Nove meses. Uma gestação. Minha avó dizia que tudo passa (ou se resolve) em nove meses. Nenhum problema se perpetua mais do que isso, ela afirmava. Adoraria que estivesse certa, mas creio que não é verdadeiro (pelo menos, não de todo). Porém é uma boa teoria (mesmo que simplória).
A gente se desenvolve na barriga de nossas mães por nove meses. Nesse tempo ganhamos braços e pernas; cérebro e fígado; coração e sensações. Em 40 semanas, assim como um problema vivenciado, não estamos preparados para ouvir, ver ou encontrar nenhum caminho que não seja um canto escuro e seguro. Sentimos isso até sermos obrigados a nascer. Aí, temos de encarar coisas muito piores como dores de barriga, fome, músicas e pessoas estranhas (definitivamente estranhas).
Acredito que minha avó falava para a gente pensar que nada é tão diferente e renovador do que uma gestação: se conseguimos sobreviver a isso, qualquer coisa é mais fácil. E, talvez seja mesmo verdade.
Analisemos: imaginem a sensação de um órgão (seu) sendo desenvolvido dentro da barriga de uma mulher (que você chamará de mãe). Você era praticamente nada. Um embrião sem graça e sem rosto que conseguiu chegar lá – apesar de não fazer ideia do que isso representaria. A partir daí, sua vida se transformou. E você passou a ter e receber coisas a partir de uma alimentação nojenta que passava por um cano. Tudo muito estranho.
Agora levemos a mesma teoria para um problema, um sofrimento, uma dor. Em nove meses você está habituado a ele. Como um peso nos seus ombros que você nem lembra que carrega. Você o leva aonde vai. Quando está sozinho e olha no espelho consegue vê-lo. Lembra que no início chorava, no fim não aguenta mais. Está tudo pesado demais para seguir com você assim... para o resto da vida. Você olha o seu reflexo e pensa que já não combina com você. Nenhuma roupa cai bem quando há um problema, ninguém é bom o suficiente quando você está dividido em dois (e ele não aceita ménage), aquela coisa incomoda para dormir, nenhuma posição ajuda...
Passadas as 40 semanas, o bebê nasce e é lindo (porque eles sempre são lindos). O seu problema não nasce. Você simplesmente pode cansar e o derrubar em qualquer lugar. Dane-se. Ele que seja de outra pessoa que queira carregar. Você não suporta mais. E aí... a vida pode ser mais leve, depois de nove meses.
Assim acreditava minha avó. Assim acredito eu. Claro que, infelizmente, isso não vale para tudo. Mas pode ser de grande auxílio para muita coisa e, o melhor, sem a dor de parto!
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