segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Vida sem sonho

Eles jogavam todos os dias, ao longo de muitos, muitos, muitos (sem contar) anos. Toda semana reservavam um dinheiro para a tal fézinha. Sonho de um, sonho de todos. Quem não quer ganhar na loteria? Parar de trabalhar, ou apenas manter um dinheiro rendendo a quantia mensal e boa o suficiente para não ter problemas até o fim da vida (o primeiro a levantar a mão leva um bilhete pra casa).
É sonho. Quem nunca passou boas horas pensando no que fazer com a bolada da vez? Conheço um cara que só joga se o prêmio tiver acima de 2 milhões. Diz que não vai desperdiçar a sorte: vai que ganha? Melhor que seja dinheiro o bastante para colocar os pés para cima.
Mas vamos voltar a esses personagens. Um casal de senhores canadenses que deu um golpe na sorte. Quando ela resolveu aparecer, eles gritaram: desculpa, tarde demais! E decidiram entregar tudo o que ganharam para uma instituição de caridade. Caridade, repito.
Sorte da instituição, bonito da parte deles. Sem dúvida. Mas a pergunta que fica é: por quê? Por que jogar toda semana se o sonho não existe mais? A grande fantasia utópica de encher os bolsos de dinheiro, comprar sem pudor, dar presentes caros, trocar de carro, comprar coisas inúteis sem culpa, não parar nunca mais de viajar, pagar (finalmente) tudo o que se deve e nunca mais dever nada a ninguém, ter tempo o suficiente para ler... Ler em Paris, em Veneza ou em baixo de uma árvore na praia da Pipa. Sei lá! Tanto sonho que não caberia em um único texto. Afinal, se a gente sonha e não joga, não faz sentido, certo? O inverso também não deveria fazer.
Por que esse casal parou de sonhar e continuou a jogar? Desperdiçaram mais do que a sorte, jogaram fora sonhos, ideias... Ajudaram bastante gente, é verdade. Lindo. Mas pararam de sonhar. Ganharam no jogo e perderam o sonho na vida. Pararam de viver, de sentir... mas ainda respiram.

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