segunda-feira, 28 de março de 2011

Mágica tentativa

“A morte faz parte da vida”, já diria a mãe do Forrest Gump. Num outro contexto, um personagem do livro “Comer, Rezar e Amar”, avisa que “até onde sabemos, somos a única espécie do planeta a quem foi dado o presente – ou talvez a maldição – de ter a consciência da nossa própria mortalidade”.
Não esse não é texto depressivo, é apenas uma constatação de fatos. Somos o agora, mas um dia não estaremos mais. A vantagem disso tudo (e a única, ao que parece) é que não sabemos quando pode acontecer. Por isso, não vivemos esperando para que aconteça. Melhor assim.
O fato é que mesmo sabendo que precisamos agradecer, lutar, correr, querer, amar e ajudar para viver, nem sempre pensamos assim. Se estamos ficando velhos, pensamos mais na morte e esquecemos que sempre é possível mudar tudo – considerando que ninguém sabe quando ela vai bater na porta.
Se você não faz ideia se vai durar mais 1 dia ou mais 10, 30, 50 anos como pode desistir sem antes tentar? Somos seres pensantes (alguns mais que outros, é verdade). Podemos sempre lutar, sem desistir. Se a vida não acabou, ainda há tempo.
Aqueles que desistem podem passar o resto da vida (seja quanto tempo isso durar) reclamando do que não tiveram, do que perderam, do que gostariam de ter. Triste. A gente sempre pode trocar tudo, porque somos seres mutáveis. Mudamos todos os dias um pouco mais. O que gostávamos há 10 anos, não é exatamente o que queremos hoje, nem o que desejamos para amanhã. Então, por quê nos esquecemos disso?
Saramago (e já escrevi aqui) começou a escrever aos 60 anos, conheceu a mulher da sua vida aos 63 e ainda teve tempo de um Nobel da Literatura. A vida permite que sejamos aquilo que lutamos para acontecer. Essa é a magia da história.
Se a gente acreditar e tentar, tudo é possível (e não é apenas meu lado Pollyana falando). Só não vale esperar pelo cortejo na porta de casa, como fez o Coronel Aureliano em “Cem Anos de Solidão” – é poético no livro, mas desistente demais na vida. Se respiramos é porque temos o dever, a glória ou o azar de viver. Então, nos resta tentar.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Final Feliz

Estamos acostumados ao “happy ending”, mesmo sem vive-los (exatamente). É inato ao ser humano. Não conseguimos (nem queremos) nos conformar com um final sem sentido, em aberto, uma coisa meio de lado, meio filme do David Lynch. A gente simplesmente não sabe conviver com isso. Aí, buscamos o final certo, mesmo que mais trágico (mas sempre mais feliz, revelador, surpreendente).
No cinema, nos livros, a gente até aceita um fim sem explicação. Julgamos esse tipo de arte pela capacidade de nos encantar, de nos apaixonar pela personagem, pela vida cruel, pelo sentido triste de uma rotina sem muito valor. Mas, na nossa vida, na vida real, queremos o água com açúcar. Quanto mais cor-de-rosa melhor, claro.
Por isso, esperamos o que não se deve esperar. Uma ligação, um contato, uma história sem sofrimento, mais amor, mais carinho, atenção, presentes, jantares, passeios, festas, conversa fiada, sorrisos, abraços, lágrimas de felicidade e por aí vai... Quando o fim se aproxima, achamos injusto, e passamos a culpar o outro, dizemos que é karma e sobra até para Deus (o coitado, sempre leva a culpa). Afinal, fiz tudo tão certinho, por que não deu certo?
Custamos a aceitar (e custamos mesmo) que nem tudo é para dar certo. Tem coisas que simplesmente não devem dar certo. Que não eram para acontecer, que não deveriam nem ter começado, que todos os sinais apontavam para um fim, mas você não viu (porque não quis). Aí, só vai perceber que aquilo era o melhor quando o tempo passar. Quando aquela sensação de uma vida injusta ficar distante e você reparar que era tão claro... Como não percebeu? O fim estava ali, na sua cara, desde o início.
Vida injusta. Ingrata. Faz a gente aprender da pior maneira. A gente sofre e passa meses (ou anos) em busca de uma razão, uma explicação para tal sofrimento. E só depois de tudo isso é que vemos que não há razão. É apenas nosso desejo pelo final feliz. Aquela sensação que até quem não gosta tem em filmes bobos, conhece e quer viver. Aquela coisa de contos de fadas. Aquela ilusão do “felizes para sempre” – mesmo que (no fundo) a gente saiba que o pra sempre, às vezes, acaba.

