terça-feira, 6 de outubro de 2009

Medo do escuro

Chove lá fora e aqui dentro toca Norah Jones (e não Lobão). Na rua vejo, pela janela, relâmpagos, e ouço os trovões. Em casa, no meu mundo com um “quê” de Almodóvar (com todas as cores possíveis), torço para que não falte luz. Não gosto do escuro. Nunca gostei.
Dizem que existe uma explicação patológica, ou alguma história infantil que explique o medo, mas a única que ouvi falar conta de um morcego no meu quarto quando eu era bebê. Meu pai-herói me salvou e cá estou. Não creio que solucione nada. Mas, enfim, é o que dizem.
Pensando na noite de hoje, percebi que o escuro é também o que a gente vive as vezes. De repente o único lugar realmente claro e (até brilhante) é seu trabalho. Lá, é onde você se sente mais seguro, fazendo o que sabe (e gosta). Outro lugar seguro e devidamente ensolarado pode ser ao lado de quem se ama. No resto, você passa a interpretar diante de uma escuridão sem tamanho.
Tateia e, pior, finge gostar disso. Percebe suas próprias risadas burras - só para constar. Na sua escuridão pode se sentir encurralado, mesmo sabendo que está só. É estranho. Complicado. Mas pode ser encarado como uma fase de transição. No entanto, a escuridão conceitual faz de você ator de um cenário real. Assusta.
De repente, em noites como hoje, o breu nem atrapalha tanto quanto a saudade de estar, do abraço, do papo, do sorriso caloroso... Tudo aquilo que não se tem na escuridão - simplesmente porque não se vê. Você não se deixa sentir, não deixa nenhum sentimento entrar, porque não consegue reconhecer nada... está temporariamente cego.
Não, não há porque ter pena dessas pessoas. A claridade só virá quando ela perceber que pode começar acendendo uma vela no cantinho da sala. E, com apenas esse ponto de luz, ter a possibilidade de uma nova visão. Aí, o medo começa a ser amenizado. Pouco a pouco.
Medos existem para se enfrentar. E essa é a lição dessa história. Aprender, encarar o escuro e seguir em frente (em direção da luz – e sem morte nenhuma nisso).
Um dia a gente acorda e vê que o sol trouxe novas cores (aquelas de Frida Kahlo), todas ainda mais fortes e vibrantes. E, então, tudo passa a ser melhor (muito melhor) e mais claro do que antes. Depois, caso anoiteça (assim, sem mais) você percebe que ao invés da escuridão, o que vê é um belo luar – cheio de magia e romantismo.

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