segunda-feira, 19 de abril de 2010

A véspera

O dia que antecede é a véspera. O dia antes do amanhã tem título, provérbio, frase feita e desfeita. A ansiedade está implícita na data. Novos tempos, velhos conceitos, nova idade, novidade. Tudo no mesmo dia.
A véspera ousa ser mais interessante (as vezes) do que a data em si. As expectativas estão mais embutidas nela, do que no dia esperado. Ela tem um sabor mais interessante e apimentado. É o sonho e, por isso, pode ser maior do que a realidade indica.
Se chove, a esperança torce para ver o sol brilhar. Se está ensolarado, a chuva pode trazer prosperidade e fartura. A véspera supera temporal, calor seco ou frio úmido. É a espera programada de algo que não vai mudar apenas porque a data chegou (e ela sempre chega).
Viagens marcadas, namoros rompidos, idade parcelada, dia de vencimento, dia de pagamento, de nascimento, de médico, de exame, dentista ou casamento. A véspera é sempre impaciente, intolerante e indecente.
A paciência é a palavra que mais angustia o dia anterior. Na data prevista tudo é simples, raso e quase insignificante. O dia seguinte da data marcada é a prova de que nada muda de verdade - o que muda é o que está em volta. As pessoas, os pensamentos e a paisagem são diferentes se assim você desejar.
Se não conseguir enxergar isso, Nova York será apenas um lugar caótico que você demorou quase 10 horas para chegar; Paris, um lugar frio e com pessoas arrogantes; o casamento, um momento em que todos se fantasiam para celebrar o que um dia vai acabar; a conta azul é a cor que antecede a vermelha; e seu aniversário apenas a constatação de que você está vivo.
Duvido que valha pena ver dessa forma. Se o dia anterior tem até nome próprio (véspera), por que não dar valor para as datas da vida e transformar o seu jeito de olhar?

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