sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Vazio Particular

Vazio: “que não contém nada; que não contém determinada coisa; que não tem qualidades positivas; que não produz efeito positivo; fútil, vão; espaço não ocupado por matéria; vácuo”. Assim descreve o Houaiss.
Mas o vazio também pode descrever sentimento. Aquela sensação que não existe. Aquela vontade de dizer algo que não sai (ou não há). O pensamento que não descreve, não formula. Aquele não ligar, não receber, não temer, não querer, não ficar... aquele vazio.
Quando dentro não tem nada mesmo. Só órgãos funcionando. Nada no coração, senão a sístole e diástole movimentando o sangue. O ar que entra e sai dos pulmões. O fígado meio injuriado com a quantidade de besteira. Os rins funcionando normalmente. Sem abalo.
Nada de borboletas no estômago. Nem frio na barriga. Nada dói exatamente. Tudo funciona perfeitamente. Cabeça, tronco e membros. Perfeitos. Mais nada.
Os pensamentos, devaneios e absurdos correm livremente entre neurônios alucinados (sem nenhum alucinógeno). Aliás, isso é a única coisa realmente preenchida: o cérebro. Ele segue cheio de bobagens e muito trabalho. A paixão pela escrita, a ânsia pela leitura, pelo cinema, pelas possibilidades a serem alcançadas (e correm rapidamente).
O vazio está no resto. Está na forma, na falta, no instante. E de repente todo ele faz sentido. Nada é triste. Tudo abre caminho, transforma e ganha ar. No vazio, o ar circula com maior facilidade. Não tem barreiras. Não tem amarras. Não tem pressão.
Nele, também cabe música (descobri recentemente). A sonoridade invade o espaço aberto, sem ocupar nenhuma parte (na verdade). Faz a trilha para o corpo bater no ritmo e a respiração pulsar.
Quando a gente vê, o vazio está cheio de nada (e com o ipod cheio). Aí, você percebe que o sorriso também não ocupa espaço e se vê pronta escolher o que quiser. Pode circular nos corredores, analisar as prateleiras sem traumas e sem pressa. Vai vendo que a vida é mesmo rara e que, se é pra colocar alguma coisa nesse espaço, tem que ser valioso e especial. Senão, é melhor continuar a rodopiar e dançar no meu vazio (particular).

Um comentário:

Anônimo disse...

Filosofia e poesia, juntas.
Meu medo, é que preechido o vazio se perca isto.
Plena, não perca. Por favor.

eupias.