terça-feira, 14 de setembro de 2010

Em obras

Em alguns momentos ficamos alheios do mundo. De repente o impossível se mostra óbvio e conquistamos um olhar diferenciado, distante. O calor lá de fora é seco. E aqui dentro, molha. Na chuva, confundimos as lágrimas de tristeza com as de alegria e nada faz muito sentido: nem estar triste, tampouco estar feliz. Seguimos.
Olhar o mar não causa tanto efeito como antes, mas acalma, alenta. Caminhar era um destino preciso, mas vira rotina diária. Cansa. Os planos são os mesmos de antes, mas as estruturas estão abaladas. Precisam de reforma.
As obras começam e você se vê sem lugar fixo. Sem um norte para continuar. Sem destino, sem sentimento. A distância seria crucial, mas como?
Precisa acompanhar a retirada de cada prego, rever o desmoronar de cada parede. Precisa construir junto, erguendo com tijolos, pintando, decorando... Deve optar por novas cores, novos móveis, novas molduras.
Encarar não combina com o momento atual. Melhor fechar os olhos, olhar meio de lado... sentir sem ver de frente. Melhor sentir... mas o quê? O que se sente quando não vemos nada?
A obra continua, mesmo sem planta, sem arquiteto. As paredes de antes já não existem mais. Hoje, só pedras. Areia. Quem sabe um martelo prega algo novo? Quem sabe um cimento mais resistente, uma vida mais competente, uma escolha mais acertada?
No plantão da construção vê-se a claridade e a escuridão do dia. Entre uma e outra, a vida se encaixa em sorrisos, possibilidades e esperança. E aí, a obra dará sentido a um novo sentimento que virá (seja ele qual for).

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