quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Quando o amor não desiste

Eles sempre se amaram, mas a vida não permitiu que ficassem juntos. Tantos problemas, tanta família, tanto desamor. Desistiram. Não havia mais nada a fazer. Era uma vida de "não". Sempre os mesmos nãos.
Então, era melhor guardar o amor em uma caixa dentro do armário. Uma caixa muito bem fechada, embrulhada com fita (a dela). Fechada com nós de farrapos (a dele). Todo o sentimento ficou ali trancado. Não viu o casamento dela com outro homem, tampouco viu o nascimento da filha dele com sua mulher. O amor não viu nada, mas sentiu.
Os anos foram passando e seus casamentos seguindo. De uma família pequena, nasceram muitos. Deles, nasceram mais. Desses ainda, mais. Muita gente na mesa aos domingos. Cada um deles em sua casa. Cada um deles respirava um ar diferente, em cidades diferentes, com amores diferentes.
Um dia, ele, já sozinho pelos anos da vida, desatou o nó de um farrapo podre, sem cor, quase sem trama. Encontrou fotos, cartas, cartões, músicas. Sentiu todo o ar da juventude comprimido em uma caixa. Um amor esquecido, envelhecido, mas ainda vivo – descobriu.
Sorriu para si mesmo. Quantas besteiras os separaram. Quanta tristeza boba guardada e tão apodrecida. Resolveu vê-la. O que teria a perder? Anos de vida, certamente não.
Foi. Na porta da casa dela, sentiu as pernas falharem, quase desistiu. Mas sabia, deveria seguir. O que teria sido dela? Como estaria a mulher que era sua melhor amiga? Aquela para quem cantou, tocou, se aconselhou, abraçou, beijou? Tocou a campainha.
Uma senhora abriu a porta. Frente a frente. Os mesmos olhos. Não havia ruga, não havia cabelos brancos. Eram dois jovens sorrindo. Ela não precisou perguntar quem era. Sabia bem quem estava ali parado na soleira. Pediu que entrasse e lhe acompanhasse até o quarto. Ele estranhou, mas a seguiu.
Da porta, ele viu uma caixa aberta e fitas descoloridas pelo chão. Se aproximou e então se viu dentro daquele pequeno quadrado de madeira.
Sem mais tremedeira, ele olhou a mulher da sua vida e perguntou o que devia ter perguntado muitos (muitos) anos antes: Casa comigo?
Enfim, casaram. Dessa vez sabiam que o “para sempre” já não era tão importante assim.

* Em homenagem aos mineiros recém-casados - ela com 91 e ele com 84 anos. Duas pessoas (bem) maduras que não puderam se casar jovens, mas ainda buscam a felicidade.

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