Ninguém percebe, mas todos os dias sobrevivemos.
Sobrevivemos aos acidentes (que não aconteceram). Sobrevivemos depois de
frustrações. Sobrevivemos quando falta dinheiro, lidando com traições,
ouvindo ligações tristes, sendo cobrados, deitados com gripe, constatando fatos tardios, decepcionando
e sendo decepcionados. Somos sobreviventes do nosso próprio dia a dia. Pequenos
náufragos de uma ilha interna, habitada por um povo estranho, chamado de neurônios.
Mas somos também vitoriosos. Todos os dias alguma coisa
(mesmo que seja ridícula) faz com que a gente sinta orgulho de ser quem é. Só que, sobrevivendo aos problemas, nem reparamos nessas pequenas
glórias. Tudo passa desapercebido.
Uma das personagens de Clarice Lispector diz que a cada
dia temos pequenas vitórias e grandes quedas. É preciso ficar alerta. Olhar pra dentro é analisar suas perdas e também seu
aprendizado. Mas, muito mais do que isso, é pensar nos seus ganhos.
Comemorar
sozinho e internamente (que seja) uma pequena felicidade do dia, um
crescimento, uma palavra certa (dita ou lida), uma música, uma atitude...
é fazer valer o que é bom.
Rir
para o espelho, rir para dentro ou simplesmente rir sozinho deitado no sofá pode ser mais gostoso do que assistir um filme bobo – mesmo quando é segunda-feira, chove e faz frio.