Ele sabia que precisava começar. Havia prometido a Si mesmo
que começaria e terminaria – nada de preguiça, sono ou fome – essas seriam
necessidades de criaturas que Ele ainda criaria.
Aquele Paraíso andava chato. Antes, caminhar
por ali, descansar, trabalhar em seu laboratório de criação parecia muito
divertido. Mas, agora, passados mais de mil anos, Ele queria novos desafios.
Estava mais velho, mais experiente e descobriu nos tubos de ensaio que poderia
fazer muito mais.
Passou os últimos 100 anos desenhando projetos
extraordinários. Cores divinas, plantas coloridas, micro-organismos nojentos e
necessários para uma biodiversidade complexa, bichos estranhos, uma cadeia de alimentação funcional e, claro, os
seres humanos – a única espécie que teria falhas. Uma de Suas mais idiotas
decisões, diga-se.
Ele acreditou que as falhas humanas fariam com que esses
seres erectus aprendessem com seus erros. Seriam burros propositadamente, pois só assim poderiam acertar, pensar, estudar e amar. Esses seres imbecis andariam em duas pernas e seriam capazes de amar uns aos outros e
assim fazer um mundo pensante.
Toda essa ideia veio de uma bobagem que Ele viu no universo
paralelo – sua referência (afinal, todos precisamos de uma) . Por
não existir quase nada naquela época, alguns poucos alienígenas – que até hoje Ele
não sabe quem os criou ou de onde vieram – faziam testes em um universo paralelo. Os testes eram
tão bem montados, que viravam desfiles para toda a galáxia, com histórias,
personagens bizarros e dança.
Agora havia chegado a hora de colocar a mão na massa.
Arregaçar as mangas e só parar quando o produto final estivesse pronto. Para
isso, decidiu que precisava de algum estimulante. Sabia que Se cansaria em algum
momento, caso não tivesse alguma coisa que desse vigor, energia. Lembrou de uma de
suas experiências: um grão escuro criado a partir de um composto estranho (já não lembrava mais).
Decidiu moer os poucos exemplares que ainda tinha e colocar água quente. Um líquido
forte, cheiroso, amargo e negro apareceu ao fundo. Experimentou e achou divino.
Assim, antes dos 7 dias de trabalho intenso, Deus
criou o café. Afinal, mas do que ninguém, Ele precisava.