Como roteirista eu poderia inventar uma história de mim
mesma. Criar alguma coisa que não aconteceu, esperar alguma outra que poderia
ter sido, mudar o fim (mesmo ainda que não tenha chegado nele) ou quem sabe
recomeçar. Podia criar outro quebra-cabeças para da minha própria vida. Tirar
uma cena triste daqui, colocar uma mais feliz, ter menos choros e
muito mais sorrisos de felicidade. Poderia dar certo. Ou, muito errado.
Como donos das nossas próprias histórias, somos capazes de
alterar o futuro, mas incapazes de corrigir o passado. Até porque ninguém nos
garante que ele não alteraria o que (e quem) somos hoje – aquela coisa do
efeito borboleta.
Aí, eu e pergunto: e o que somos hoje, senão um monte
ambulante de histórias? Caminhamos carregados de malas contendo lágrimas e
risos. Estamos pesados de erros, acertos, escolhas, relacionamentos. E
continuamos andando na eterna corda
bamba entre um novo tombo e uma rede afetuosa.
Às vezes pensamos que não somos mais os mesmos. Aquela
história de que com o tempo mudamos. Bobagem. Com o tempo, garantimos nossa
própria personalidade, percebemos melhor os erros e sabemos exatamente a hora
da queda ou da vitória. Com o tempo,
podemos descrever o nosso personagem na vida. Nossas escolhas estão definidas também com
nosso caráter. Sabemos exatamente onde estamos entrando, assim como sabemos a
hora da retirada.
Quando você é o protagonista, não há uma única linha para
reescrever. Toda aquela bagagem, mesmo que seja chata de carregar, caminha
com você. Entra no mesmo avião, está dirigindo seu carro, senta ao seu lado no
bar, responde SMS, email, entra no Facebook... se mostra. Carrega consigo a sua descrição
e, caso você esqueça, te apresenta o roteiro que você mesmo escreveu, mas
te lembra que as próximas falas são de decisão sua. Por isso, melhor ter cuidado.
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