terça-feira, 11 de maio de 2010

Caminho de lembranças

De repente a gente esquece. Esquece que foi infeliz. Esquece que não foi bom, que não gostou, que chorou, que doeu, que sentiu. A gente esquece também do que fez bem, do que era bom, da química, da conversa mole, da séria, da risada, do som, da voz.
O tempo passa e a gente simplesmente vê que a vida também passou. Você fez outro aniversário, ficou mais velho e, ironicamente, seu rosto no espelho continua o mesmo. Nenhuma ruga a mais, nenhum sinal de alteração que já não existisse (ou será novo?).
As vezes você tem a impressão de que as pessoas se lembram mais do seu passado do que você próprio, definitivamente. Sabem com quem você estava, qual roupa usava, sobre o que falava. E você se pergunta se esteve mesmo ali e quando, exatamente, foi que aconteceu.
Por outro lado, sabe que, se decidir sentar de frente ao mar, vai lembrar. Em detalhes, tudo virá na sua direção como se tivesse ocorrido no dia anterior. Coisas que só você saberia (mas não ousaria) contar. Um ano, dois, oito, vinte... todas as lembranças espaçadas. Estão lá. Das melhores até as mais doloridas. Por isso, de frente às ondas, você nunca pára. Apenas caminha (por pura segurança).
Toda a ternura, o carinho, as palavras mal e bem ditas. O sofrimento da perda, a sensação do início, a esperança de um recomeço. Algo novo. Sem histórias tristes, sem conversas furadas, sem blábláblá.
A honestidade do princípio é sempre duvidosa. Tudo é lindo, para depois ganhar um ar sombrio. Tão complicado de confiar. Sabe que a entrega é fatal. Te mata e te faz renascer (tudo ao mesmo tempo). O que era um sonho, se transforma em realidade e se mostra. Cruel. Feliz. Arrogante. Terno. Quente. Burro. Eterno (quem sabe?).
A razão te traz de volta. Notícias ruins e conversas desejadas te apontam (novamente) histórias esquecidas. O fim não parece ter o mesmo significado, e nem é mais tão real.
Sem explicação, você decide, finalmente, olhar para o mar. Encara, pondera, lembra... e surpreende-se ao perceber que foi (até) mais simples do que imaginava.

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