sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Dignidade de mariposa

Era uma vez uma mariposa, que vivia em uma cidade de praia. Seus dias eram cansativos – até mesmo para ela própria.
Passava noites e noites rondando luzes. Em dia claro, ficava a vagar pelo sol, ou pousava, para admirar (mesmo com a visão turva) a paisagem e os transeuntes.
Ficava sempre chocada com o andar dos seres humanos. Um passo na frente do outro (ou seria um atrás do outro?). Olhava aquelas pernas indo e vindo e pensava: por que tenho asas?
Não sentia sua vida feliz. Odiava aquela busca incessante pela luz. Tudo aquilo atrapalhava (ainda mais) seus olhos, que já não enxergam bem. Além disso, vira amigas e parentes morrerem pela ânsia da luz, da visão perfeita. Mas ela era diferente, nunca quis ver direito. Queria andar... Ah... se pudesse...
Estava cansada. Sua vida (que já é curta) precisava acabar. Mas, ao contrário das outras, decidiu que não morreria pela luz. Queria escolher um lugar mais digno e, até, mais humano para isso. Assim, escolheu um local a altura de um suicídio clássico: o banheiro.
E foi até o primeiro que encontrou com a janela aberta. Se dirigiu até o canto do box e lá ficou aguardando sua morte. Pensando como gostaria de pernas para pular pelo parapeito, ou de braços para cortar os pulsos. Ficou ali... aguardando a morte.
No momento em que seu pequenino corpo se entregava, com as asas murchando... sentiu um balanço. Abriu os olhos com dificuldade e viu (com sua péssima visão) um homem que a levantava. Não conseguiu perceber como ele a suspendeu sem encostar em seu corpo. Mas sentiu quando fora jogada pela janela.
O homem pensou: “Pobre mariposa, salvei sua vida”. Já a mariposa deu seu último suspiro (e o único realmente feliz): “Fui assassinada! Sou, finalmente, humana!”

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