completamente explicado e, por isso, podemos pensar em problemas de verdade. Ninguém sabe, por exemplo, quem era o príncipe. Qual era seu reino? Qual era sua capacidade mental? Ninguém sabe seu sobrenome tampouco. Se gosta da família, se tem amigos, casa própria. Mas, o seu beijo foi o suficiente para acordar e encantar a moça.
Os contos de fadas fazem isso o tempo todo (eu os culpo pela total falta de noção feminina). Em todos eles é preciso uma representação masculina para salvar a mocinha do sofrimento. Sempre. O que está por trás de cada história, nunca ninguém soube (e nem saberá). Mas pode ser sugerido...
Já pensaram se o tal príncipe encantado não aparecesse nunca? A bela continuaria em sono profundo para todo o sempre? Ou acordaria cem anos depois com uma olheira horrível e os membros atrofiados? Estaria em seu castelo sem ninguém. Seus empregados estariam também sonolentos e com problemas de articulação. Nenhum homem a sua volta. Nada. O que faria a pobre adormecida? (nesse momento, já acordada)
Provavelmente o que todas nós fazemos no mundo real (e sem nenhum castelo): teria de correr atrás de trabalho, cuidar do jardim, aprender a plantar. Saber que precisa se exercitar para manter a boa forma, se alimentar bem, pagar contas... e, claro, tentar frequentar bailes, festas e encontros para achar um príncipe bacana.
Inexperiente, a Bela vai encontrar todos os tipos: os babacas, os pouco inteligentes, os metidos a inteligentes, aqueles que não gostam de trabalhar, os que têm sotaque, os que trabalham demais, os que têm mães presentes demais, outros de menos e, claro, os traumatizados.
Ela vai enfrentar tudo isso vestindo um lindo e esvoaçante vestido, sempre com um sorriso bondoso no rosto. Mas, na frente do seu espelho, sozinha no quarto que passou tanto tempo dormindo, admitiria que o sono profundo não era tão ruim assim.

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