quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Franco Atirador

Dizem que os crocodilos choram enquanto comem seus próprios filhotes (são as lágrimas famosas). Dizem ainda que os bois lacrimejam no momento do abate. Será mesmo verdade?
Eu nunca teria um boi (ou uma vaca), mesmo se tivesse uma fazenda. Assim como não teria um galinheiro ou um aquário (de água salgada ou doce). Tudo isso porque sei que se eu me apegasse a qualquer um desses bichos jamais os comeria (mesmo outro membro de suas famílias). Deixaria de saborear um ancho, um chorizo, um frango de televisão ou um linguado com molho do camarão. E não estou preparada para isso.
Eu optei em assumir a mea culpa, sem alarde. Não penso, logo não acho que como nada demais. No momento da garfada nunca lembro que aquilo um dia foi um bicho, ou poderia ter sido (como o caso do ovo). Seria cruel demais. Brochante até.
Mas existem pessoas que pensam nisso. E, uma vez na cabeça delas, fica difícil tolerar uma carne sangrenta ou uma costelinha tostadinha. Quem pode culpá-los? Mesmo porque estão certos! Os vegetarianos não comem. E os vegans não comem mesmo (rejeitam, inclusive, os derivados, como queijos, leite e mel).
É uma vida admirável (pensando em nome dos bichos). Mas exige sacrifício. Churrasco com a família? Só vale salada e vegetais na grelha. Jantar especial usando soja e grãos. Café da manhã sem queijo, sem leite, sem iogurte.
A pior parte é que quando se encontra alguém assim, você se sente um franco atirador de saias (no meu caso, claro), com a arma em punho, louca para filar o filet mignon da mesa ao lado (que até então nem lhe chamava tanta atenção).
Carrego (como muitos) essa culpa cega (e muda) e prossigo comendo os churrascos da vida, sem lágrimas – confesso. Nem mesmo as de crocodilo.

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