Depiladora há anos,
adorava o que fazia. Suas clientes não entendiam muito bem como poderia gostar
tanto de tirar pelos de lugares que mais ninguém via – nem mesmo num exame
ginecológico. Mas ela adorava. Se especializou na área. Sabia que era a melhor no que fazia.
Uma de suas
clientes garantia que confiava tanto nela, que seria capaz de deixar seus
filhos para a depiladora cuidar. Ela se orgulhava disso. Achava gratificante.
Trabalhar era
sua válvula de escape. Voltar para casa era sempre o pior momento do dia. Encontrar o marido
devedor, bêbado caído sobre a cama era demais para ela. Perdeu as contas de
quantas vezes chegou e teve de limpar vômitos... Era injusto demais.
Quando comentava no
trabalho, suas clientes e amigas aconselhavam o mesmo: "abandone esse
homem, antes que ele acabe com você". Mas a verdade é que não podia. Não
sabia explicar exatamente. Talvez fosse sua culpa católica (e o 'até a morte os separe'); talvez fosse por acreditar que deveria arcar com as consequências da péssima escolha que fez; talvez por pena dele. Não sabia dizer
ao certo. E ainda havia um agravante, ela jamais sairia da casa que comprou e
reformou com tanto custo e gosto. Além disso, sabia que ele também não iria – simplesmente
porque não tinha para onde ir. E, ainda, ela não mandaria o pai dos seus filhos para
debaixo da ponte.
Resignada continuou
sua jornada. Até que um dia, chegando em casa, deu de cara com o sujeito com
quem se casou 25 anos antes. Estava sujo, fedia a cachaça e urina... Ela já
tinha visto mendigos em melhores condições do que ele. Enfiou o homem debaixo do chuveiro,
esfregou e aguentou todos os xingamentos que ouviu. Depois de vestido, ela
disse: "devia te mandar embora". E ele, cheio de audácia e sem nenhuma
moral, retrucou: "só se você me matar".
Cansada, ela respirou fundo, foi até a gaveta, tirou o revólver que era dele – da época que trabalhou como segurança – apontou e atirou. Ao invés da ponte, ela o mandou para debaixo da terra.
Cansada, ela respirou fundo, foi até a gaveta, tirou o revólver que era dele – da época que trabalhou como segurança – apontou e atirou. Ao invés da ponte, ela o mandou para debaixo da terra.
Hoje, presa há 2 anos, suas clientes esperam ansiosamente pela sua saída da cadeia.
Afinal, ninguém tira pelos como ela.
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