terça-feira, 22 de março de 2011

Desabafo santista

Empresto meu blog, hoje, para meu irmão. Um homem indignado com as mudanças de caráter de um menino (sim, menino) do seu (do nosso) time.
Levanto a questão para dizer que é difícil ser homem (desses com H maiúsculo) com tão pouca idade e maturidade, e com já tanto dinheiro em caixa. Difícil saber o que fazer quando você mal entende o que vai escrito num contrato. Sem ler, sem escrever, sem entender palavras complicadas, esses meninos crescem milionários e sem o menor critério do que é certo ou errado. Eles acabam (quase todos) caminhando para quem dá mais.
Aí... caímos para a mesma ladainha de sempre: quem prepara essa molecada para ser gente grande? Para ser rico? Para ser atleta e não um idiota em busca de dinheiro? Ninguém. Todos os que estão ao redor deles querem a mesma coisa que eles. Fato. Triste e curto fim de quem mal teve um grande começo.
Não, não é apenas pela saída do garoto do Santos, mas é uma problemática generalizada sofrida em qualquer time de futebol brasileiro. Infelizmente, esses meninos passam de ídolos, e viram grandes piadas (dessas prontas mesmo).
Sem mais. Segue o texto de Bruno Julião.

Desabafo Santista

Chegou ao Santos em 2005, foi campeão paulista sub-17 em 2007 e 2008 com mais 21 ao lado, virou banco do profissional em 2009 e foi promovido em 2010, de novo com mais alguns outros tantos.
Juntamente com mais 21 jogadores, venceu os títulos Paulista e Copa do Brasil em 2010, jogando (até as fases de oitavas de final) de forma convincente. Nas fases de quartas, semis e finais passou sufoco.
Não foi convocado, apesar do clamor público.
Rompeu os ligamentos do joelho e sete meses parado, mas recebendo seus 130mil mensais.
Voltou aos gramados no início de março, jogou 3 jogos e nada fez, e agora pediu pra sair do Santos, que "não o valoriza" segundo suas própria palavras.
Agora pergunto: quem é esse tal de Ganso? o que, de fato, ele - e apenas ele - fez ao Santos? desde quando o sucesso de um time de futebol depende apenas de um jogador?
Nem quando o Pelé jogava era só ele. Coutinho, Pepe, Edu, Zito e Cia possuem grandes porcentagens de mérito nas conquistas do melhor time da história do futebol.
Ganso é uma amostra grátis (paradoxalmente cara demais) de um grande jogador. Nada mais.
E hoje avisa que quer sair do Santos, pois o clube não o valoriza?
Apenas para que ele saiba, um dia ele não mais jogará bola. E um dia não mais caminhará pelas ruas, como qualquer mortal que somos.
O Santos vai.
E outra coisa me vem a mente: 130mil x 7 meses parados dá 910mil, sem contar outros certos benefícios.
Realmente o Santos não valoriza seu herói. Este herói de Hans Christian Andersen. O Patinho Feio.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Vida egoísta

Nossos problemas ainda são maiores do que os dos outros. Não há como evitar. Sua vida amorosa, financeira, familiar, profissional está acima de qualquer catástrofe que não te envolve. Difícil ignorar.
O Robinho está processando a Nike porque não recebeu uma ou duas parcelas de um contrato de sei lá quanto tempo. As parcelas devem ter valor altíssimo, imagino. Como santista e fã do menino da Vila (ainda, mesmo que de longe), acredito que ele mereça a grana.
Porém, ao lado da mesma manchete se vê os destroços e riscos de apagão dos japoneses. Usinas que não param de explodir, corpos que não param de aparecer... Tudo tão triste que a única coisa que pude pensar é: essa grana é o que? Robinho quem? Nike? Desculpa, título falido. Matéria boba.
Continuando a ler meu jornal online não pude evitar de pensar que perto da vivência horrorosa vivida pelos japoneses, qualquer coisa realmente é boba (principalmente quando não vai matar ninguém de fome – como o caso do jogador). Não dá pra comparar.
Lembrei de uma pessoa que um dia me disse o quanto o trabalho voluntário pode fazer bem para a gente perceber que nossos problemas são menores do que de muita gente. Realmente são, mas são nossos. Isso já os torna maiores e muito mais problemáticos. A gente consegue ver de fora, diminuir sua intensidade, mas não dá para esquecer. É impossível evitar.
A tragédia do Japão é uma das coisas mais cinematográficas que estamos presenciando. Hollywood nunca pensou algo assim. Ainda bem. Porque estamos observando, mesmo que de muito longe, uma das coisas mais tristes que pode acontecer em um país. Tão devastador quanto uma guerra – e aqui contra a natureza (guerra que já começa vencida e com perdedor anunciado). E, ao mesmo tempo, um povo educado e resignado. Que passa fome, mas não saqueia supermercado, que chora calado e luta pela própria sobrevivência.
O Robinho deve me desculpar, mas ele e a Nike não são notícia. A prisão domiciliar do empresário X também não. Mas, os meus problemas continuam batendo na minha porta... todos os dias e o tempo todo. E aí, peço perdão aos japoneses.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Loucas sim

