sábado, 8 de maio de 2010

Um carioca santista

O mundo que a gente vê perdeu uma grande figura. O mundo que a gente não vê ganhou um homem e tanto. Carioca marrento (como todos) e santista fanático (como nenhum outro). No Rio, jurava ser Botafogo, mas seu coração sempre teve o único peixe alvinegro.
Quando o filho quase virou flamenguista, correu para a igreja com o menino. Não rezou. Resolveu contar a “famosa” (e inédita) história do pessoal rubro-negro. Foram eles que levaram Jesus para a cruz, sabia? “Não dá pra confiar”, dizia.
A batida de amendoim do boteco fuleiro era o combustível para o bom de papo. Um homem sério. Militar, esteve em muitos lugares, mas era em Santos que se sentia em casa, mesmo sem escola de samba. Mangueira de coração, só abandonava a paixão quando falava de Parintins. Lá, era Caprichoso (ou seria Garantido?).
Era um homem de torcida. De bebida. De cigarro. Um militar que duvidava da eficiência da tortura (“muita gente não aprendeu nada”, dizia entre outras coisas), duvidava das pessoas (até que as conhecesse bem) e de que mulheres sabiam o que estavam fazendo (coisa rara).
Fazia cena. Fazia pose. Tirava casquinha do melhor amigo espanhol - só para mostrar o quanto o amava. Era durão, mas não era de briga – só se pedissem. Era um grande cara.
Ele se foi. De repente. Sem aviso ou despedida. Faz sentido. Não era homem de lágrimas ou de adeus. Tinha seu jeito. Seu amor vinha de outra maneira.
Partiu e nos garantiu uma das piores sextas-feiras do ano. Foi tão sorrateiro que, mesmo sem estar mais presente, promoveu conversas impensadas, com respostas tardias. O carioca mais santista que existiu, abandonou a cena e foi pedir amendoim em outro balcão. Deixou o carnaval passar, abandonou a cerveja no copo e o grito de campeão entalado no peito, para assistir o jogo de outro ângulo.
A gente não vê mais. Mas, no fundo, torceremos em silêncio para que a câmera da TV o encontre meio da torcida, gritando pelo Santos - só para matar nossa saudade.

Um comentário:

Anônimo disse...

Esse "filho da puta" era CAPRICHOSO. E foi assim que tratou de suas amizades: com um capricho garantido.
Estou grato à você por ele.
Já choramos nossas lágrimas juntos, agora, é sorrir de nossas lembranças.

VALEU, JU!