quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Proclamação

A partir dessa data está proibido qualquer tipo de ruído que venha da boca dos indivíduos, exceto palavras, choro, gargalhadas, soluço ou gritos. Os repugnantes (e agora contra-lei) são os espirros, tosses e pigarros. Está prevista a multa e a punição aos meliantes que desacatarem essa ordem – podendo até haver pena de morte.
Tudo isso porque estamos em uma crise com os porcos. Eles estão atacando as cidades como verdadeiros gafanhotos e não sabemos ao certo como agir. O governo está trabalhando para melhor atender a sociedade que (sabemos) já se encontra febril.
Não há remédio. De nada adianta trancar portas e janelas de suas casas. Quem crê, pode rezar. Mas não há nenhuma previsão de ajuda. São Pedro decidiu (por conta própria) fazer sua parte e parou (por ora) com a chuva. O problema é que ainda não descobrimos qual tipo de santo poderia acabar com o frio – coisa que (acreditamos) poderia espantar os porcos.
Por enquanto, o governo se mantém apático (como sempre). Sabemos que é grave, mas preferimos omitir a informação, dizendo que estamos muito melhores que outros países – afinal, os porcos mataram menos por aqui.
Definimos também não contar para ninguém que nem todos os hospitais fazem o exame que comprova a presença do porco nos indivíduos. Pois é muito melhor (para nós) divulgar estatísticas mentirosas a respeito.
Enquanto isso definiu-se esse decreto-lei como ordem expressa e imediata. Sendo assim, quem tossir leva multa, e se continuar tossindo (ou espirrando), será levado para isolamento sem data de saída, ou até para a morte.
Nós continuaremos nosso papel mudo e sem informação. Além disso, estamos (também) cuidando da alimentação dos porquinhos. Eles agora comem pizza – principal produto do plenário. Afinal, os pobrezinhos ainda podem servir de alguma coisa.
Obrigada pela atenção. Podem voltar para a novela da vida (boba).

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