Foram 27 dias. Vinte e sete longos, isolados, tristes, fantasiosos, esperançosos, sujos, confusos, estranhos, problemáticos, doídos e empoeirados dias. Sua vida foi repassada lentamente na mente. Nada de filme rápido, tudo durou bem mais do que uma minissérie. Mais do que uma cena longa de um filme mudo.
Tinha medo de dormir. Acreditava que se o fizesse, ficaria ali para sempre, sem ser encontrado. Ou pior: a morte poderia se confundir e levá-lo para uma viagem que ainda não estava pronto. Na dúvida, se manteve alerta. As vezes, os olhos falhavam, mas, como (ali) a hora não tinha relógio, não via o tempo passar. Mas sabia que passava (mesmo que lentamente).
De onde estava não via a noite, assim como não fazia ideia de quando o sol nascia. Era sempre escuro e muito difícil.
O que mais dificultava era a impossibilidade de se movimentar, de falar. Todos aqueles dias na mesma posição, olhando para a mesma direção, sem a menor possibilidade de pronunciar um grito (mesmo que surdo). Cansava. Entristecia. Endurecia.
Não comeu nada em todos esses dias. Não bebeu nenhuma gota d água – mas jurava ver uma pessoa lhe entregando um copo por dia (como mágica, crença ou miragem).
Quando imaginou que nada mais pudesse fazer; quando agonizava de dor; quando não aguentava mais chorar, fechou os olhos e desistiu. Nesse mesmo momento, um clarão se abriu. A luz entrou e a dor pareceu querer cessar. Finalmente o vigésimo sétimo dia chegou e seu martírio acabou – soube depois.
Foi carregado e seus olhos mal conseguiam acreditar no que viam: seu país fora transformado em poeira. O que era cimento, hoje parece papel. O que era branco ficou cinza. Imaginou quantos amigos e parentes se perderam naquele entulho. Fechou os olhos e se desculpou. Talvez tenha feito mal em não se entregar, em beber a água da fé para lutar pela vida.
Agora estava sozinho. Sem casa. Sem família. Sem nação. Mas seu coração (esse teimoso) não desistia de bater. Ele, hoje, já não sabe mais porquê.
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