Vi o escritor
Leandro Narloch falando que as pessoas que não acreditam na “direita” ou
“esquerda” no Brasil são hippies. Confesso que tive vontade de sair por aí
usando longos esvoaçantes e tirinhas de couro na cabeça. No entanto, me defendo como parte integrante da “coluna do meio”. Estou
bem ali, onde as pessoas conseguem admirar a beleza dos dois mundos, criticar
todas as traições e, às vezes, opinar (mesmo sem muita empolgação).
Não sou a única.
Sei que uns nos chamam de “em cima do muro” ou “quase alienados”. Pura intriga.
Quem está na coluna do meio vota em pessoas e não em partidos. E essas pessoas
estão também sob suspeita, diga-se. Podem perder o voto no mesmo momento que
fizerem a primeira besteira. Gente da “coluna do meio” não vê zebra,
simplesmente não confia mais e pronto. Nada de justificativas.
Honestamente,
para um país democrático, somos Uó. De coração. A blogueira de Cuba veio nos
visitar e foi criticada por uma porção de tontos (sim, eu escrevi tontos) que
acreditam em um socialismo perfeito. Será que ainda não descobriram que o
socialismo só fica bonito no papel? Quantos anos têm?
Imagine só a
felicidade de uma garota (mulher) sair do país para visitar o Brasil.
Independentemente de política quem sai de Cuba com autorização já se dá por feliz.
Repare que na frase anterior usei a palavra: autorização. Será que quem
criticou ou julgou Yoani sabe o que é viver precisando de uma? Não poder ganhar
o quanto precisaria para ter uma vida melhor, não poder escolher a própria
carreira, ter de trabalhar onde o governo lhe consegue emprego... não saber o
que acontece no mundo lá fora e nem poder sonhar que um dia vai conhecer algum outro lugar. Sim,
Yoani está feliz apesar de todos os tontos que lhe fizeram uma cena.
Fiquei um mês em
Cuba. Conheci uma senhora, dona da casa que me acolheu (em troca de dinheiro - porque mesmo no socialismo a vida é assim), que aos 84 anos (em 2010) me confidenciou que seu sonho de adolescência era conhecer o Brasil.
Quando menina poderia ter vindo, mas agora... lamentava não ter dinheiro
para comprar manteiga, nem shampoo ou sabonete. Alugava o quarto da sua casa e
dos 25 CUCs que me cobrava por noite, dava 15 para o governo. Saí de lá de
deixando dinheiro extra, shampoos e sabonetes (a manteiga não tive como
resolver).
Andando pelas
ruas cubanas me perguntava “isso funciona”? A resposta está nos edifícios
descascados, na roupa puída e em muitos pés descalços. O Socialismo, essa coisa
lindamente escrita, é um fracasso na prática. E os tontos que o defendem
deveriam viver lá, mas - ainda assim, claro - nunca serão tratados como os cubanos são. Porque, quem é de fora, tem dinheiro diferente, preços diferentes e sentam em mesas diferenciadas.
É fácil falar do
telhado vizinho. Assim como é fácil tirar um sorriso de um cubano. Eles
representam o tipo de povo que sofre e ri – não sabemos o que é isso. Ao menos minha geração não sabe. Quem viveu a ditadura pode dizer que sabe disso. Eu não posso, e
os tontos que criticam Yoani também não podem. Calem-se, por favor. Não precisam concordar com ela, apenas não atrapalhem.
Querida cubana,
creia que a maioria de nós (brasileiros) não somos representados por esses
poucos. Sim, aqui nós temos o direito de falar, aqui nós temos todo o tipo de
imprensa, e aqui também acreditamos em uma porção de religião e ninguém
briga por isso. Pode não parecer, mas - em geral - respeitamos a opinião alheia.
Ouso comparar política
com religião. Não apenas por serem dois assuntos que não devemos discutir, mas
por termos o direito acreditar no que quer que seja. Por sabermos (ou deveríamos saber)
que alguém de direita não defende a ditadura e que alguém de esquerda não odeia
o dinheiro. Por sabermos respeitar juízes, desembargadores e diplomatas que são
esquerdistas (incluo também muitos artistas) que ganham muito dinheiro e não dividem com ninguém. Também respeitamos
aqueles que acreditam na visão de poder do mais rico sobre o mais fraco, e toda sua capacidade de liderança
– mesmo que, às vezes, julguem de forma nada condescendente. Ou ainda os alienados da eterna
Jovem Guarda, ou os famosos em cima do muro. Respeitamos todos eles. De verdade.
Por isso, proponho que lavemos juntos as escadarias dessa igreja chamada democracia. Sim,
devemos protestar. Mas vamos lembrar que, aqui, podemos eleger, sair nas ruas,
escrever, gritar, processar, escolher, saldar, ler o que tivermos vontade e não precisamos nos justificar. E isso, é uma glória – podem perguntar para Yoani – se a
deixarem falar, claro.