Ontem foi o dia internacional da mulher. Sempre fui contra. Sempre achei uma bobagem infinda. Um ato quase machista de dizer: ei, sexo frágil, você precisa mesmo de um dia especial pra lembrar que é menor do que a gente.
Bobagem (a minha, nesse caso). A gente precisa e merece sim um dia especial. Não que isso mude alguma coisa na vida de cada mulher no mundo. Continuamos trabalhando muito, ganhando menos (as vezes mais); lutando para crescer (intelectualmente, fisicamente ou psicologicamente); fofocando mais do que deveríamos; usando burcas (em alguns lugares); sendo apedrejadas em outros; amando homens errados (e tendo certeza de que era o certo); querendo mais (sempre mais); achando que podemos mudar o mundo (ou, pelo menos, o que nos cerca); sentindo a dor do parto; educando e criando novos seres; falando mais do que deveríamos; torcendo pelo time certo (e as vezes por motivos totalmente errados); querendo conhecer (ou votar a) Paris; precisando ganhar mais para comprar mais; olhando o armário cheio e não encontrando nenhuma roupa apropriada; fazendo manha só pra ganhar algo extra; gritando como louca só pra provar que pode; sentindo ciúmes de coisas ridículas; querendo ter a barriga da revista; comendo folha e achando que um brigadeiro pode compensar o sacrifício; comprando sutiã que aumenta; usando calcinha que prende a barriga, a bunda, a perna; lutando contra a celulite; olhando as rugas novas no espelho cruel; pensando na idade biológica como principal inimiga da vida; fingindo não ver a balança ao lado; sorrindo quando alguém lhe dá passagem no trânsito e nunca deixando ninguém passar; sorrindo novamente, mas dessa vez com vontade de chorar e chorando com vontade de rir; sendo mãe; amante; filha; psicóloga; amiga; carente e profissional.
Tudo isso em um único dia e fazendo as horas renderem ao máximo. Sim, precisamos de um dia para chamar de nosso. As nada frágeis mulheres são as únicas que conseguem pensar em muitas coisas ao mesmo tempo, errar tudo mesmo que tentando acertar, na esperança de contradizer a única coisa que realmente somos, mas detestamos admitir: loucas! Sim. Mas, e daí?

quinta-feira, 3 de março de 2011

Agradecer sem culpa

Por que será que temos tanto problema em aceitar as coisas boas? Sempre encontramos uma forma de pensar em coisas que desfazem (ou desmerecem) aquilo que aconteceu de bom com a gente. Mas... por quê? Não merecemos que a vida nos entregue algo bom vez ou outra?
Claro que merecemos, só não estamos acostumados a “apenas” agradecer. A gente precisa pedir. Está na oração da fé. É quase uma lei. Um dogma.
Para não se sentir mal, a gente emenda com pedidos genéricos e óbvios como saúde, proteção e por aí vai. Precisamos pedir alguma coisa ou Deus estranha. Então, pedimos!
Mas por que mantemos a mania de pensar que se um lado da sua vida está bom o outro está (ou ficará) mal. É a tal lei da compensação. Quem disse isso? Os dois lados (ou três, quatro) não podem caminhar juntos? Não sabem andar de mãos dadas?
Aí, alguém diz que é uma questão de prioridade. Se você dá mais atenção para um lado da vida, logo ele funcionará melhor que o outro. Realmente faz bastante sentido. Porém, como mulher, não concordo. Nós (seres femininos) conseguimos dar atenção a tanta coisa ao mesmo tempo, que não há porque se dedicar a apenas um lado da vida. Temos a total capacidade de concentração em todos os lados (assim como podemos esquecer todos eles ao mesmo tempo, claro).
Mas, em geral, a gente esquece que pode, que deve, que tem direito. Esquecemos que nós (os bonzinhos da nossa própria história) merecemos a vida plena. Queremos todos os sete desejos pulados nas ondas do reveillón. Aquela lista imensa de resoluções (e pedidos) de início de ano. A vela acesa para o santo. E queremos (um dia) não precisar pedir e não se sentir culpado por isso. Afinal, estamos agradecendo. Isso é muito melhor que pedir, certo?