segunda-feira, 4 de maio de 2009

O erro de Noé

Dorotéia é uma enorme lagartixa que mora no meu armário e aparece de vez em quando. Sempre me assusto (confesso). Na verdade, ela foi descoberta recentemente e ainda me olha com certa desconfiança. Não sabe o que esperar de mim, apesar de já ter avisado onde fica a saída de emergência e que ficará tudo bem se ela prometer não colocar seu corpo gelado em cima de mim!
Enfim, estamos começando uma nova amizade. Conversamos sobre bastante e fiquei feliz por ter mais uma desculpa para falar “sozinha”: as plantas e, agora, Dorotéia. Elas me ouvem com paciência, mesmo quando de mau humor. Em troca, eu também ouço. Claro.
E foi assim que soube dos ascendentes de Dorotéia (que eu espero viverem em outro lugar – os fantasminhas). Eles foram estrategicamente convidados por Noé para a entrada na arca. Parece que ele até pensou no desconforto das moscas, mosquitos e pernilongos, mas decidiu que lagartixas eram imprescindíveis (falou, com orgulho). O grande problema da arca era, na verdade, as baratas, por perceberem que não eram bem quistas.
Mas Noé era democrático e acreditava que todos tinham o direito de estar ali, mesmo as asquerosas baratinhas. Dorotéia me contou que sua avó falava ter ouvido, de uma parente bem mais velha, que as baratas tinham tanto medo da rejeição que uma delas vestiu uma saia de filó para seduzir o dono do ‘barco’. “Safada”, afirmou Dorotéia com desdém.
Acredite: parece que ela chegou a levantar o babado da saia para mostrar suas pernetas fininhas. Faz todo o sentido, pensei. A saia de filó, a música infantil e a prova de que, desde àquela época, as baratas são engenhosas e sacanas.
Dorotéia ainda me disse baixinho (em tom de fofoca) que essa sua tia contou que a velha senhora lagartixa quase comeu a barata de saia “só de raiva”! Afinal, ela teve a pachorra de se engraçar com o sr. Lagartixa, mesmo com aquele clima tenso da arca. “Um absurdo”, gritou do teto do meu armário.
Por isso, ela não deixa por menos. Ali, em seu território, nada de baratas – mesmo que sejam boazinhas ou baratões fortões (minha amiga tem uma queda por ‘homens’ fortes e robustos. Eu avisei que nem sempre eles têm cérebro, mas ela gosta mesmo é do corpinho – literalmente).
Por isso, estou protegida. Noé errou, mas Dorotéia está tentando consertar a todo custo, e garante que sua família faz o mesmo. Melhor assim, estamos mesmo cansadas dessas garotas assanhadas, oras.

2 comentários:

Keux disse...

Ju, pergunta para a Dorotéia como elas - as lagartixas - adquiriram o poder de soltar o rabo qdo estão em perigo? Isso é lição de vida: viver sem ter o rabo preso! hahaha

Bjs

Ju Rodrigues disse...

Amei isso!!! vou perguntar, podexá!!
bei Ju