sexta-feira, 14 de novembro de 2008

As voltas do mundo moderno

Amanhã faz aniversário um dos homens que mais amo na vida. Um dos significados da minha tatuagem. Um homem que admiro, defendo e critico as vezes (mas apenas eu posso! Que fique claro!). O melhor amigo que tenho e que ficará na minha vida (e no meu corpo) para sempre (e disso não tenho a menor dúvida).
Para homenageá-lo, decidi publicar um de seus contos:
As voltas do Mundo Moderno - Por Bruno Julião

Com os olhos cheios de lágrimas – uma mescla de alegria e pânico – ele diz a ela:
- Precisamos falar sério. Tenho que te contar uma coisa.
- Pode falar. – ela se mostra indiferente e impaciente.
- Olha, não quero te pressionar nem nada, isso não foi uma decisão, mas quero saber se estamos nessa juntos?
- Juntos aonde? Fala de uma vez.
- Você está grávida.
- Que?!? Como?!?
- Sério. Fica calma. Você está grávida mesmo.
- Como você sabe ao certo?
- Ah, homens sabem essas coisas. E isso não vem ao caso agora. Você está grávida e precisamos pensar nisso juntos, não acha? – sua expressão deixa bem claro que teme a resposta.
- Mas espera um pouco. Não fomos até o fim. Como isso pôde acontecer? Você tem certeza? Assim... De tudo?
- Tudo o que? O que você está querendo dizer com isso? Acha que o filho não é meu? É isso?
- Não. É. Talvez. Olha, não sei. Primeiro essa história de gravidez... Muito estranha. Acho que é melhor esperarmos um pouco. E também, agora o momento é muito ruim pra mim. Tenho trabalhado até tarde, estou pleiteando um período na Europa pela empresa e, se isso não rolar, estava pensando em uma pós-graduação. E sejamos sinceros, tem mais que isso, vai? Nos conhecemos há muito pouco tempo. Saímos umas duas, três vezes...
- Três. – ele interrompeu – Você não está nem ai pra mim, não é? – o choro já começava a desabrochar em seu rosto.
- Não é isso. Mas não nos conhecemos direito. Não tenho certeza que, se realmente eu estiver grávida, o filho seja seu. Não temos nada em comum. Você sabe que filho poderia estragar uma carreira de sucesso? Isso já aconteceu com algumas amigas minhas. Vamos esperar ter a certeza, talvez até um exame de DNA. Num é melhor?
- Por acaso você está achando que tenho cara de idiota? Esse papo de “não tenho certeza que estou grávida” – ele tenta imitá-la afinando a voz – E você me ofende falando assim. Você sai dessa como a gostosona e eu como o otário da situação, é isso? O Corno que tem um filho sem mãe?
- Não, não foi isso que quis dizer. Desculpe-me. Mas é que a situação é complicada. Tudo bem, suponhamos que eu esteja de fato grávida e o filho seja seu, o que faríamos daqui pra frente? Como sustentaríamos a criança? Você sabe que teria de largar emprego, pelo menos por meio ano, pra poder cuidar da criança? Já pensou nisso? E a faculdade então? Não teria como acabá-la tão cedo. São motivos relevantes pra repensarmos isso, não?
- O que você está sugerindo então? Abortar? É a isso que você esta tentando me induzir? Aborto?! – agora ele falava com raiva.
- Calma, são só idéias. Temos de pensar em todas as nossas alternativas. Você já contou pra alguém?
- Não. Estou com medo de contar aos meus pais. Eles vão ficar muito decepcionados ao saber que seu filho, que nem é casado, vai ser pai. Vai ser a morte para o meu pai. Por isso falei com você primeiro. Se decidíssemos ficar juntos, e contar juntos pra eles, acho que amenizaria a situação um pouco.
- Você ta louco? Ficar juntos? No que você ta pensando? Casar? Namorar? Desculpe mas, quem é você, menino?
- Espera. Calma. Não me trata assim. Eu não estava pensando em casamento ainda. Só achei que se nos conhecêssemos melhor poderíamos ficar bem, se gostando. Calma, não fala assim comigo. – ele já estava desesperado.
- Olha, eu vou pra casa pensar. Tenho de falar com meu pai sobre isso. Não sei. Eu te ligo mais tarde pra discutirmos isso. Não posso tomar decisão nenhuma agora. Meu pai é advogado e ele saberá o que fazer.
- Que horas você vai me ligar?
- Não sei. Eu ligo.
Naquela noite ele não dormiu. Ficou com o telefone na mão, abrindo-o de hora em hora para saber se havia bateria e sinal.
Quando eram perto das seis da manhã, seu celular recebeu uma mensagem dela dizendo: “saia ao portão agora”.
Ainda de pijamas e chinelos, ele saiu ao portão tentando, inutilmente, esconder as olheiras e as ressecadas lágrimas não lavadas em seu rosto.
Ela estava com a mesma roupa do dia anterior e, ele logo percebeu, embriagada. Estava na cara que ela não havia ido pra casa falar com o pai nem nada.
Atrás dela, estacionado do outro lado da rua, o carro dela ainda estava ligado e ele podia perceber que as suas amigas estavam dentro. De certo haviam saído para beber e falar de outros homens, buscando esquecer ele – seu problema.
Dócil, ele abriu o portão, titubeou em beijá-la e falou:
- Bom dia. Quer entrar pra conversar?
Ela, sem abrir a boca, sacou da parte de trás da sua calça jeans uma faca, rasgou violentamente sua barriga, e correu de volta ao carro.
Ele, caído de joelhos e já desfalecendo, apenas teve tempo de dizer:
- Eu crio sozinho... Juro. – estava morto.

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